Nem só de orçamento japonês viveram as seções de Economia neste Natal. A aprovação de um orçamento de 92,3 trilhões de ienes, algo equivalente a 1 trilhão de dólares, foi um presente do céu para quem fez plantão nas editorias de Economia, no dia 25/12, mas os jornais, apesar do feriadão internacional, lograram oferecer algum material interessante nas edições de sábado (26/12). O Globo conseguiu até uma primeira página condimentada, com uma boa matéria na fronteira do noticiário econômico e do político.
‘Executivo e Judiciário fecham ano com 31 mil novos cargos’, noticiou o Globo em manchete. Os novos funcionários custarão 8,4 bilhões de reais anuais, segundo o jornal. Os postos foram criados de forma parcelada, por meio de 35 leis aprovadas e sancionadas em 2009. Provavelmente por isso o aumento dos quadros passou meio despercebido durante o ano. Para 2010, lembrou o jornal, está autorizada no orçamento a criação de 76,9 mil cargos, com preenchimento de até 56,8 mil.
Na mesma edição, e também no primeiro caderno, o Globo publicou uma entrevista de meia página com o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) sobre a expansão das despesas públicas. Poucos deputados, segundo o jornal, votam sistematicamente contra a criação de cargos e Madeira é um deles. Ponto central da entrevista: há, segundo o entrevistado, ‘uma coligação para o gasto’ e a oposição, intimidada, é incapaz de reagir.
Último ano
Quem se interessa pelo tema foi beneficiado por uma coincidência. Também no sábado (26), a Folha de S.Paulo publicou no caderno Brasil uma boa matéria sobre os cargos de confiança no governo de Brasília. Segundo a reportagem, o Distrito Federal emprega mais comissionados sem concurso do que a União – 8.660 contra 5.560. A história é um desdobramento da cobertura sobre os escândalos do governo de José Roberto Arruda, o homem dos panetones.
O pessoal da Folha ainda conseguiu ir além da cobertura imediata do Natal – movimento do comércio e coisas do tipo – com uma matéria sobre a provável expansão do emprego em 2010. Vários analistas foram ouvidos e a estimativa é de abertura de uns 2 milhões de postos de trabalho formais, graças, principalmente, ao dinamismo do mercado interno. A maior parte dos empregos, segundo a matéria, será no setor de serviços. Esta é a parte menos otimista da projeção, porque o setor de serviços, no Brasil, em geral cria empregos de qualidade inferior aos do setor industrial.
A semana de Natal foi marcada por vários fatos econômicos relevantes e isso garantiu alguma animação aos cadernos de Economia. O evento mais importante para o Brasil foi a aprovação do Orçamento Geral da União, na terça-feira (22/12) à noite. O assunto só foi liquidado por volta de 23h30 e houve mudanças negociadas na última hora. Por isso os jornais publicaram no dia seguinte um material limitado.
A Folha de S.Paulo ainda conseguiu dar manchete: ‘PAC terá mais R$ 7 bi no ano eleitoral’. Mas todos poderiam ter preparado uma informação mais ampla e redonda para a edição de quinta-feira (24), com tabelas e quadros explicativos dos principais números e algum material analítico. Valeria a pena repetir parte das informações divulgadas nos meses anteriores, para compor um material bem claro. Nenhum grande jornal tratou do assunto com tanto cuidado. Uma pena, especialmente por se tratar do orçamento do último ano do atual governo e, além disso, do primeiro orçamento pós-crise.
Material precioso
Em contrapartida, gastou-se muito espaço – bem mais que o razoável – com analistas empenhados em adivinhar quando os juros voltarão a subir. As bolas de cristal foram ativadas logo depois de conhecido o Relatório de Inflação do Banco Central (BC), divulgado na terça-feira (22/12) de manhã. Esse relatório, uma publicação trimestral, é o mais amplo retrato da economia brasileira preparado regularmente por um órgão federal.
Apesar de seu nome, a análise do quadro da inflação é apenas um dos tópicos ali discutidos. O documento apresenta informações e projeções sobre o nível de atividade em cada setor, a situação do emprego, as políticas monetária e fiscal, a evolução e as perspectivas do balanço de pagamentos e o cenário internacional.
É um material precioso, mas o tique do jornalismo financeirizado (homessa!) acaba prevalecendo – e o grande mural da economia brasileira reduzido a um quadro de proporções modestas.
Certos tiques parecem invencíveis.
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Jornalista