Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A guilhotina emperrada

Uma semana depois, mantêm-se os equívocos, despistamentos e imprecisões em torno da Operação Guilhotina que cortou a cabeça da banda podre da Polícia Civil do Rio. Em parte porque os órgãos de segurança não estão interessados em revelar tudo o que efetivamente aconteceu e, em parte, porque nossa imprensa continua dependente de declarações ou informes oficiais.


O indiciamento pela Polícia Federal do ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski, por ‘violação de sigilo funcional’, foi interpretado na quinta-feira (17/2) à noite pelos portais e telejornais como punição por ter vazado informações sobre a Operação Guilhotina deflagrada na sexta-feira passada (11).


É possível que isso também tenha ocorrido, mas a sorte da cúpula da Polícia Civil já estava decidida no final de novembro do ano passado, quando uma fonte alertou o Observatório da Imprensa para o malogro do monitoramento dos negócios dos chefões do narcotráfico chantageados pelos policiais que deveriam prendê-los.


A informação foi categórica: ‘Vai cair todo o mundo, talvez só escape o Allan’.


Direito de saber


O briefing sigiloso levou este Observatório a tentar despertar a imprensa da euforia bélica com o sucesso da reconquista da Vila Cruzeiro e do Morro do Alemão (ver ‘A empáfia cega a mídia‘ e ‘Os poderosos chefões‘). Àquela altura, há dois meses, estava evidente que o interesse público fora traído por aqueles que deveriam protegê-lo.


É possível entender a cautela das autoridades em chamar a atenção para o sofisticado sistema de investigações sobre lavagem de dinheiro. Mas não cabe à imprensa colocar-se no papel de autoridade selecionando o que pode e não pode ser levado ao conhecimento público. Ou, o que é pior, oferecendo falsas pistas.


A história da força tarefa que operava no LAB-LD (Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro) precisa ser contada, o Valor Econômico teve acesso parcial a ela (ver ‘Software acha ‘máquinas’ de lavar dinheiro‘). Agora o cidadão tem o direito de conhecê-la em detalhes.


Se no fim de novembro já se sabia que o então chefe da Polícia Civil Allan Turnowski poderia ser degolado, não faz sentido incriminá-lo por uma guilhotina que começou a funcionar há uma semana.