Por que razão a mídia, tão parcimoniosa e contida na rememoração dos 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial, agora está tão exuberante ao lembrar os 20 anos da queda do Muro de Berlim?
Pode-se alegar que a reunificação da Alemanha foi um fato mais recente e ainda está presente na memória do público. Também é possível alegar o contrário: se o início da Segunda Guerra aconteceu há sete décadas e está quase esquecido não seria mais correto desencavar o passado remoto?
Uma coisa é inquestionável: as duas efemérides, embora separadas por meio século, fazem parte de um mesmo processo. O Muro de Berlim foi a derradeira trincheira da Segunda Guerra Mundial: a Guerra Fria começou enquanto ainda fumegavam os escombros da capital alemã e continuou por outros meios.
Função didática
A evidente desigualdade da cobertura dos dois episódios está sendo produzida por uma avaliação simplista: como Hitler e Mussolini, definitivamente enterrados, já não representariam ameaças; e o desabamento da Cortina de Ferro deixou soltos alguns fantasmas do totalitarismo de esquerda.
Ledo engano: Mussolini morreu mas o seu fascismo não foi erradicado. Está presente em vários continentes, inclusive na América Latina, mascarado com as mesmas tinturas socialistas que Il Duce utilizou no início da sua escalada política. Hitler já não existe, mas há um neonazismo em outros quadrantes do mundo.
Ao invés de fragmentar os acontecimentos para deles tirar proveitos parciais, a mídia deveria ser fiel à sua função didática e social oferecendo uma visão integrada dos fatos. É preciso não esquecer que a euforia com a débâcle do Império Soviético, logo depois da derrubada do Muro, iniciou uma delirante sucessão de asneiras como a idéia do ‘fim da História’. E a História está aí, repleta de surpresas.