Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A imprensa na montanha-russa

As revistas semanais de informação chegam ao primeiro mês da cobertura da crise financeira em ritmo de montanha-russa. Das primeiras edições, que deitavam regras sobre como vencer as turbulências, o leitor foi conduzido a momentos de pânico e novas soluções milagrosas, até o ponto em que as capas trazem simplesmente pontos de interrogação.


A constatação a que se pode chegar, neste momento da história, é que ninguém sabe sequer o tamanho do problema, e toda solução anunciada depende basicamente do grau de otimismo ou pessimismo de quem edita a notícia. É nesse processo ciclotímico que se apresenta o noticiário de segunda-feira (13/10) sobre as medidas propostas pelos bancos centrais europeus.


O Estado de S.Paulo e o Globo enxergam nas medidas um plano promissor para socorrer os bancos e evitar o colapso do sistema financeiro. A Folha de S.Paulo vê no pacote de refinanciamento e compra de ações um processo de estatização dos bancos.


Exemplo eloqüente


Se os jornais não se entendem na denominação do que representa a intervenção estatal na economia privada, pouco podem fazer pelo leitor na tarefa de compreender a extensão da crise e fazer escolhas para defender seu patrimônio.


Entre as notícias reproduzidas das agências internacionais e enviadas por seus correspondentes, a melhor história que a imprensa oferece nas edições de segunda-feira foi colhida pela Folha nas ruas de São Paulo.


Trata-se do catador de latinhas Enildo Paulino, que acompanha as oscilações do dólar pelo telefone celular. Com base nas informações que recebe, ele negocia com os intermediários o preço do material que recolhe no lixo da cidade. Para melhorar o rendimento do seu trabalho, o reciclador criou uma base de dados de compradores e telefona diariamente a eles para descobrir as melhores ofertas. Ele também lê os jornais que recolhe pelas ruas e acompanha o desempenho do alumínio na oscilação dos preços de commodities.


Enildo Paulino é um dos raros elementos reais no noticiário sobre a crise financeira. E também um exemplo de que o noticiário econômico não interessa apenas a quem investe na bolsa de valores.