Não bastasse a crise interna da mídia quanto aos rumos que o setor deve tomar, hoje a imprensa é vista com descrédito, por muitos, como um negócio considerado de risco para investimentos e ainda acompanhado com ressalvas por parte do público.
A imprensa não apenas traz a notícia. Ela também é notícia. A mídia está no banco dos réus frente a uma sociedade polarizada. E não há muito que fazer. Parte se deve aos alunos formados e inseridos no mercado de trabalho como pães de forma – saem iguais e em série, ainda com formação calcada em modelos de outrora. Uma parte da categoria, porém, se rende a uma ansiedade por não apenas reportar, mas também analisar, avaliar e opinar.
O quadro é ruim. As poucas vagas de emprego que existiam na área se tornam quase inexistentes, a ponto de notícias de demissões nas redações já nem surpreenderem mais. O tempo necessário para reformulações também se torna artigo de luxo diante de uma demanda crescente na política brasileira. A função de reportar briga em muitos casos com interesses de alguns, em detrimento da necessidade de muitos em estarem informados.
Entre apontar erros na imprensa, ou entre legendas, antes quero lançar luz à polarização. Se o país está dividido, como alguns apregoam, ou ainda que não esteja, fica difícil encontrar saída se existir apenas uma linha de raciocínio que beira a lógica dos ‘8 ou 80’.
Mais matérias e menos colunas
Pensar, discutir, postar e dialogar de forma polarizada, ou entre dois extremos, é estar sempre condenado por alguém. É inocência acreditar que trazer qualquer dado não atingirá alguma parte. E, ao atingir, desperta reações.
Hoje se questiona tudo, juiz, Ministério Público, polícia, imprensa, sindicatos, ONG’s, líderes de qualquer setor, entre outros. Isso é válido. Mas, desde que as perguntas sejam realmente fruto de questionamentos que precisem de respostas. Ou seja, perguntar a partir de um compromisso com algo, ou alguém, e que não seja reflexo de dúvida, é se indispor com a verdade caso se contrariem as expectativas.
Vivemos dias em que o discernimento é pautado por aquilo que traz contentamento. Antes, os mais ortodoxos comentavam o dito popular de que “a verdade dói”. Já o politicamente correto sugere que não se entre em questões delicadas, ou que possam propiciar um embate com alguém. Assim, ou se opta por futilidades, ou acaba-se tomando partido.
Há profissionais que ainda surpreendem por se manterem na labuta e ofício antigo de reportar, independentemente de paixões pessoais. Destaco Ricardo Kotscho e Ricardo Boechat, que não deixaram que suas pré-disposições para algum dos polos sobressaíssem no trabalho do jornalista. Já outros, de igual tarimba e reconhecimento, sucumbem a uma disputa próxima a um Fla-Flu. Preferem não dar o braço a torcer e manter um discurso de donos da verdade.
O irônico é que, em tempos de redes sociais, as opiniões (como esta) proliferam. Será que não deveríamos chamar a atenção para a necessidade de mais reportagens e menos artigos, mais matérias e menos colunas? Em dias de vírgulas, é raro chegar a um ponto final.
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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista