Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A imprensa numa fria

A imprensa brasileira embarcou alegremente na excursão do presidente da República à Antártida. Os primeiros relatos são aquele mesmo festival de declarações que nada dizem, como é do estilo e gosto do presidente.


A impressão que se passa ao leitor é de que o contato entre Lula e os jornalistas é feito de longe, aos gritos, na imensidão da geleira. Parece que os repórteres simplesmente anotam as declarações do presidente, que soam para o público como frases desconexas.


Se de fato os jornalistas não têm a oportunidade de questionar o presidente sobre os temas que mais interessam aos cidadãos, é de se perguntar que diabos estão fazendo naquele lugar gelado. Se foi para fazer jornalismo, o resultado deixa muito a desejar. Se foi para fazer turismo, os cadernos especializados têm apresentado coisa muito melhor.


Melhor aqui


Se de fato estivessem preocupados em aproveitar todo contato com o chefe do Executivo para manter a população informada sobre estratégias de governo e oferecer respostas para questionamentos que intrigam o cidadão, os jornais deveriam exigir, como condição para aceitar o convite, que os assessores de Lula garantissem pelo menos uma ou duas entrevistas formais durante a viagem.


Poderiam ameaçar com um boicote caso o presidente insistisse nessa relação de mão única: ele fala, os jornalistas anotam e publicam.


Declarações unilaterais do principal mandatário da nação não oferecem resposta para os problemas que se acumulam em função do estilo lulista de governar. Até mesmo seu aliado José Sarney, cuja biografia não oferece exatamente uma plataforma de boa reputação, ganha espaço na imprensa para criticar a omissão do presidente diante da necessidade da reforma política. E os jornalistas que passeiam na Antártida não têm a oportunidade – ou, se têm, não a aproveitam – para questionar o chefe do Executivo.


Para fazer o que fazem um gravador digital e um bom programa de reconhecimento de voz, melhor ficar no Brasil, que é mais quentinho.

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Jornalista