Este vem sendo um período favorável para os tablóides nova-iorquinos, com três escândalos sexuais vindo à tona – um deles culminando com a renúncia do governador Eliot Spitzer. Na semana passada, o New York Post estampou a manchete ‘Garota má’ e a foto da prostituta que teria saído com Spitzer cobrindo os seios com as mãos. No dia seguinte, o tablóide deu destaque à alegação de Teddy Pedersen, motorista do ex-governador gay de Nova Jersey James McGreevey, de que teria tido encontros sexuais a três com McGreevey e sua ex-mulher, Dina Matos.
O Daily News não ficou atrás e, horas após David A. Paterson ter substituído Spitzer no governo de Nova York, estampou detalhes da confissão publica do novo governador, de que teria tido relacionamentos extraconjugais. Na mesma semana, o diário publicou uma nova matéria afirmando que, dentre as amantes de Paterson, uma seria funcionária do estado de Nova York.
Diante das revelações sexuais envolvendo três importantes políticos americanos, o New York Times foi extremamente cauteloso ao longo das últimas duas semanas. O jornalão foi responsável pelo furo sobre o envolvimento de Spitzer com uma rede de prostituição; foi discreto em tratar da declaração de Paterson; e ignorou a acusação envolvendo McGreevey, por ele não ser mais governador e por estar em meio a um divórcio conturbado. O ombudsman Clark Hoyt afirmou em sua coluna de domingo [23/3/08] que o NYTimes agiu de maneira prudente; há um mês, o jornal havia publicado acusações, sem provas, de um romance extraconjugal do pré-candidato presidencial John McCain com uma lobista, o que lhe rendeu críticas.
Lição aprendida
Há duas semanas, em um domingo, o NYTimes pediu à equipe de Spitzer registros de uma viagem feita por ele entre os dias 11 e 15/2. Neste momento, o governador soube que estava em maus lençóis, pois neste período esteve em companhia de uma prostituta chamada Kristen, no hotel Mayflower, em Washington. Na tarde do dia seguinte, a chamada ‘Spitzer envolvido em rede de prostituição’ ganhou destaque no sítio do jornal. O NYTimes esperava com isso que o governador se pronunciasse rapidamente sobre o caso. De fato, Spitzer foi a público pedir desculpas aos eleitores e a sua família duas horas após a divulgação do escândalo. Dois dias depois, ele renunciou.
Alguns leitores reclamaram que a pauta desviava a atenção de notícias mais importantes, como a guerra no Iraque e a crise na economia. Hoyt discorda e alega que, na capa em que o jornal trazia o artigo sobre Spitzer, havia também matérias sobre uma explosão que matou cinco soldados americanos no Iraque e sobre os problemas da economia. Alguns internautas reclamaram da chamada no sítio do diário, que não explicitava qual era a relação do então governador com a rede de prostituição.
Os editores do Times afirmam que o primeiro artigo sobre o caso refletiu o que podia ser confirmado na época: Spitzer havia informado a sua equipe que estava envolvido em uma rede de prostituição. Após ele ter se pronunciado publicamente, o diário divulgou novas informações e revelou que ele havia sido flagrado, em uma investigação federal sobre prostituição, contratando os serviços de uma garota de programa. No dia seguinte, a matéria na versão impressa era muito mais clara: ‘Spitzer, envolvido em uma rede de prostituição como cliente, pede desculpas’.
Tragédia grega
Diversos leitores escreveram ao ombudsman, curiosos para saber como o NYTimes chegou às informações sobre o caso. O diário, porém, tem o direito de não revelar suas fontes – e assim o fez. Outros leitores reclamaram de uma reportagem que trazia informações e fotos da prostituta Kristen – identificada como Ashley Alexandra Dupre. Jodi Rudoren, que editou o artigo, diz, no entanto, que Kristen era uma personagem central na história e havia um interesse legítimo em saber mais sobre ela.
Hoyt vai além e diz que o caso apresentou todos os elementos de uma tragédia grega: um governador de 48 anos, rico, casado e bem sucedido arruína tudo por sexo pago com uma jovem de 22 anos que diz ter sido abusada sexualmente quando adolescente, foi para Nova York com o sonho de se tornar cantora, envolveu-se com drogas, ficou sem teto e acabou indo parar na prostituição para pagar as contas. Isto pode até ter cara de revista de fofocas, brinca o ombudsman, ‘mas é também Eurípides’.