Haverá hoje quem não perceba que a mídia tem parte com o demônio do capitalismo transnacional? Nem mesmo as sugestões de colocar as TVs Câmara e Senado em canal aberto funcionaram. Há, apenas, a esmola do café da manhã com o presidente.
A nossa mídia, mais o marketing – onde se insulta a pobreza ostentando diante dela um mundo colorido de sonhos, o cântico da sereia que desestabiliza do estrangeiro os socialismos em um só país –, é certamente muito mais cúmplice das corporações capitalistas do que dos anseios populares.
Mas tal compromisso é muito malévolo. A ‘mídia’, enquanto global, insinua-se em espaços nacionais – nos quais vigoram os poderes constitucionais, e só eles – para desempenhar o papel de um quarto poder de natureza híbrida, portanto meio-Brasil, meio-corporações transnacionais.
E, como um lobo vestido de cordeiro, ela seduz a todos com seus apelos impondo ao povo a sua opinião. Quando ameaçada pela alternativa socialista, em certos momentos decisivos da história, ela como que ganha corpo e, como um tsunami, varre do coração do povo as suas maiores e melhores esperanças.
Diante da quimera
Ora, não cabe ao socialista, sempre moralmente um vitorioso, dedicar-se ao que não seja ciência. E encarar com frieza a realidade dos fatos. Mas, como saber deles? Pela ‘mídia’? Sabendo-a suspeita, mas difundida pelo lado ‘inimigo’ – e para a maioria – ele procura interpretar a notícia, ler as entrelinhas do jornais, ‘adivinhar’ a verdade que se lhe nega e que teria o direito de conhecer. Pensa: ‘Todos estão lendo isso ou aquilo.’
Há uma ‘mídia’ formal e, outra, de conteúdo; uma ‘mídia’ privada e, outra, pública. Mas, observem: o que é privado não se aproxima mais do formal? E, nos momentos decisivos da história, não é o formal que passa a conteúdo, que coincide com ele?
No momento, diante dessa… quimera, eu me pergunto sobre a compra de votos no país. Se ela houve na reeleição de FHC… Se ela, em sendo apurada entre alguns petistas, é apanágio de um partido cuja tradição é a honestidade e o idealismo… Se os partidos ricos, cujas CPIs sempre dão em ‘pizza’, não têm este – e muitos outros! – mecanismos enxovalhantes de qualquer democracia… O próprio presidente dos EUA foi mesmo eleito em seu primeiro mandato?
Crises exportadas
O problema do PT, hoje lançado à arena das CPIs, sob o olhar zombeteito dos modernos césares, tem um ‘pecado’: o escrúpulo. E enfrenta nessa desvantagem um adversário muito cínico. Mas, é claro, se há os que compram e sempre compraram votos, um erro não justifica outro. Apuremos tudo. Voltemos às velhas CPIs. E transformemos o golpe branco numa revolução ética.
Porque a corrupção, ao apontar a si mesma para destruir a honra de um partido, quer nivelar por baixo todo o parlamento – e sempre chegaria o dia da depuração. De fato, só com o PT ela pode dar a largada. O PT tem escrúpulos.
É com felicidade que percebo que a internet, a despeito da grande exclusão digital, como a TV aberta e o rádio, pode amadurecer a ‘mídia’ no caminho do interesse social. Ela é um problema de direito internacional. E da educação de nossos jovens. Não queremos que se tornem como a maioria dos americanos, que mal percebem estar o sucesso de seu regime liberal econômico profundamente casado à miséria do resto mundo, para onde são ‘exportadas’ as crises de super-produção de suas corporações.
Não será assim?
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Médico, Rio de Janeiro