Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A revista Veja deve explicações

‘Quando o jornalista não tem fatos, deve apelar para a criatividade.’ A frase circula há décadas pelas redações da imprensa brasileira. Normalmente, é dita em tom de piada. Mas muita gente entende como conselho. Em algumas publicações, tornou-se uma regra.

Atenção, cidadãos e cidadãs do Brasil! Quando a imprensa apela para caricaturas, adjetivos, insinuações e ofensas é porque está faltando a matéria-prima do jornalismo. O abuso da criatividade decorre do naufrágio das apurações dirigidas. Surge como tábua de salvação, após o esforço fracassado para sustentar as teses de campanhas difamatórias.

Ícone da imprensa panfletária, a revista Veja tem revelado a cada edição a vocação para a literatura ficcional de gosto duvidoso. Oscilando entre a histeria e a infantilidade, a publicação vem cumprindo o papel de porta-voz da reação oposicionista. Cada vez mais engajada na tentativa de derrubar o governo Lula, a revista reforça a velha parceria com tucanos e pefelistas.

Boato no mercado

Em sua mais recente edição, a revista volta a me atacar de forma leviana, capenga e pusilânime. Desperdiça páginas e páginas com frases insólitas, mentiras e informações distorcidas, para me caracterizar como culpado de qualquer coisa que justifique minha cassação. Não há um fato concreto, incontestável que possa me incriminar. Por isso, apelam para a zombaria, rodeando suposições tão velhas quanto infundadas.

O caso Roberto Marques está suficientemente explicado. Não existe contradição alguma. A CPI não aceita o documento como autêntico, pois não segue o padrão das autorizações de saques. Nenhum Roberto Marques sacou esse dinheiro. Ninguém afirma que a pessoa mencionada seja o Roberto Marques que conheço.

A revista mente e distorce declarações na tentativa de me envolver com o sócio de uma corretora de valores. Não conheço nenhum Enivaldo Quadrado nem tive negócios com a corretora Bônus-Banval, e ele já confirmou isso. Toninho Barcelona não disse que Quadrado se tornou meu amigo. Disse que corria esse boato no mercado. O que nenhuma outra pessoa confirmou.

Ouviram, não confirmam

Todas as pessoas mencionadas no caso Ângela Saragoça afirmam que eu não tive qualquer participação, tanto na contratação de minha ex-esposa, quanto no empréstimo que ela obteve para financiar parte de um imóvel. Se os depoimentos prestados por Roberto Tolentino e Ivan Guimarães se contradizem, eles é que precisam se explicar. Se houve tentativa de aliciamento, foi completamente ineficaz e inócua, pois jamais permitiria qualquer benefício da administração pública a pessoas que prestassem favores para familiares ou pessoas próximas a mim.

Não houve qualquer facilitação de acesso ao meu gabinete na Casa Civil por nenhum lobista. Nunca tive contato direto com o Marcos Valério, a não ser cumprimentos rápidos em ocasiões sociais. Embora os registros da Casa Civil indiquem que ele acompanhou audiências com a direção de algumas empresas para as quais prestava serviços, esses encontros foram solicitados pelas empresas e atendidos em consideração a elas, que não receberam nenhum tratamento especial ou qualquer benefício da Casa Civil nem do governo.

Fora a palavra do ex-deputado Roberto Jefferson, não há um único depoimento de alguém que tenha ouvido de mim qualquer referência ao conhecimento ou participação em atos ilícitos. Todos depoimentos mencionados pela revista são de pessoas que ouviram de outras pessoas tal referência. No entanto, essas pessoas não confirmam tais conversas.

Mentiras e desaforos

No caso Gtech, o procurador-geral do Tribunal de Contas da União, Lucas Furtado, mostrou que o prejuízo de mais de R$ 400 milhões ao Tesouro Nacional foi causado no governo anterior, por um contrato que deixou a Caixa Econômica Federal refém de uma empresa, apesar dos esforços para se livrar dela. Ele ressaltou que decisões judiciais impediram o rompimento do contrato e que, se o governo do PT não tivesse renovado o contrato em 2003, todo o sistema de loterias do País poderia ser paralisado. Isso Veja não contou aos seus leitores. Por que será?

Na eleição de 1994, Veja ajudou a dupla Fernando Henrique-Marco Maciel, cedendo seu cadastro de assinantes para uso da campanha dos candidatos anti-Lula. Será que essa contribuição foi contabilizada? Os leitores da revista foram informados? Os impostos foram pagos? A revista recebeu algo em troca do governo eleito? A publicidade oficial na revista aumentou? Quem intermediava os interesses da revista junto ao governo anterior? Quais outros benefícios foram obtidos junto ao governo tucano? Houve tráfico de influência? A revista continua contribuindo ‘informalmente’ com o mesmo grupo político?

Os partidos que fazem oposição ao governo Lula estão empenhados na minha cassação. Embora seja uma afronta aos direitos civis condenar alguém sem a caracterização incontestável de sua culpa, a tentativa de neutralizar os adversários mais operativos faz parte da luta política. Também faz parte da luta política um veículo de comunicação optar por um dos lados em disputa. O que não combina com a democracia é uma revista enganar seus leitores com mentiras e desaforos que provocam danos morais irreparáveis à imagem de pessoas honradas. Isso é um crime que exigirá a devida reparação pela Justiça brasileira.

Veja ainda terá de se explicar à sociedade.

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Deputado federal (PT-SP)