A mídia brasileira deu pouco destaque ao pedido de desculpas apresentado pelo presidente mundial da Toyota, Akio Toyoda, na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos na semana passada. A imprensa americana, embora muito mais atenta e afirmativa, não levou adiante algumas questões fundamentais mencionadas pelo neto do fundador da multinacional.
Encurralado pelos representantes do Partido Democrata, Toyoda admitiu que a montadora detectara mais de um ano antes os defeitos nos pedais dos freios dos carros fabricados na Europa e não avisou as subsidiárias de outros continentes. Confessou alto e bom som que a companhia apostou todas as fichas na quantidade e descurou da segurança de seus produtos e também reconheceu que a Toyota preferiu pequenos recalls e assim evitar maior fiscalização dos órgãos governamentais.
No momento em que o mundo discute a necessidade de Estados fortes para enfrentar calamidades e débâcles, a mídia americana, assim como todas as que nela se inspiram cegamente, desperdiça um episódio revelador que confirma a necessidade de um Estado fiscalizador para coibir os desmandos e desvarios da iniciativa privada.
O queridinho em baixa
O caso Toyota é duplamente paradigmático: mostrou – como já foi dito mais de uma vez neste Observatório – que a imprensa especializada em automóveis está a serviço da indústria, não do consumidor; e mostrou também que a cobertura do mundo de negócios está comprometida pelos preconceitos da mídia contra a presença do Estado.
Em ambos os casos, a mídia serve aos próprios interesses como indústria, esquecida do seu papel institucional, cívico, em defesa da sociedade.
Explica-se assim por que, de repente, Barack Obama deixou de ser o queridinho da mídia: está apertando o mercado financeiro e insiste num Estado mais presente no sistema de saúde.