Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A SIP discute o futuro

A Sociedade Interamericana de Imprensa deu início na sexta-feira (12/10) à sua 68ª Assembleia Geral, que deve se encerrar na terça-feira, dia 16, num hotel da região central de São Paulo. O futuro do jornalismo é outra vez o tema central do encontro, que reúne cerca de 450 jornalistas, donos e dirigentes de empresas de comunicação do continente.

Os grandes jornais destacaram equipes reforçadas para cobrir todas as palestras e debates, que têm entre os principais convidados o presidente do New York Times, Arthur Sulzberger Jr., e o presidente do grupo Prisa, que edita o jornal El País na Espanha, Juan Luís Cebrián.

Como é tradição nos encontros da SIP, o eixo central é o estado geral da liberdade de imprensa nas Américas, mas o noticiário que antecipa as palestras tem como destaque o desafio da adaptação das empresas jornalísticas tradicionais às tecnologias digitais de comunicação e informação, principalmente com o advento da edição em multiplataformas e, claro, a migração do modelo de negócio baseado em assinaturas e publicidade para o da venda de informação pela internet.

Mais uma vez, como ocorre há quase duas décadas, os próceres da imprensa no continente discutem o que fazer diante do futuro ameaçado pelo avanço da tecnologia.

Acontece que o futuro já chegou.

As ameaças à liberdade de imprensa, questão preferida dos dirigentes da SIP, aparecem neste ano como fantasmagorias isoladas principalmente em Cuba, uma espécie de carma espiritual das empresas jornalísticas, e Venezuela, onde foi detido nesta semana o jornalista argentino Jorge Lanata, que fazia comentários sobre as eleições venezuelanas para o Clarín de Buenos Aires.

Embora ainda se repitam os discursos sobre legislações restritivas ao jornalismo em países como Equador, Venezuela, Bolívia e Argentina, a questão das ameaças à segurança pessoal de jornalistas se desloca para a atuação do crime organizado.

No material oficial divulgado pela organização não havia referência, porém, ao caso do repórter da Folha de S. Paulo André Caramante, que está sob regime de proteção especial depois de haver sofrido ameaças por parte do coronel reformado da PM Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada.

Mortes e impunidade

O coronel Lucinda Telhada comandou as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar num dos períodos mais violentos da corporação. Foi para a reserva em novembro do ano passado arrastando em seu currículo 29 processos por homicídio, e se dedica deste então a incentivar a violência policial através das redes sociais digitais.

As ameaças que fizeram a Folha tirar de circulação o repórter Caramante foram produzidas por seguidores do militar e se tornaram tão concretas que o jornal cogitou a hipótese de colocá-lo sob o regime de proteção de testemunhas. No entanto, o caso parece não ter destaque na agenda da SIP.

O coronel Paulo Lucinda Telhada foi eleito vereador pelo PSDB no domingo (7/10), com 89 mil votos.

O que se pode esperar, então, de mais uma assembleia da SIP, é mais um documento condenando genericamente as ameaças à liberdade de imprensa e exigindo dos governos a investigação de todos os crimes cometidos contra jornalistas. Esse é, rigorosamente, o mesmo teor das conclusões das assembleias anteriores, conforme se pode verificar no site da entidade, que repetem como um mantra a urgência de se acabar com a impunidade dos assassinatos de jornalistas.

Na reunião de 2002, por exemplo, foram relatados os casos do repórter Tim Lopes, morto por traficantes no Rio de Janeiro, e o do dono do jornal Folha do Estado, de Cuiabá (MT), Sávio Brandão, assassinado com oito tiros.

O caso de Tim Lopes, que trabalhava na TV Globo, foi rapidamentesolucionado, mas o suposto mandante do assassinato de Sávio Brandão, João Arcanjo Ribeiro, explorador de jogos clandestinos no Centro-Oeste, até agora não foi julgado.

O outro tema importante da SIP, a questão da baixa receita produzida pelas edições digitais, também não promete grandes avanços. O modelo do New York Times, que Sulzberger Jr. deverá apresentar, ainda é considerado controverso em muitas empresas, e a presença de Cebrián é ofuscada pela recente decisão do jornal que dirige, El País, de demitir 128 jornalistas e aposentar compulsoriamente outros 21, como parte de um plano de reestruturação.