‘A telenovela da televisão pública está apenas começando.’ Foi com esta frase que o jornal Libération terminou, na sexta-feira (11/1), o editorial assinado por Didier Pourquery sobre o principal assunto do dia: a supressão da publicidade nas televisões públicas francesas, reunidas na holding France Télévisions.
A notícia deixou os jornalistas dos vários canais públicos perplexos, apesar das explicações dadas pelo presidente para a medida, que deve entrar em vigor em 2009. A supressão da publicidade é justificada por um pacote de boas intenções: libertar os canais públicos da ditadura do ibope e, conseqüentemente, melhorar o nível dos programas. O problema é que os 800 milhões de euros que entram por ano de publicidade serão substituídos por uma nova fonte ainda por vir : um imposto sobre as TVs e sobre as teles privadas.
Há quem veja nessa medida, que reflete tão-somente a vontade do presidente Nicolas Sarkozy – o ministro da Cultura e o presidente de France Télévisions disfarçaram o fato de não terem monitorado o projeto –, um presente real feito a seu grande amigo Martin Bouygues, proprietário da maior rede privada do país, a TF1, privatizada em 1987, e que já é, por acaso, o canal de maior receita publicitária e que deverá ser o maior beneficiário de um fluxo de publicidade que tenderá a migrar para seus programas campeões de audiência.
Condição necessária
Jornalistas que trabalham nos canais públicos fizeram assembléias gerais para discutir o tema que preocupa a todos. Seria um primeiro passo para mais privatizações? A preocupação não é delírio paranóico de alguns ‘retrógrados esquerdistas’ defensores do serviço público, como poderia parecer. Principalmente quando se sabe que o presidente do partido do presidente, Patrick Devedjian, se perguntava se não haveria ‘canais demais’ públicos e defendia abertamente ‘algumas privatizações’.
O mais surpreendente de todo esse novo espetáculo do sarkoshow (a medida foi anunciada com uma mise-en-scène digna de um grande espetáculo) é que o ex-primeiro-ministro socialista Michel Rocard veio em defesa do projeto de Sarkozy. Rocard disse que a decisão é uma batalha de longa data travada por ele durante o governo Mitterrand, que preferiu não aplicar a medida que suprimiria a publicidade das emissoras públicas de TV na França. Hoje, há mais de seis canais públicos, sem contar Arte, a supercult TV pública franco-alemã, um verdadeiro oásis de bom-gosto e programas de altíssimo nível num panorama audiovisual que prima pela corrida para conquistar audiência a qualquer custo.
‘Depois de termos consultado os sindicatos e as associações de pais de alunos, recomendaremos também a supressão da publicidade no serviço público, pois essa é uma condição necessária para a revalorização das missões de educação e de informação que são próprias desse serviço’, declarou Rocard ao jornal Le Monde. O ex-primeiro-ministro é membro da comissão designada pelo governo para estudar a evolução do trabalho dos professores e da educação pública como um todo na França.
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Jornalista