Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A vigilância que faltou à imprensa

A culpa é da imprensa. Outra vez o velho refrão. Agora são os congressistas reclamando contra a pressão exercida principalmente pelos grandes jornais, a propósito da farra das passagens aéreas.


Pergunta-se: onde é que são divulgadas estas reclamações contra a imprensa? Na imprensa, evidentemente.


A imprensa é o espelho da sociedade, as coisas acontecem na imprensa, ela existe para isso. Mas é preciso lembrar que os responsáveis pela onda de denúncias foram os próprios parlamentares que usam a imprensa para atender os seus interesses.


Primeiro foi o grupo do senador acreano Tião Viana que perdeu a disputa pela presidência da Câmara Alta e vazou para a imprensa informações que comprometiam o vitorioso, José Sarney. Os sarneysistas responderam revelando a história do telefone do senador Viana emprestado à sua filha numa viagem particular ao México.


Então, apareceu um excelente site de monitoração legislativa, Congresso em Foco, que começou esmiuçar as incríveis histórias das passagens aéreas, sobretudo ao exterior – quase duas mil viagens internacionais em dois anos, conforme revelou a edição de quinta-feira (23/4) do Globo.


Estes ataques contra a imprensa são ridículos: todas as denúncias foram comprovadas, nada é inventado. Aqueles que não se beneficiaram deveriam ser os primeiros a exigir mais compostura dos seus pares em vez de reclamar contra jornais e jornalistas.


A verdade é que a imprensa tem culpa, tem uma enorme culpa – deveria ter começado esta vigilância há muitos anos. Só assim teríamos evitado o atual vexame.