Havia a expectativa de que quando assumisse o governo do Pará, Ana Júlia Carepa (PT) fizesse do grupo RBA seu aliado e do grupo Liberal, seu opositor. Era a dedução automática da aliança eleitoral que ela fez com o PMDB do deputado federal Jader Barbalho, dono do grupo de comunicação oposto ao da família Maiorana. Os veículos das Organizações Romulo Maiorana participaram ativamente da campanha pela eleição de Almir Gabriel, depois de terem sido os principais parceiros dos 12 anos de hegemonia tucana no estado. Fizeram tudo que podiam para evitar a vitória da candidata do PT, só tornada possível por uma manobra política de Jader, que reuniu votos suficientes para funcionar como o pêndulo da balança. Para onde ele foi, o vencedor também foi.
A prova dos noves da definição foi deixada por Simão Jatene no último dia do seu mandato. Era uma casca de banana parecida àquela que Hélio Gueiros colocou no caminho do seu sucessor na prefeitura de Belém, o também petista Edmilson Rodrigues. A princípio, Edmilson assumiu atitudes hostis para com os Maiorana e parecia que não iria pagar a dívida de Gueiros com o grupo. Mas não só se enquadrou, como foi de uma generosidade inimaginável para com os Maiorana.
Jatinho privativo
Jatene mandou o presidente da Funtelpa, Ney Messias, prorrogar por um ano o ‘convênio’ com a TV Liberal, no dia 31 de dezembro, para engolir 476 mil reais por mês do orçamento da Fundação de Telecomunicações do Pará. Se a mudança prometida por Ana Júlia fosse para valer, ela simplesmente determinaria a revogação do termo aditivo que prorrogou o tal ‘convênio’. Ao invés disso, adotou uma solução lateral, que parece enérgica, mas, na verdade, é contemporizadora: suspendeu os pagamentos, mas manteve em vigor o ‘convênio’.
De fato, a perda é significativa para o caixa da TV Liberal, mas o pior – muito pior – seria ficar sem a rede de retransmissão da Funtelpa, sem qualquer expectativa de direito (que ainda subsiste com o ‘convênio’ em curso, mesmo sem pagamentos). O desencaixe se agravaria um tanto mais com a dispensa do jatinho fretado da ORM Air. Mas depois de anúncios decididos, a governadora voltou atrás e retomou o uso do avião. Uma vez provado o gosto pela mordomia, difícil será dispensá-la. Sempre haverá motivo a apresentar para justificar recorrer ao jato privativo.
Multiplicação dos pães
Já circula em circuito fechado a informação de que outra compensação está em cogitação para a suspensão do mensalão da Funtelpa: a publicidade oficial nos veículos das ORM será à base de ‘tabela cheia’. A expressão significa que o governo pagará exatamente o valor que consta da tabela de preços do grupo Liberal, um dos mais elevados do país, dispensando os descontos, às vezes substanciais (de mais de 50%), que são concedidos aos bons clientes.
Mas por que o grupo RBA não reage à altura desse realinhamento da governadora com seus inimigos de ontem? De fato, o grupo de comunicação do deputado Jader Barbalho não tem feito qualquer matéria que indique descontentamento com Ana Júlia, muitíssimo pelo contrário: os temas incômodos são expurgados ou minimizados. Até a hostilidade aos Maiorana foi atenuada. A volta da governadora ao jatinho da ORM Air, por exemplo, passou em brancas nuvens.
Estaria Ana Júlia conseguindo agradar a gregos e troianos? Ou, melhor ainda: estaria fazendo a multiplicação dos pães, tirando-os de um armário depenado e distribuindo-os entre os convidados especiais? Para encontrar respostas, o cidadão comum tem que ir além da grande imprensa local. Exceto quando ela é obrigada a reproduzir material de agência, suas páginas voltaram a refletir integralmente a vontade do dono e não mais a realidade ao redor. Isso é bom para o poder, mas é danoso para o jornalismo e a opinião pública.
******
Jornalista, editor do Jornal Pessoal, Belém, PA