O Dia da Mentira em 1º de abril, segundo a Wikipedia, teria começado na França em 1564 como gozação aos que ainda acreditavam que o Ano Novo deveria ser comemorado no início da primavera e não em 1º de janeiro, como determinava o novo calendário gregoriano. Poisson d’avril, o peixe de abril (“peixe” no sentido de balela), foi o primeiro nome da mais divertida efeméride mundial.
Os anglo-saxões, sempre mais agressivos, preferiram designá-la como Fool’s Day, Dia dos Tolos. A versão brasileira teria começado na fleumática Minas Gerais quando, em 1º de abril de 1828, começou a circular um periódico chamado A mentira com a notícia da morte do imperador D. Pedro I, logo desmentida. O jornal acabou em 1849 com nova empulhação galhofeira: convocou os credores para um acerto de contas em praça pública – vieram todos, menos os devedores.
A tradição gozadora mantém-se principalmente na mídia, onde os veículos mais sérios permitem-se uma pausa no afã investigativo e veiculam os maiores disparates. Sempre desmentidos no dia seguinte, com a maior cara de pau.
Em 1957 a BBC divulgou a descoberta da “Árvore de Espaguete”, os italianos vibraram, sua alegria durou apenas 24 horas. Mais tarde o zeloso The Guardian inventou a descoberta de uma fantástica ilha, Sans Serrif, que, descobriu-se depois, era o nome de uma famosa família de fontes tipográficas (sem serrilhas, em vernáculo).
Dois grupos
Em 1982, muito antes de a internet adotar a brincadeira, a Veja acreditou num factoide de 1º de abril de uma revista científica inglesa e anunciou com a maior seriedade (e o endosso de cientistas nativos) a criação do “Boimate”, combinação genética do boi com tomate. Como foi uma barriga autêntica, a toda poderosa direção da revista não quis admitir o engano; só se retratou semanas depois, e mesmo assim pressionada pela direção da empresa.
A capa da edição do último domingo (1/4) da Folha de S.Paulo também entrará para a história. Não a história do Dia da Mentira, mas do Dia dos Tolos – vá lá, Dia dos Bobinhos.
Abaixo do cabeçalho, a manchete fortíssima: “1º de abril, Dia da Mentira”, o resto da página em branco e, no pé, com letras menores: “Folha. Nada além da verdade”.
Fanfarronada ou tolice? No dia das brincadeiras, o inventivo jornalão levou-se a sério. Não pegou o espírito da coisa, a empáfia nunca é bem-humorada.
E quanto custou aquela página de autoengabelação? Com a crise econômica se avizinhando, demissões pipocando, preço do papel subindo, credibilidade caindo, valeu a pena gastar a dinheirama e vestir a fantasia para mostrar que o rei está nu?
A mídia brasileira divide-se hoje em dois grandes grupos: a mídia adulta e a infanto-juvenil. Em qual grupo encaixa-se a queridíssima, inteligentíssima e ilustríssima Folha?