A imprensa esportiva faz muito barulho em torno da decisão do jogador de futebol Diego Costa, que recusou convite para jogar pela seleção brasileira e preferiu atuar pela Espanha na Copa do Mundo de 2014. O atacante de 25 anos, que vem se destacando na equipe do Atlético de Madri, nasceu na cidade de Lagarto, estado de Sergipe, mas vive na Europa desde os 17 anos, quando foi tentar a sorte numa equipe de Portugal. Passou por vários times até se destacar pelo Valladolid, da Espanha, em 2009. Ele foi contratado pelo Atlético de Madri em 2010, mas se tornou titular apenas no final da temporada de 2012, depois de passar um ano emprestado a outra equipe espanhola.
O jogador seria mais um brasileiro a tentar a sorte com o futebol em campos estrangeiros, não fosse o gol histórico que marcou no dia 28 de setembro deste ano, quando deu ao seu time a vitória contra o Real Madri, no estádio Santiago Bernabéu, quebrando um jejum de 14 anos do Atlético na casa do tradicional adversário.
Na intempestiva crônica do futebol, Diego Costa passou subitamente do anonimato para o estrelato, chegando a ser lembrado pelo técnico da seleção brasileira para dois jogos amistosos. No entanto, ele já havia se comprometido com a seleção espanhola, cujo técnico lhe garante uma vaga para a Copa do ano que vem. Sente-se grato aos espanhóis por lhe haverem dado uma carreira e uma vida.
Desencadeou-se, então, sobre o jovem, todo aquele conjunto de emoções e fanatismo que marca o futebol no Brasil. Primeiro, o técnico Luís Felipe Scolari o repreendeu publicamente, dizendo que estava virando as costas para o “sonho de milhões de brasileiros”. Depois, vem a público o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, afirmando que vai recorrer à Fifa para garantir que o atleta se apresente à seleção brasileira.
Todos esses lances são narrados pela imprensa, em papel, na televisão e no rádio e por meio dos muitos canais da internet, com uma grande profusão de análises e apaixonadas.
Nos programas esportivos do rádio e da televisão, enquetes registram as opiniões de milhares de torcedores que apoiam ou criticam a decisão do jogador. Poucos se lembram que, quando dirigiu a seleção de Portugal, Scolari teve ao seu dispor o brasileiro Anderson Luís de Souza, conhecido como Deco, que adotou a nacionalidade portuguesa.
O ganha-pão da imprensa
Em momentos como esses, jornalistas costumam citar frases do dramaturgo e cronista esportivo Nélson Rodrigues, mas está num verso do compositor Juca Chaves uma das tiradas mais emblemáticas da relação entre o esporte mais popular do país e o jornalismo: “O futebol é o ganha-pão da imprensa”, diz a canção intitulada “Caixinha, obrigado”.
Assim, a decisão pessoal de um atleta sobre seu futuro passa dos limites de sua individualidade para se transformar em questão de soberania nacional, se for levada ao pé da letra a opinião do presidente da CBF.
Diego Costa se vê obrigado a justificar sua escolha com extrema cautela, para evitar que os ânimos nacionalistas se levantem contra ele. Sem esse cuidado, poderia até correr o risco de ser hostilizado em uma próxima visita a seus familiares, em Sergipe, e alguns jornais antecipam, com base em alguma bola de cristal, que ele será vaiado pela torcida brasileira quando entrar em campo pela seleção espanhola, durante a Copa do Mundo.
Enquanto isso, continuam esquecidas as muitas denúncias contra dirigentes da CBF, inquéritos sobre desvios de recursos no programa oficial da Copa, e principalmente seguem sem solução as constantes cenas de violência entre integrantes das torcidas organizadas dos clubes, com o costumeiro protagonismo das forças policiais.
Sociólogos são convocados a emprestar alguma racionalidade ao debate sobre a decisão pessoal de um atleta sobre sua vida profissional, enquanto a violência organizada estabelece um diálogo perigoso entre as arquibancadas e as ruas conflagradas.
Os organizadores de manifestações que se seguiram aos protestos por melhores condições de transporte nas cidades brasileiras escalam entre seus temas difusos a disposição de impedir ou, pelo menos, atrapalhar a realização da Copa do Mundo no Brasil. A imprensa ainda não descobriu o potencial explosivo desse plano, que poderá transformar os espaços públicos em campos de batalha no ano que vem.