Durante o fim de semana, os principais jornais do país tiveram dois ou três bons temas para entreter seus leitores. No plano internacional, destaques para a retomada das conversações entre os Estados Unidos e o Irã e o resultado do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU, que aumentou a certeza sobre a responsabilidade do ser humano nas mudanças climáticas e consolidou os temores de um futuro mais penoso para a humanidade. Também ganhou repercussão o episódio da detenção de uma jornalista do Estado de S.Paulo, que tentou entrar em um espaço restrito da Universidade Yale, nos Estados Unidos, durante conferência fechada da qual participava o presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Joaquim Barbosa.
No meio das discussões sobre excessos da polícia americana, sutil ironia da Folha de S.Paulo, que informa também ter enviado repórter para o local, mas que, ao saber que o evento era vedado a jornalistas, resolveu se retirar.
Nas redes sociais, a costumeira radicalidade mistura condenações gerais aos Estados Unidos e críticas ao presidente do STF, que nada teve a ver com o incidente.
No cenário interno, destaque para a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na qual se constata a persistência de alguns entraves à distribuição equânime dos resultados do desenvolvimento econômico.
Os jornais fizeram uma leitura apressada dos indicadores, induzindo o leitor a concluir que as políticas oficiais de transferência de renda estão próximas do esgotamento. No entanto, quem se dedicasse a observar com mais atenção os números do IBGE do que os textos produzidos pelas redações, concluiria que estamos, na verdade, diante de uma mudança qualitativa importante no processo de redução das desigualdades sociais.
No sábado (28/9), as manchetes chamavam atenção para o fato de que a desigualdade e o analfabetismo pararam de cair, e a renda daquele 1% de brasileiros mais ricos subiu mais do que a receita média da população. Por outro lado, apesar do baixo desempenho da economia, o Brasil obteve grandes resultados em geração de emprego e renda.
Mas a imprensa segue evitando reconhecer a validade das políticas sociais e fugindo da questão da sustentabilidade do modelo econômico. Para os jornais, o copo está sempre vazio.
O desafio do futuro
No domingo (29), os jornais já haviam esquecido o assunto, embora a questão do desenvolvimento sustentável seja um dos principais desafios para os brasileiros e contenha alguns dos pontos que deverão concentrar os debates na campanha eleitoral de 2014.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE oferece um retrato muito instigante do momento por que passa o Brasil, depois de uma década em que as políticas sociais de transferência de renda produziram mudanças importantes no perfil da população. Basicamente, o que se pode dizer sobre esses indicadores é que tais políticas criaram uma nova classe de renda média, retirando milhões de famílias da pobreza, o que resulta em diminuição da desigualdade social, maior escolaridade e redução do trabalho infantil.
Um sistema econômico que gera oportunidades amplas também oferece ganhos de renda superiores para os mais educados, o que explica a manutenção das diferenças de receita entre os mais ricos e a média da população. Por outro lado, evidencia-se o desafio de integrar os mais velhos e menos educados no processo de desenvolvimento.
É nessa faixa da população que se concentram os problemas apontados pelas análises da imprensa: os cidadãos maiores de 40 anos que não tiveram até aqui a possibilidade de estudar terão cada vez menos chance de melhorar de vida e tendem a depender, no futuro, dos filhos que conseguem se educar. Esse entrave produz uma armadilha para os próximos anos, na qual os jovens de hoje terão que sustentar suas próprias famílias e os pais, que não conseguem fazer evoluir suas rendas no mesmo ritmo nem podem contar com uma aposentadoria suficiente.
Interessante observar que o analfabetismo ficou estagnado justamente entre os maiores de 40 anos, mas caiu entre os mais jovens. No entanto, é preciso concentrar esforços para que os jovens continuem a se educar, para evitar que um novo entrave composto pela baixa escolaridade se forme daqui a uma ou duas décadas.
Esses problemas estruturais do desenvolvimento brasileiro são típicos dos modelos emergenciais, que são capazes de produzir fenômenos como a mobilidade social massiva, mas carecem de sustentabilidade para criar plataformas de longo prazo.
Mas em vez de propor o avanço dessas políticas bem sucedidas, a imprensa prefere dizer que os programas sociais estão superados.