Quando a fonte erra, aqueles que veicularam o erro também deveriam assumir a sua parte. Na quarta-feira (19/11), em nota, a Polícia Federal reconheceu que os indícios contra o atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Cosenza, basearam-se em “erro material”.
Cosenza foi escolhido em 2012 para substituir o notório Paulo Roberto Costa, e durante a gestão deste na Diretoria de Abastecimento ocupou uma de suas gerências executivas.
Ao longo do dia, rádios e emissoras de TV veicularam o erro da autoridade policial em sucessivos boletins. À noite, no Jornal Nacional da Rede Globo, o episódio foi apresentado por William Bonner, editor-chefe do programa, com a inconfundível entonação de fatos graves. Não obstante, o caso foi omitido pelo Jornal das 10, o principal noticioso da GloboNews.
Erro duplo
Nos jornalões de quinta-feira (20), a admissão do erro foi dada na manchete principal do Estado de S.Paulo. Mas o comportamento do concorrente, Folha, foi menos transparente, já que no dia anterior chamara, na primeira página, uma reportagem apurada pelo próprio jornal junto a diversos ministérios em Brasília informando que a saída de Cosenza tornara-se inevitável. Ao reconhecer na quinta-feira em discreta chamada de capa que a PF errara, não se referiu ao seu próprio erro.
O erro da PF mereceu do Globo algum destaque, na parte inferior da primeira página e na interna (pág. 3), e um pequeno editorial onde ressalta a atitude do juiz federal Sérgio Moro, que cobrou explicações públicas da Polícia Federal e também controles internos mais rigorosos na divulgação do andamento do processo.
Inadmissível o distanciamento de alguns veiculadores do erro original. Como se um veiculo de comunicação funcionasse como intermediário acrítico e neutro, sem qualquer envolvimento com o teor, destaque e tratamento do que noticiou. A imprensa não pode resignar-se à posição de terceirizada, nem esquivar-se de suas responsabilidades. Tem fé pública: quando não apura, torna-se parceira da fonte.
A PF errou, a mídia também.