Pelo menos cinco pessoas foram assassinadas no domingo (3/5) em Belém. Todas as notícias foram publicadas sem problemas pelos jornais, atestando a violência crescente na capital e em todo o Estado. Felizmente, não saiu fotografia de cadáver ensanguentado, com miolos e intestinos à mostra, cercado por parentes, amigos ou curiosos, incluindo crianças. Graças ao controle que o judiciário passou a exercer – ainda em tese – sobre os excessos mercantis no uso dessas imagens pela imprensa paraense.
A edição de O Liberal do dia seguinte, 4, estava enquadrada na decisão judicial, evitando o costumeiro sensacionalismo (ver ‘Justiça paraense estanca sangria desatada‘). Mas o Diário do Pará ensaia a desobediência, que já vem fazendo há alguns dias: publicou a foto do cadáver – já putrefato – de um fazendeiro assassinado junto com a filha em Santana do Araguaia. O abuso em relação à proibição é claro. Não porque o jornal prime pelo exercício da liberdade de imprensa em busca da verdade: é por ser o mais prejudicado comercialmente pela medida.
A situação é tão clara que só os mal intencionados teimam em definir o controle estabelecido pela 4ª Câmara Cível do TJE como censura prévia ou violação ao estado democrático. Jornalismo é o que os jornais estão sendo obrigados a fazer agora: noticiar todos os fatos, inclusive com suas imagens, sem excesso, que só tem o objetivo de atrair o interesse (e a venda) pelo escândalo, pelo impacto visual, sem se importar com os efeitos negativos desse abuso.
Se a iniciativa for mantida e posta em execução, caso se caracterize a clara desobediência, poderemos voltar ao status quo anterior à corrida insana pelo leitor travada mais recentemente pelos dois grupos jornalísticos. Se os jornais conseguiam vender e sobreviver sem encher de sangue suas páginas, por que não podem retomar essa postura? Só se quiserem transformar-se de vez, já não mais numa quitanda, mas numa pedra de necrotério.
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Campanhas
O jornal Público andou fazendo matérias e editoriais contra a Vale. Espero que não siga o exemplo dos seus competidores das famílias Maiorana e Barbalho, com ênfase em O Liberal, que fez a maior campanha que eu já vi contra qualquer coisa (com editorial sendo manchete de capa) só para conseguir mais publicidade da empresa. Alcançado o objetivo, a ex-estatal passou a ser o nirvana empresarial. Nem um cicio de crítica se ouve.
A Vale deveria ser acompanhada por jornalistas especializados, capazes de revelar para os leitores seus passos e o significado que têm para o Estado. Bater para ganhar, como fazem os jornais e os políticos, não é manejar uma causa pública, mas algo que aparece tipificado no Código Penal.
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Jornalismo é isso
O Liberal deu quase uma página à cobertura dos estragos da cheia do dia 17 em Ananindeua, município governado pelo desafeto da empresa, o prefeito Helder Barbalho, do PMDB. E deu pouco mais de meia página ao mesmo tema em Belém, onde o prefeito, Duciomar Costa, é protegido da ‘casa’. Como Ananindeua tem três vezes menos habitantes do que Belém, que, além disso, é a capital, dá para medir o critério editorial do jornal dos Maiorana.
Quem lê, confia?
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)