Hoje em dia, só dou opinião sobre algo mediante pagamento antecipado. Quando me mandam um e-mail, não respondo, porque me recuso a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma roupa, fico quieto, à espera de uma moedinha. (Diogo Mainardi, ‘A tapas e pontapés’, orelha, Editora Record, 2004)
É preciso reconhecer que Diogo Mainardi está prestando um enorme serviço ao jornalismo brasileiro. E quiçá mundial. Mais algumas tentativas de ressuscitar o macartismo e o rapaz será convidado para a ceia de Natal da Casa Branca. À direita de Dick Cheney.
Além de assumir-se como o patriarca do parajornalismo da Botucúndia e de estar prestes a tirar o cetro do Matt Drudge (o velhaco que foi cheirar o vestido da estagiária de Bill Clinton), Diogo Mainardi acaba de estraçalhar a celebérrima Lista Negra da Veja. Quebrou tabus, infringiu férreas determinações, rasgou um portentoso index que já dura três décadas.
É um herói, campeão da liberdade de expressão no segmento hebdomadário (não confundir com dromedário). Ousou citar novamente o título ‘Observatório da Imprensa’ para chamar a atenção de seus três milhões de consumidores (tudo bem, pode usar mais vezes, não cobramos pedágio); não contente, dedicou a este Observador grande parte de seu último delírio narciso-denunciatório (‘Observatório da imprensa (2)’, Veja nº 1935, de 14/12/2005) e, num rasgo de generosidade, conseguiu convencer os seus poderosos chefões a enriquecer a seção de cartas com meia dúzia de homenagens e congratulações ao autor destas mal-traçadas. Não importa que sejam inventadas, vale a façanha de acabar com uma das mais abjetas práticas da ‘imprensa sadia’ (na expressão de Gondin da Fonseca que Diogo Mainardi certamente conhece).
Dioguinho zangou-se porque este Observador não atendeu aos seus insistentes e-mails e recusa-se a dedurar e a delatar. Não está neste ramo. Aviltar, malhar, pichar, maldizer e malsinar são as especialidades da nova editoria da Veja. Não tratamos com ela.
Este Observador abomina o jornalismo marrom e a imprensa marrom (expressão criada pelo Diário da Noite carioca, em 1961, quando levou para o xilindró os responsáveis pelas revistas de escândalos).
Parágrafo único
As denúncias contra a submissão da imprensa ibero-americana à Opus Dei não envolvem pessoas nem profissionais. Aqueles jornalistas que foram seduzidos pelas doutrinas marqueteiras elaboradas na Universidade de Navarra ou nas consultorias sediadas em Miami foram ludibriados. Sonhavam com um lustre nos respectivos currículos apenas para agradar ao patronato e acabaram contribuindo para degradar aquela que já foi designada como ‘a ultima profissão romântica’. O problema é deles.
Nossa preocupação é com a Opus Dei instituição, partido, operação político-midiática que, sob diferentes disfarces, infiltra-se nas entidades jornalísticas mais representativas do jornalismo latino-americano para afastá-las do seu antigo compromisso liberal.
Como intransigente defensor do secularismo, este Observador não está preocupado com a confissão religiosa que pretende assumir-se como a Obra de Deus. Preocupa-se, sim, com a apropriação daquilo que deveria ser sagrado para encobrir um solerte processo de aviltamento do jornalismo.
Diogo Mainardi não opina de graça – é o parágrafo único da sua profissão de fé. Veja lhe paga para fazer barulho.
Mas quem lhe paga para macular pessoas, achacar profissionais, estigmatizar reputações, avacalhar idéias, pisotear sacrifícios e emporcalhar um ofício que acaba de completar 400 anos de contínua contribuição à inteligência e à cultura? [Postado às 22h55 de 10/12/2005]