Notas veiculadas por estes dias recentes têm me feito atentar para a mesmice, baixa qualidade e a agonia da qual somos feitos reféns. Mesmo porque fugir para a TV paga pode dar na mesma. Calma, que eu explico.
Acabou a ditadura da beleza na TV. Já foi se o tempo hegemônico da Rede Globo na TV mundial. Se por aqui quem ataca hora fora o SBT, outrora a Manchete e hoje a Record, pelo mundo ela vê rivais se multiplicarem. Como um efeito Gramiling – sabe aqueles bichinhos que se multiplicavam no filme homônimo com apenas uma gota d’água? Se não bastasse a tradicional Televisa, com sua trilogia das Marias, a Mercedes que não tinha carro, a do Mar e a do Bairro, esta última cujo fora exportada para mais de 180 países; hoje o mercado de novelas é mais que bipolar.
Temos na Argentina Telefe, do sucesso infanto-juvenil Chiquititas, que fora produzido já no Brasil pelo SBT ameaçando nas primeiras temporadas o Jornal Nacional. A ‘pequena’ TV América, que exportou o formato CQC, estou em diversos países e também por aqui na Band. E também é dela a estupenda La Lola, que infelizmente sofreu edições do SBT além de nove mudanças de horário.
Uma feia inteligente
A Colômbia também hora ou outra surge com sucessos arrebatadores internacionalmente, além de seu café. E por falar nisso, o que foram os índices de Café com Aroma de Mulher – emissora RCN, que chegou a 20 pontos no SBT. A protagonista chegou a ser entrevistada no sofá da Hebe, na época em que ela dava mais de dois dígitos no Ibope. Fora reprisada anos após, às 14:00h, e em seus capítulos finais chegou a ficar na liderança por alguns minutos. Zorro: A Espada e a Rosa, produzida através da parceria RTI Colombia-Telemundo com a Sony, que, transmitida pela Record, fiascou. Betty, A Feia, escrita por Fernando Gaitán, o mesmo de Café com Aroma de Mulher, produzida entre 1999 e 2001 pelo canal RCN.
Enfim, cheguei onde queria. Essa magnífica história de uma feia inteligente é a antítese plena de Hollywood, o oposto pleno das protagonistas de novelas globais. A versão mexicana A Feia Mais Bela, produzida pela Televisa, foi exibida no Brasil pelo SBT. Nos Estados Unidos, a telenovela tornou-se série chamada Ugly Betty, de grande sucesso, que também é exibida pelo SBT ás quartas-feiras logo após Pantanal.
Como será a guerra?
Acompanhando o portal especializado TV Aqui, leio notas estarrecedoras como:
‘Record produzirá a versão brasileira de Betty, a Feia
A Record se prepara para produzir a versão brasileira da novela colombiana Betty, a Feia, já exibida pela RedeTV!. Segundo o colunista Flávio Ricco, da Tribuna da Imprensa, a emissora convocou a autora Margareth Boury para realizar a adaptação da história, que deverá ser apresentada na faixa das 19h. Atualmente, o SBT exibe o seriado norte-americano Ugly Betty, que é baseado no texto de Fernando Gaitán.
Globo deixa câmera aparecer em cena de Beleza Pura
No capítulo de quarta-feira da novela das sete, Beleza Pura, a Globo deixou aparecer uma de suas câmeras durante a cena em que a vilã Norma, interpretada por Carolina Ferraz, jogou um abajur na parede. A Folha de S.Paulo registrou o momento e entrou em contato com a emissora, que não quis comentar o assunto.’
Como será essa guerra entre Betty, a feia e Beleza Pura? Aguardemos e veremos se a clínica de estética global terá como cliente a senhora Beatriz Pinzón Solano, ou seja Betty, a Feia.
E eu continuo igual, no ostracismo social.
******
Ator não-global, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista; Florianópolis, SC