Seu Domingo,
Acabo de ser informado, às 17h desta sexta-feira (31/3), por telefonema do redator-chefe, Mário Simas Filho, que estou sendo desligado da Sucursal de Brasília [da IstoÉ], onde trabalhei desde julho de 2002.
Ao longo destes quatro anos, desfrutei de alguns dos melhores e mais gratificantes momentos profissionais de minha longa carreira, lá se vão 37 anos. Trabalhei, aqui e em São Paulo, com alguns dos melhores companheiros de trabalho, exemplares pelo talento e pelo caráter. Vou sentir muita falta de todos eles.
Devo agradecer ao Sr. a rara oportunidade de compartilhar esta experiência, que só enriqueceu meu currículo e minha lista de amigos.
Na minha derradeira mensagem, quero reiterar, aqui, os termos da carta (longa e sincera) [remissão abaixo] que enviei ao novo diretor de redação da revista, com cópia para o Sr.. Minha preocupação – antes, agora e sempre – foi com o presente e, principalmente, o futuro de IstoÉ. Eu ficaria muito frustrado se, em algum momento, o Sr. tivesse a equivocada impressão de que meu propósito era atingir a revista, a Editora Três ou Domingo Alzugaray.
Foi exatamente o contrário, Seu Domingo. Extravasei, com meu estilo sempre franco e incisivo, a angústia profissional – que não é só minha – com os rasteiros objetivos editoriais estabelecidos por Carlos José Marques, que não me parece ter o talento e o conteúdo necessários para comandar uma revista da importância e da história de IstoÉ. Não gosto do seu pífio projeto, nem do estilo de mando de Marques – e isso tudo foi dito com a clareza e a educação possíveis. A contundência de minhas palavras, Seu Domingo, refletiu apenas o meu inconformismo com o abismo que se abriu para a revista diante da nova direção editorial.
Por favor, encare minha carta como um alerta e uma última colaboração para tentar despertar consciências e emular vontades que possam reverter o inevitável.
Filosofia vã
A história de sua vida, Seu Domingo, se resume pelo vitorioso esforço empresarial em construir títulos e veículos jornalísticos com conteúdo e presença forte na imprensa brasileira. Temo que a passagem de Marques pela IstoÉ comprometa este propósito, pela falta de debate sobre os rumos, equivocados, que ele propõe.
Abri o debate para o Observatório da Imprensa, como já expliquei, por entender que este tema transborda as fronteiras da revista e os estreitos limites intelectuais do novo diretor. As questões que hoje afligem IstoÉ e todos nós são dilemas que devem ser enfrentados, corajosamente, pelos jornalistas brasileiros, de todas as redações: a submissão da qualidade jornalística aos supostos ditames de um leitor de baixa exigência e fugaz compreensão dos fatos. Discordo frontalmente desta visão utilitária e medíocre que se pretende impingir ao leitor e cidadão brasileiro, muito mais consciente e exigente do que supõe a vã filosofia de Marques e seus assemelhados.
Seu Domingos, mais uma vez, grato por tudo. Como meu e-mail da revista se dissolve aqui, junto com meu emprego, deixo o meu endereço particular às suas ordens: cunha.luizclaudio@gmail.com
Um forte abraço e boa sorte.
Luiz Cláudio Cunha
[Brasília, 31 de março de 2006]
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Jornalista