Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Agente da CIA é demitida por vazar informação

A CIA demitiu, na semana passada, um funcionário sênior acusado de ter divulgado informações confidenciais para o Washington Post e outras empresas de mídia sobre prisões secretas mantidas pelo governo americano para interrogar suspeitos de terrorismo. De acordo com a CIA, o funcionário não passou em mais de um teste com detectores de mentira e admitiu que havia tido contatos não-autorizados com repórteres.

Em declaração, a agência informou que o ‘funcionário compartilhou informações confidenciais deliberadamente e intencionalmente, incluindo dados operacionais’. O porta-voz da CIA, Paul Gimigliano, afirmou que a demissão ocorreu devido à ‘violação do acordo de sigilo, que é condição para trabalhar na CIA’.

A identidade do empregado não foi revelada ou confirmada oficialmente. Segundo a NBC News, seria Mary McCarthy – informação confirmada por uma fonte da agência. Mary começou sua carreira no governo como analista da CIA em 1984 e estaria perto de sua aposentadoria. Ela serviu como assistente especial do presidente e como diretora de programas de inteligência na Casa Branca durante a administração de Bill Clinton e os primeiros meses do governo de George W. Bush. Posteriormente, Mary voltou a trabalhar na CIA, no setor de inspeção geral da agência.

A declaração não revelou os nomes dos repórteres envolvidos nos vazamentos. Funcionários da CIA afirmam que Dana Priest, do Post, seria uma das jornalistas que teria tido contato com Mary. Na semana passada, Dana ganhou o Prêmio Pulitzer por seus furos jornalísticos sobre a agência, incluindo o que revelava a existência das prisões secretas.

Cerco à imprensa

Porter J. Goss, diretor da CIA, afirmou ao Comitê de Inteligência do Senado, em fevereiro, que a agência estava determinada a descobrir quem havia vazado informações à imprensa e que queria levar os jornalistas diante de um grande júri federal para revelar suas fontes. Em relação às revelações das prisões secretas da CIA no Leste Europeu, Goss afirmou que ‘os danos foram severos às nossas capacidades de levar adiante nossa missão’. Na semana passada, o republicano Pat Robert, chefe do Comitê de Inteligência do Senado, elogiou a CIA por identificar a fonte do vazamento, afirmando que a divulgação das informações havia ‘prejudicado os esforços contra a al-Qaeda’.

Funcionários investigados

Para descobrir quem teria vazado informações confidenciais, a CIA iniciou investigações internas com detectores de mentira a diversos funcionários. Os resultados da investigação estão sendo compartilhados com o Departamento de Justiça. ‘Cabe ao Departamento de Justiça decidir se vai fazer investigações separadamente’, informou uma fonte da agência. A CIA informou que a demissão foi resultado desta investigação interna iniciada em janeiro com todos os ‘empregados que estavam envolvidos ou expostos a certos programas de inteligência’.

Desde o ano passado, o Departamento de Justiça conduz investigações separadamente sobre o vazamento de informações secretas à imprensa, incluindo um inquérito sobre a divulgação de um programa doméstico de vigilância pela Agência Nacional de Segurança, denunciado pelo New York Times em dezembro. Os artigos no Times sobre o assunto também ganharam Prêmios Pulitzer. ‘Não confirmamos investigações relacionadas à CIA devido à sensibilidade do tema’, informou Brian Roehrkasse, porta-voz do Departamento de Justiça. Os resultados dos testes com detectores de mentira não são aceitos como evidências em julgamentos, o que pode tornar mais difícil para o governo processar Mary.

Jornalismo ameaçado

O editor-executivo do Post, Leonard Downie Jr., afirmou que as pessoas que fornecem aos cidadãos as informações que eles precisam saber sobre o governo não deveriam ‘ser prejudicadas por isto’. ‘A reportagem de Dana foi muito importante para sabermos como a CIA e o resto do governo americano estão conduzindo a guerra ao terror’, afirmou. Eric C. Grant, porta-voz do Post, informou que ‘nenhum repórter foi intimado ou conversou com investigadores a respeito deste assunto’.

Em um esforço para evitar vazamentos à mídia, a administração Bush iniciou diversas iniciativas ao longo deste ano tendo como alvo jornalistas e funcionários da segurança nacional. As medidas são vistas por profissionais da mídia e especialistas jurídicos como a mais extensiva e aberta campanha contra divulgação de informações secretas e piorou a relação já tensa entre a imprensa americana e a Casa Branca. Os esforços incluem inquéritos do FBI, uma investigação interna com detector de mentiras na CIA e um alerta do Departamento de Justiça alegando que repórteres podem ser processados sob leis de espionagem. Informações de David Johnston e Scott Schane [The New York Times, 21/4/06] e de Dafna Linzer [The Washington Post, 22/4/06].