A matéria do Estadão sobre a demissão de Roger Agnelli – publicada no domingo (3/4) – responsabiliza o Bradesco pela saída do executivo. Segundo a matéria, outros interesses do banco com o governo – Banco Postal, parcerias com o Banco do Brasil no cartão Elo – teriam levado o Bradesco a rifar Agnelli.
No Bradesco, há a nítida sensação de que o banco foi usado pelo jornal para fins políticos.
A quantidade de repórteres envolvidos indica que foi matéria encomendada pela direção do jornal. Onze jornalistas participaram da matéria, todos de Brasília.
Mencionam-se como fontes dois diretores da Vale, um ex-funcionário, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro. Nenhum é identificado. Fica-se sem saber a origem de cada informação publicada, o grau de isenção da fonte consultada. Não existe um documento, uma gravação, foto ou o que seja que dê consistência às versões apresentadas. É uma revista Veja sem gravação, foi a conclusão interna.
A única fonte que aparece em on é o próprio Bradesco, ao afirmar que todas as ilações relatadas são improcedentes.
Como é possível?
O Bradesco nunca foi partido político, nem defensor de ideologias. Por estar focado exclusivamente no mercado bancário, desde que Roger Agnelli foi para a Vale, há 11 anos, saiu da órbita do banco, passando a responder à Bradespar – a holding que controla os negócios não financeiros do grupo.
No banco, há a firme convicção de que a matéria partiu do próprio Agnelli. O sentimento, no banco, é de deslealdade do antigo funcionário.
Quando apregoava amizade com Lula, tocando a vaidade dele, Agnelli colocava-se acima do banco.
No ano passado, deu um tiro na água. Quando as pesquisas melhoraram para José Serra e criou-se a torcida para sua virada, Agnelli deu a declaração na África dizendo que o PT estava atrás do seu cargo. Apostou no cavalo errado.
Quando se viu em maus lençóis, começou a envolver o nome do Bradesco na história, colocando-se como vítima, tentou mobilizar políticos e lobistas e começou a tomar decisões pessoais, atitude imprópria para o CEO de uma empresa do porte da Vale.
Segundo o Bradesco, o Banco Postal é uma parceira do Bradesco com os Correios. Foi resultado de licitação pública realizada ainda no governo FHC. Este ano haverá nova licitação. Desta vez, inscreveram-se todos os concorrentes do Bradesco, do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal ao Itaú Unibanco.
Indaga o banco: será possível, com tal grau de competição e transparência, supor que o resultado da licitação dependeria de um acordo subterrâneo com o governo federal?
Ato político
Em relação ao Cartão Elo, há mais de vinte anos Bradesco e BB são sócios na bandeira Visa. Por buscar a baixa renda, o Elo ainda é uma aposta. Indaga o banco: qual a ligação de uma aposta de negócio com o emprego de Roger Agnelli?
A prova de que a demissão de Agnelli não foi um ato político foi a decisão da Bradespar de contratar headhunters para buscar profissionais no mercado, executivos de carreira para substituí-lo.
[N. do E: Na segunda-feira (4/4) foi anunciada a escolha de Murilo Ferreira para presidir a companhia. Seu nome deverá ser referendado pela assembléia de acionistas e pelo conselho de administração da empresa.]
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Jornalista