Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alerta contra o sensacionalismo catastrofista

Há poucos dias, o jornalista Fabiano Angélico, coordenador de projetos da Transparência Brasil, perguntou-me se eram procedentes ou não as informações da reportagem ‘¿Se viene el fin del mundo?: La NASA pronostica fuertes tormentas solares para el 2012’, publicada em 16/01 pelo portal argentino Urgente 24 (ver aqui).


A matéria afirma que pesquisadores ligados à Nasa teriam previsto para 2012 uma intensificação das emissões solares de partículas eletromagnéticas, provocando não só transformações climáticas globais, capazes de prejudicar a produção de alimentos e gerar catástrofes ambientais, mas também distúrbios eletromagnéticos em todo o sistema mundial de telecomunicações e de distribuição de energia elétrica.


Encontrei na internet pouca repercussão sobre esse assunto, como a reportagem ‘Powerful solar storm could shut down U.S. for months‘, da Fox News, que dava o mesmo tom catastrofista. Por outro lado, encontrei também a matéria ‘Is a `Katrina-like´ space storm brewing?‘, da ABC News, que se referia a possibilidades que governantes e legisladores de todo o mundo precisam considerar para os próximos anos.


Possibilidades, e não predições


O objetivo aqui não é fazer reportagem, mas provocar reflexões, o que exige um mínimo de pesquisa minha sobre os temas abordados. Desta vez, por força de minhas limitações momentâneas, limitei-me a entrar em contato com o coordenador da pesquisa citada nessas reportagens: Daniel Baker, diretor do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial, da Universidade do Colorado, em Boulder, nos Estados Unidos.


Baker atenciosamente respondeu que muitas matérias deram um tom sensacionalista ao assunto, mas observou que houve também boas reportagens, e citou a da ABC News como bom exemplo. O pesquisador coordenou a edição do relatório ‘Severe Space Weather Events – Understanding societal and economic impacts‘, referente ao trabalho de um comitê organizado pela centenária Academia Nacional de Ciências (NAS).


As observações de Baker foram reforçadas também em e-mail enviado pela pesquisadora Sandra Graham, diretora de estudos da Junta de Estudos do Espaço do Conselho Nacional de Pesquisas (NRC), que é vinculado à NAS. Ambos me solicitaram que repassasse para jornalistas brasileiros a informação de que as conclusões sobre esses estudos estão disponíveis no relatório acima citado. O acesso ao documento é pago, mas seu sumário executivo (PDF, 240 kB) pode ser baixado gratuitamente.


O assunto não teve, felizmente, maior repercussão, mas pode ser desengavetado a qualquer momento. A fim de não deixar prevalecer o tom sensacionalista e catastrofista, vale a pena retomá-lo, mas de forma responsável.

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Jornalista especializado em ciência e meio ambiente