As empresas editoras de jornais no Brasil têm comemorado, nos últimos dias, o crescimento das vendas dos diários. Embora as pesquisas divulgadas recentemente não entrem em detalhes que permitam uma análise mais acurada, os observadores podem captar, além de um aumento no interesse de determinadas camadas da população pelo noticiário impresso, alguns sinais de mudança nos hábitos de leitura dos brasileiros.
Um fato muito evidente é a queda do interesse por revistas semanais de informação, característica que se manifesta por quase metade da década. As estatísticas da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) mostram que houve um aumento na circulação total de títulos semanais entre 2009 e 2010 de quase 10%, o que estaria revelando a pujança do setor.
No entanto, esse crescimento se dilui entre as revistas de fofocas sobre celebridades, publicações dedicadas ao entretenimento de adultos e crianças e guias de telenovelas. Todas as revistas semanais de informação apresentaram queda nas vendas depois de 2008.
Números decrescentes
Quanto á variedade de títulos, esse número subiu, entre 2009 e 2010, de 4.432 para 4.705, mantendo a ascensão surpreendente dos últimos dez anos, quando cresceu mais de 100% a diversidade de alternativas para os leitores de revistas. Entretanto, nenhum desses novos títulos pratica o que comumente chamamos de jornalismo. Pelo menos, de jornalismo sério.
Com um pouco de intuição e muito empenho, pode-se tirar algumas conclusões sobre os indicadores conhecidos.
É bastante provável, por exemplo, que estejamos assistindo ao declínio das revistas semanais de informação e sua substituição pela leitura de jornais aos domingos, apesar de também o meio jornal não estar nos seus melhores dias.
Há 652 diários em circulação no Brasil, segundo dados coletados pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), número que vem decrescendo desde 2008, após um rápido aumento (de 555 para 673) em relação a 2007.
Mas os números não dizem tudo nem o mais importante.
O papel que falta
A circulação, que vinha se recuperando desde 2003, também caiu no final de 2008 e apresenta leve ganho em 2010. Calcula-se que sejam vendidos diariamente 8,3 milhões de jornais, embora apenas 4,2 milhões seja o total de vendas auditadas pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC).
Mas esses números se referem principalmente a vendas avulsas, uma vez que a participação das assinaturas vem caindo no resultado da circulação de jornais.
Onde, então, se encontram os números positivos anunciados pela ANJ? Esses indicadores positivos vêm da venda avulsa dos chamados jornais populares, títulos criados ou renovados pelas empresas para aproveitar a ascensão social dos mais pobres.
Com esses dados em mãos, pode-se avançar na análise da situação da imprensa escrita no Brasil e seu papel diante da circunstância que vive o país.
Tome-se como pressuposto o papel de educação civil que deve jogar a imprensa, e considere-se o recente fenômeno da mobilidade social, que permitiu a ascensão de cerca de 30 milhões de brasileiros ao patamar chamado de nova classe média.
Acrescente-se à análise as características das deficiências nacionais de educação – tipicamente, o problema da educação no Brasil não é mais o do acesso à escola, uma vez que a universalização do ensino está em pleno curso – pelo menos 93% da população em idade escolar está matriculada.
Observando-se os índices da escolaridade média e do atraso escolar em relação à idade, constata-se que nosso problema é de qualidade na educação.
Ora, sabe-se que a qualidade da educação depende em grande parte do ambiente familiar e do entorno social – o que inclui a mediação dos fatos sociais. Portanto, cresce nesse contexto o papel da imprensa – e da mídia em geral – na oferta de um ambiente propício a uma educação de mais qualidade.
Se o que as empresa de comunicação estão oferecendo aos brasileiros que mais precisam de educação são jornaizinhos coloridos recheados com notícias de crimes, e se o que vende é revista de fofoca, o que de fato representam os números de crescimento da imprensa no Brasil?
Representam menos do que nada.