Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Ameaças, suspeitas, perigos

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


A última novidade em matéria de ameaças à imprensa desta vez não vem do Judiciário ou do Executivo. Vem do Ministério Público Federal que, teoricamente, deveria ser um aliado da imprensa. O procurador da República Bruno Acioly, de Brasília, pretende quebrar o sigilo telefônico de quatro jornalistas que investigam escândalos envolvendo funcionários do Banco Central, conforme revelou hoje O Estado de S. Paulo. Ao invés de dirigir o seu talento investigativo diretamente contra os corruptos, o procurador Acioly quer descobrir quem são os informantes dos repórteres e assim chegar aos culpados. Difícil encontrar forma mais arrevesada de buscar a verdade do que esta.


No país dos bacharéis, a imprensa não sabe cobrir o que acontece no Supremo Tribunal Federal. O julgamento do recurso do deputado José Dirceu vai continuar amanhã, mas o primeiro tempo, na quarta-feira passada, foi marcado por imperfeições que a imprensa não conseguiu cobrir devidamente. Ao mesmo tempo, aumentam as evidências de que o presidente do Supremo, ministro Nelson Jobim, está mesmo disposto a candidatar-se à presidência da República. O que também não é muito legal. Numa crise política destas proporções não é nada animador ver a instância suprema do Judiciário envolta em suspeitas. Convém prestar muita atenção ao fim do julgamento amanhã. Em primeiro lugar para saber o que se passa naquela casa. Em segundo lugar para verificar se a imprensa sabe cobrir o que lá acontece.


Já houve um tempo em que se dizia que o jornalista é um especialista em idéias gerais. Escrevia sobre qualquer coisa, mas ficava na superfície. As coisas mudaram. O jornalismo hoje é um conjunto de especialidades, cada área, cada assunto, exige um mínimo de conhecimentos específicos sem os quais as informações sairão deformadas por erros que podem produzir graves conseqüências.


A cobertura da área de medicina e saúde, que praticamente não existia em nossas redações há 20 anos, hoje tornou-se de importância capital diante das sucessivas ameaças de epidemias e pandemias. A ciência avança na mesma velocidade em que as doenças também avançam, mudam e se tornam mais agressivas.


Qual deve ser o papel da imprensa diante da ameaça de um novo surto de doenças? Deve acionar todos os alarmes ou, ao contrário, fazer o possível para evitar o pânico? Em qualquer circunstância, o jornalista precisa ter uma base de conhecimentos no mínimo razoável para saber perguntar e em seguida saber transmitir o que está apurando.


Todas as esferas da vida são igualmente importantes, mas a cobertura de medicina e saúde exige um grau de responsabilidade um pouco maior. Informação e prevenção caminham juntas, desinformação e tragédia são inseparáveis.