Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Aposta audaciosa numa rede internacional de emissoras de rádio

O grupo Bandeirantes de Comunicação, presidido pelo neto do seu fundador, João Jorge Saad, mas atualmente orientado pelo empresário João Carlos Saad, partirá para outro projeto radiofônico a partir do mês de março deste ano. Após expansões na sua área televisiva, com a relativamente bem sucedida Band Internacional nos mercados de além-mar, desta vez o canal fará um projeto parecido mas na área do rádio internacional.

Em rápido rápida entrevista ao site Meio e Mensagem, o vice-presidente de Rádio do Grupo Bandeirantes, Mário Baccei, afirmou que o objetivo da emissora é criar uma rede de rádios nos Estados Unidos. Também pontuou que há um desejo de expandir, em três anos, a rede, inclusive e especialmente para Boston, cidade com grande quantidade de brasileiros residentes.

É bom notarmos que o projeto da Brasil Radio se concentra em informar, entreter e vender para brasileiros residentes e em viagem aos Estados Unidos, fazendo uma extensão da programação dos principais veículos radiofônicos do grupo, do Brasil para os Estados Unidos, conjuntamente com conteúdo local, assim como afirmado pelo vice-presidente na mesma entrevista. 50% da programação retransmitida das rádios Band News FM, os horários de Ricardo Eugênio Boechat e o Band News no Meio do Dia já estão confirmados na grade e as jornadas esportivas e outras atrações das rádios Bradesco Esportes FM, e especialmente da Rádio Bandeirantes de São Paulo, preencherão a “cota” brasileira. A cota local será feita em parceria com a produtora detentora da frequência que será usada, os 93,1 FM e os 810 AM, e será basicamente de música brasileira e prestação de serviço.

O grupo Bandeirantes é, de certa maneira, visionário. Notemos o sucesso de algumas de suas marcas “complementares” nos últimos anos. A rede Nativa de rádios, com sua programação popular voltada para o sertanejo, é líder, ou top 10, na maioria esmagadora das cidades em que está presente. A Rádio Bradesco Esportes FM, que mesmo com problemas no Rio de Janeiro, como já comentei em outro artigo, está tendo sucesso comercial e de recepção na matriz paulista. A boa recepção e aceitação, além de penetração, do jornal Metro nas capitais em que está presente. É bom lembrar que o Metro é uma parceria internacional do grupo Bandeirantes que está dando muito certo.

Uma retransmissora do conteúdo já produzido

Claro, outros projetos foram fracassos, ou ainda não deram o resultado esperado. Como alguns jornais impressos locais que o grupo tentou bancar e fracassaram, o portal E-Band, que tinha como objetivo competir com o G1, R7, e nunca foi para frente, voltando ao fraco e quase imperceptível www.band.com.br, as rádios Bradesco Esportes FM Rio e de BH, uma respirando à base de aparelhos até as Olimpíadas e a outra já sacramentada e enterrada, o canal Arte 1, que, muito bem produzido e interessantissimamente planejado, está deixado às moscas pelo grupo, o canal TBS, que quase não aparece dentro do seu gênero na TV por assinatura, e podemos até citar o canal 21, que virou emissora reprodutora, obviamente arrendado, de conteúdo da Iurd.

Há diversos pontos que podemos pegar como estranhos para essa decisão do Grupo Bandeirantes. 1º, em pleno dólar sendo cotado a 4,20 centavos para turismo, com o boom das viagens Brasil-EUA em declínio, vale a pena arriscar um investimento deste porte comercial para o nicho que pretende o grupo? O momento não deveria ser outro? Lembremos também as sucessivas dificuldades financeiras alegadas pelo grupo no Brasil para sucessivamente enxugar seus quadros nas principais praças e em diversos segmentos, como na Band TV e Band News FM de Brasília, na Rádio Bradesco Esportes do Rio de Janeiro, no grupo Bandeirantes de Televisão em São Paulo, em diversas afiliadas, na compra de direitos de transmissão esportivos – seu, podemos dizer, principal produto, no jornalismo e no entretenimento.

2º ponto. Se a emissora será, pelo jeito, uma retransmissora do conteúdo já produzido pelos canais brasileiros, como os jornalísticos da Band News FM, Rádio Bandeirantes, e o esporte da Bandeirantes e da Bradesco Esportes, não seria perda de dinheiro “comprar” duas sintonias para passar uma programação já disponível em mobile, na internet e no APP BandRádios? É importante salientar que grande parte dos anunciantes das atrações locais não possui lojas em Orlando. Espero que nas janelas comerciais o grupo coloque anunciantes locais, e não apenas reproduza os spots da programação brasileira.

O momento e a maneira dessa expansão

3º ponto. Há um nicho que realmente vai consumir a emissora? Parto do pressuposto que a decisão de se iniciar em Orlando, possui lá sua ligação com a existência da Disney. O brasileiro em viagem para a Disney vai ligar numa emissora brasileira para ouvir programação brasileira? Eu tenho, em minha percepção, uma ponta de crendice que sim, mas que se liga ao arriscado e, não pouco provável, “não!”.

4º – Investir numa emissora nos Estados Unidos enquanto as brasileiras passam dificuldades financeiras é o mais adequado? Não deveria o grupo separar esse dinheiro e pagar aos seus funcionários um salário mais apropriado a seu desempenho e contratar novos para sua equipe que, todos sabemos, é claramente sobrecarregada?

A ideia, no geral, parece-me positiva tanto para o grupo quanto para o meio. É interessante notarmos que a comunidade brasileira nos Estados Unidos já possui uma oferta de conteúdo para si, relevante. Citando apenas um exemplo em específico, a Nossa Rádio, emissora de comunicação gospel comandada pelo pastor R.R. Soares, está desde 2011 em 1.400 AM no South Flórida, e desde julho de 2014 em Boston e região, pelos 1.570 AM, com programação própria e 24 horas. Além disto, aproximadamente 22 atrações destinadas a comunidade brasileira são feitas e transmitidas no dial ou dos Estados Unidos ou do Canadá, sendo em sua maioria atrações semanais de uma hora de duração em rádios locais de pequeno e médio porte.

Contudo, ter um grupo do porte do Bandeirantes, com a credibilidade de seu jornalismo e a qualidade do seu esporte, baseado na sua força como marca e empresa de comunicação, expandido nesta específica área, que é a radialística, para um mercado que resiste e cresce bravamente, como é o norte-americano, que podemos dizer está numa fase áurea, mesmo sofrendo as concorrências pesadas do online e da televisão, não poderia ser negativo ou prejudicial para a comunidade e para o próprio grupo. Apenas fico a refletir se o momento e a maneira como essa expansão realizar-se-á, aparece como a mais apropriada. Porém, que a rádio com Conteúdo de Brasileiros para Brasileiros, seja um sucesso local, e internacional, trazendo benefícios, quem sabe, para o grupo e seu jornalismo no Brasil, e para sua comunidade nos Estados Unidos.

Referências bibliográficas:

http://tudoradio.com/noticias/ver/14760-exclusivo-bandeirantes-amplia-divulgacao-no-brasil-de-afiliada-aguardada-em-orlando

http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2016/02/11/Band-inicia-expans-o-internacional.html

https://radioamantes.wordpress.com/2016/01/24/afiliada-do-grupo-bandeirantes-em-orlando-eua-tera-o-nome-de-brazil-radio/

http://bandnewsfm.band.uol.com.br/Noticia.aspx?COD=769734&Tipo=227

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Bruno Henrique de Moura é jornalista e estudante de Direito