Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As águas ideológicas

A suspensão do leilão para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, concedida pela segunda vez por um juiz de Altamira, no Pará, e a decisão do governo de manter o leilão marcado para terça-feira (20/4), induzem os jornais a produzir um farto material sobre a obra polêmica.


Após meses de notícias fragmentadas, que deram vazão a todo tipo de opinião, inclusive de um diretor de cinema americano que nunca havia pisado em solo brasileiro, a imprensa finalmente produz um bom material informativo que ajuda o leitor a entender a complexidade do assunto.


Em primeiro lugar, nenhum dos grandes diários discute a necessidade de ampliar a infraestrutura nacional de energia, não apenas em função do estado atual da nossa economia, mas principalmente tendo em vista o esperado crescimento anual do país no futuro próximo, em torno de 6% do PIB.


Por outro lado, desapareceram os que defendiam a substituição da usina de Belo Monte por pequenas geradoras movidas a óleo, porque ninguém em sã consciência admitiria dar um passo atrás na questão ambiental.


O Brasil tem cerca de 90% de sua geração energética baseada em centrais hidrelétricas, o que o torna um dos poucos países capazes de fornecer energia de fonte renovável, que é mais barata e praticamente inerte em relação à produção de gases do efeito estufa.


Benefícios fiscais


O centro do debate passou a conter três vertentes: uma delas envolve desafios ambientais e sociais, com a possibilidade de a obra vir a prejudicar comunidades indígenas e afetar a vazão do Xingu e alguns afluentes.


Outra vertente diz respeito a questões técnicas. Pelo fato de o rio Xingu ter normalmente sua vazão reduzida no período das secas, argumenta-se que a usina perderia sua eficiência no segundo semestre, todos os anos, exigindo o complemento de outras fontes para manter o fornecimento de energia.


Mas o terceiro ponto de discórdia é o modelo de negócio, que envolve a velha discussão sobre o papel do Estado na economia.


Essa terceira vertente da polêmica é causada pela obsessão do atual governo em assegurar o fornecimento de eletricidade a preços baixos, o que provocou a desistência de um dos principais consórcios de construtoras interessadas na obra, e levou o governo a oferecer um pacote de benefícios fiscais generosos para manter o interesse de pelo menos dois concorrentes.


Como as empresas privadas acham baixo o preço fixado para o fornecimento de energia, o governo entrou pesado – com o BNDES, fundos de pensão e o Grupo Eletrobrás – para viabilizar a obra.


Os defensores da tese do Estado mínimo ficaram arrepiados. E as águas do Xingu invadiram o debate eleitoral.


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50 anos de Brasília


Depois de meses sendo citada no noticiário como cenário de um dos mais ruidosos escândalos de corrupção na política, a capital federal se aproxima da data comemorativa dos seus cinqüenta anos de fundação.




Alberto Dines:


A imprensa teve um papel crucial na criação de Brasília. E não apenas para mobilizar a sociedade brasileira para a grande empreitada. Mesmo depois da posse, o presidente JK foi submetido a uma forte pressão por parte dos veículos oposicionistas. A manchete de um vespertino impresso no centro da cidade levava imediatamente multidões para a porta do Palácio do Catete ou para as escadarias da Câmara dos Deputados. Uma manifestação de estudantes não parava apenas a cidade, afetava o país inteiro.


A mudança da capital diminuiria a pressão das ruas, mesmo que o beneficiário fosse o seu sucessor. Otimista e habilidoso, JK conseguiu vencer as resistências dos principais jornais e revistas e quando as obras já estavam em curso, começou a empolgação.


Foi um dos períodos mais férteis da cultura brasileira. O Observatório da Imprensa inicia nesta terça-feira (20/4) mais uma série especial em comemoração aos 50 anos da criação de Brasília. Às 22h30 pela TV Brasil em rede nacional. Em São Paulo, pelo Canal 4 da Net e 181, da TVA.