A Copa do Mundo costumava ser para a mídia uma fonte de receita episódica, marginal: reforçava a audiência, às vezes trazia algumas sobras do faturamento esportivo, geralmente produzia apenas prestígio.
Isso valeu até a década de 1990, quando a globalização tornou o campeonato mundial de futebol uma indústria que, mesmo quadrienal, converteu-se num importante marco do calendário financeiro das empresas de mídia. Além do reforço no público, gera faturamentos e parceiras que se estendem até a metade do intervalo antes da Copa seguinte.
Mas sob o ponto de vista informativo as Copas provocam uma perigosa deformação com a ostensiva hegemonia do noticiário esportivo. O quadro agravou-se a partir de 1988, quando as Copas passaram coincidir com as eleições presidenciais – com evidentes prejuízos não apenas para o noticiário político, mas também para o teor do próprio debate eleitoral.
Além de confundir-se com a campanha sucessória, a cobertura da Copa impõe paradigmas menos exigentes na cobertura não-esportiva.
Faturamento alto
Este 19º Mundial que começa esta semana parecia destinado a provocar o mesmo esvaziamento do noticiário não-esportivo quando, de repente, a cena política nacional e internacional ganhou surpreendente relevância: as sanções ao Irã, a repercussão da ação militar israelense contra a flotilha turca pró-Gaza, o agravamento da crise européia, a decisão do TSE de exigir ficha-limpa já nestas eleições e a votação na madrugada de quinta-feira (10/6), tirando os royalties dos estados produtores de petróleo.
São fatos relevantes, de capital importância, que não podem ser minimizados ou acompanhados em ritmo de Copa.
Se as empresas de mídia estão tirando a barriga da miséria graças ao faturamento publicitário produzido pela Copa, não podem esquecer que a sua credibilidade foi construída nos intervalos entre os eventos máximos do esporte mundial.