Fui brindado pela Folha de S.Paulo com o adjetivo de ‘esquerdista’ por ter enviado carta ao ministro da Justiça pedindo que sua decisão fosse favorável à permanência de Cesare Battisti entre nós. Meu gesto foi de caráter humanitário. Se isso é ser esquerdista então está bem, aceito honrado.
A Folha ainda escreveu que comemorei a decisão. Ora, apenas cordialmente respondi a uma chamada de uma repórter que me ligou para confirmar se tinha escrito a carta ao ministro. Confirmei, disse que assumia meu ato com convicção e que iria escrever ao ministro cumprimentando-o pela decisão. Se isso é comemorar, tudo bem. Então tive uma atitude que me projeta na esquerda festiva (esquerdista que comemora é isso?).
Até aqui tudo bem, é o meu que está na reta, mas continuemos neste exercício de lógica.
A Folha comemorou à sua maneira o gesto do ministro, com um editorial de reprimenda à atitude do governo (sim, do governo, o presidente da República endossou o gesto do ministro).
Conclusão lógica
Mas, já que a Folha não quis colocar seus repórteres em campo para apurar na Itália as repercussões do gesto brasileiro, poderia ao menos ter esperado para assistir ao Jornal Nacional de sexta-feira (16/1), na insuspeita Globo, quando a repórter Ilze Scamparini fez o trabalho que os editorialistas da Folha não quiseram fazer e ouviu políticos italianos. O único que se manifestou favorável à extradição foi um ministro do governo Berlusconi que ameaçou o Brasil com retaliações.
O Jornal Nacional entrevistou um jurista dos Comunistas Refundadores que elogiou o gesto brasileiro e informou ainda que Francisco Cossiga (ex-ministro e que assinou a lei antiterror) declarou ser a favor de uma anistia e que era contra o retorno de Battisti à Itália.
Portanto, desconfio que:
1.
a Folha anda mal informada sobre minha pessoa; e2.
muito mal informada sobre o caso Battisti.E, uma vez que, por ilação, conclui que sou esquerdista, também posso concluir que a Folha é um jornal direitista berlusconiano.
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Cineasta