Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As tendências do jornalismo de verão

As manchetes dos três principais jornais do país tanto na segunda-feira (24/12) como na terça (25) ocuparam-se com estatísticas e percentuais – sem qualquer importância, diga-se. Em dias normais valeriam, no máximo, notícia de uma coluna, curiosidades.


O jornalismo brasileiro já passou por diversas modas, a última é numerológica. Combina bem com a mitologia em torno das ciências exatas. Este jornalismo aparentemente inofensivo é o mais perigoso porque acostuma o leitor a só acreditar em cifras mesmo quando discutíveis. Qualquer factóide de procedência duvidosa transforma-se em fato indiscutível desde que acompanhado por um dado estatístico, mesmo que em números relativos.


Na Folha de S.Paulo de quarta-feira (26), o vício ficou magnificado com o dramático princípio de incêndio no Hospital das Clínicas de São Paulo, ocorrido na véspera do Natal. O jornal tinha engatilhada a manchete que havia percorrido todos os portais de noticias, rádiojornais e telejornais da terça – o número recorde de mortos nas estradas brasileiras – e deixou de destacar um fato novo, impressionante, com enormes repercussões nos próximos dias: o Hospital das Clínicas, o maior da cidade e do estado, deixará de atender a milhares de pessoas.


Mundinho fashion


Ao contrário do Estadão, a Folha preferiu o fato velho, a insegurança das estradas, e registrou o fato novo que poderia ter resultado numa catástrofe sem precedentes apenas com uma foto e um título menor na parte inferior da primeira página.


O mais irônico é que a foto do alto da primeira, hierarquicamente a mais importante do dia, retratava a pífia festinha de Natal da falecida Daslu, que só interessa ao restrito mundinho da grã-finada.


Este deve ser o padrão da temporada de verão da imprensa brasileira: estatísticas e mundanidades, percentuais e abobrinhas.