Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As trevas da Idade Mídia

José Paulo Cavalcanti Filho, presidente do Conselho de Comunicação Social


"Os jornais são por fora muito próximos uns dos outros. O mesmo formato, o mesmo papel, quase as mesmas fotos, quase as mesmas manchetes. O que o distingue por dentro é aquele compromisso com a democracia. Em uns, este compromisso está submetido aos interesses econômicos por trás do jornal, aos interesses dos proprietários dos jornais, aos pequenos interesses difusos da redação onde a lógica é sempre utilitarista. E há aqueles jornais que percebem que a essência da democracia é seu compromisso com a verdade, é a idéia de que o interesse coletivo é soberano em relação à notícia. (…) O que fica para a redação do Jornal do Brasil? O que fica para os outros jornais? Qual é a lição de democracia que fica por trás disso?"

Roberto Muller Filho, jornalista


"Na minha opinião, isso faz parte desse rocambole, desse sucateamento a que a imprensa em crise, de pires na mão, foi submetida. Acho que isso é grave, grave pelo nome do JB, grave pela coincidência histórica e perversa que faz isso acontecer. O compromisso da imprensa, dos jornalistas, dos proprietários de jornal é com o leitor. (…) Deveria haver, creio eu, um órgão regulador da imprensa, um órgão que não fosse governamental, com mandato, e que não pudesse ser destituído por decreto ou por injunções político-partidárias."

Muniz Sodré, professor


"Hoje, a sociedade é feita de informação. A informação é o solo orgânico onde nós nos movemos hoje, portanto a informação, além de cultural, além de puramente funcional, é política. (…) O problema é que isso que alguns vêm chamando de Idade Mídia, que é um bom trocadilho, têm em comum com a Idade Média o obscurantismo, uma certa treva. E eu acho que o jornalismo nesse sentido não tem progredido – ou não progride do ponto de vista ético. Esse episódio me parece um episódio de Idade Midia mas que tem em comum com a Idade Média a treva. (…) E essa história do pires [na mão] não sei por que me invocou um certo momento do regime militar de que nós saímos, que quando as coisas ficavam preta o ditador-presidente dizia "eu vou chamar o Pires". Este era o general ministro. Esse pires que está entrando aí, pelo menos no fantasma dos donos de jornais, têm alguma coisa do Pires militar – ele evoca a repressão."

Juca Kfouri, jornalista


"Eu quero lembrar uma questão que é óbvia, que é palmar, e que não se tocou ainda, que é a questão da função social do jornalismo, que, se não existisse, as concessões de meios eletrônicos não seriam como são no Brasil. Concessões do Estado e o papel de imprensa isento de taxa de importação. Por quê? Porque se entende que a imprensa tem um papel essencial num regime democrático e é isso que está sendo ferido. (…) Essa para mim é a questão essencial. Quando é que nós vamos ter maturidade no Brasil para entender essa tal função social do jornalismo. (…) Ou a gente muda esse estado de coisas ou amanhã acontece igual, como ontem aconteceu. Basta dizer o seguinte: grandes jornalistas como Mino Carta, Raimundo Pereira, Alberto Dines tiveram que buscar seus próprios veículos para poder sobreviver porque não encontraram mais lugar no mercado de trabalho."

Luiz Gutemberg, jornalista


"O governo do Rio têm o poder absoluto da publicidade do estado do Rio de Janeiro e, portanto, é o cliente ideal do jornal. E o jornal, tendo esses clientes, procura tratá-los às vezes até com subserviência. Não precisa que eles reclamem: os jornais oferecem as vantagens, o tratamento generoso para aquele anunciante. Nos Estados Unidos, o governo é proibido de fazer propaganda internamente, portanto é a forma ideal de se evitar que o Estado seja um concorrente – ou seja, um cliente da informação."