Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
O ataque do PCC à cidade de São Paulo surpreendeu muita gente, inclusive autoridades. Surpreendeu também a mídia paulistana, por uma razão que já foi tratada diversas vezes neste Observatório: quando trata da violência urbana, a mídia paulistana costuma olhar para o lado e só enxerga a violência do Rio de Janeiro. Por hábito ou cacoete esqueceu que o narcotráfico em São Paulo ultrapassou a dimensão do crime organizado e agora está na esfera do crime politizado. Isso muda tudo. Voltaremos ao assunto.
O prestígio de uma publicação constrói-se ao longo de anos mas, às vezes, este prestígio pode ser destruído em poucas edições. Veja corre o risco de desperdiçar uma história de sucesso para transformá-la numa história de descrédito irremediável. A última edição do semanário é um indício gritante.
Veja pretendia provar que o presidente Lula e alguns de seus colaboradores possuíam contas em paraísos fiscais, mas acabou envolvida numa das maiores fraudes jornalísticas dos últimos tempos. Quando não se tem certeza de uma informação, não se publica esta informação até que seja confirmada cabalmente. E se não for confirmada, fica na gaveta ou vai para a cesta do lixo.
Veicular uma suposição mesmo assumindo que é uma suposição atenta contra os mais comezinhos princípios jornalísticos e as noções mais elementares de decência. A liberdade de expressão não pode ser pretexto para irresponsabilidades que colocam em risco não apenas uma revista, mas a imprensa brasileira como instituição.
O mais grave é que o resto da imprensa noticiou a impostura. Mas nenhum jornal a comentou. Essa solidariedade com o erro não difere muito da solidariedade dos deputados que perdoam os colegas do mensalão. Se a imprensa fecha os olhos aos erros da imprensa, algum dia o leitor vai descobrir.