Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Atolados no lamaçal

Neste começo de semana, os principais jornais do país se desviam do escândalo que tem como epicentro o presidente do Senado Federal e testam outros temas não menos espinhosos, ameaçando manter o leitor preso no novelo das intrigas, do bate-boca, das informações obtidas em vazamentos de inquéritos.


Por enquanto, nenhum sinal de que a imprensa esteja interessada em melhorar a qualidade da agenda pública, colocando em debate a reforma política ou as propostas de estratégias sustentáveis para a retomada do desenvolvimento econômico. A política e o jornalismo encalharam no lodaçal. E parece que todos estão apreciando brincar na lama.


Os três jornais de circulação nacional não chegam a um ponto comum na abordagem do escândalo no Senado. A Folha de S.Paulo, que parece menos interessada no assunto, noticia aquilo que já vinha sendo anunciado desde o fim de semana: que a oposição ao governo federal entrou com recurso contra a decisão do presidente do Conselho de Ética do Senado para tentar abrir apenas um processo contra Sarney. O Globo afirma que o Partido dos Trabalhadores resiste a colaborar para que José Sarney seja levado a julgamento. E o Estado de S.Paulo noticia que não só o PT vai concordar com a aceitação de uma denúncia, como antecipa que o tema será a indicação de um namorado da neta para cargo no Senado.


Sarney se livraria facilmente da acusação e, em troca, seus aliados abandonariam as denúncias contra integrantes do PSDB. Ou seja, segundo o Estadão, todo o escândalo que paralisou o Congresso por mais da metade do ano e rendeu quilômetros de papel de imprensa vai acabar em mais um acordo.


Muito barulho


Nos jornais de terça-feira (11/8) já se podem notar os ensaios de outros escândalos com potencial para ocupar as futuras manchetes.


Nas primeiras páginas, destaque para o início de processo contra o empresário Edir Macedo e outros dirigentes da organização de negócios religiosos chamada Igreja Universal do Reino de Deus. Macedo e seus sócios no negócio de almas são acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.


Há também referências ao caso de corrupção que envolve a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, novos inquéritos na suposta relação criminosa entre o notório investidor Naji Nahas e o banqueiro Daniel Dantas, e a prisão de acusados num caso de fraudes em obras do Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC.


Mas tudo indica que o tema predileto da imprensa será a controvérsia criada pela ex-secretária da Receita Federal Lisa Maria Vieira, ao afirmar que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria feito pressões para acelerar a fiscalização da Receita contra empresas da família Sarney.


O leitor atento pode estar lembrando de Shakespeare e pensando: muito barulho por nada. Mas por trás de todo esse ruído, o observador pode perceber os sons da campanha eleitoral de 2010.