‘Apenas um resultado poderia começar a reparar o dano causado à reputação da televisão e sociedade britânicas depois da edição de 2007 do Big Brother de Celebridades‘, sentencia Mark Lawson em artigo no Guardian [29/1/07] um dia após a vitória da atriz indiana Shilpa Shetty no polêmico reality show transmitido pelo Channel 4. A controvérsia no programa se deu não por cenas picantes de sexo ou por complôs entre alguns participantes, e sim por uma onda de preconceito explícito que levou até o primeiro-ministro Tony Blair a se manifestar sobre o caso.
Shilpa, apenas por ser indiana, teve sua cultura, seu sotaque e seu país ridicularizados pelos companheiros de confinamento. No fim, ela disputou a vitória com o cantor americano convertido ao Islã Jermaine Jackson, irmão de Michael Jackson, e levou a melhor com 63% dos votos. A final multicultural serviu, de certo modo, de lição para um mês, segundo Lawson, ‘bizarro’, com duas participantes interrogadas em uma investigação para determinar se o tratamento recebido por Shilpa na TV violou leis anti-racismo. A investigação continua em andamento.
Corte no som
Apesar do suposto final feliz, um estranho incidente no encerramento do programa ao vivo pode botar mais lenha na fogueira. Por alguns instantes, o som da transmissão foi cortado – coincidentemente, alguns membros da platéia pareciam vaiar a atriz vitoriosa. A emissora se desculpou pelo problema técnico, e o som voltou a tempo de captar os fogos de artifício.
Durante quase toda a duração do programa, Shilpa sofreu na mão dos colegas. Foi chamada de ‘cadela’, de ‘poppadom’ (um tipo de pão indiano) e de ‘paki’, termo pejorativo para se referir a paquistaneses. Seu sotaque era satirizado, os participantes se recusavam a aprender a pronunciar seu nome corretamente e, em certa ocasião, um deles se negou a comer a comida preparada por ela. Em alguns dos episódios, o Channel 4 afirmava se tratar de um ‘confronto cultural’.
Saiu por cima
Ao vencer, a atriz indiana foi diplomática. Afirmou que não acredita que sua principal detratora – a inglesa Jade Goody, que ficou famosa ao participar de uma edição anterior do Big Brother – tenha tido a intenção de ser racista. ‘Eu quero apenas agradecer ao Reino Unido por ter me dado a oportunidade de dar orgulho ao meu país’, resumiu.
Lawson, em seu artigo, diz haver três interpretações possíveis para os comentários finais de Shilpa: ou ela é uma ótima atriz (‘e deveriam lhe dar o Oscar já’), ou ela estava dizendo realmente aquilo em que acredita, ou estava respondendo a racistas de forma calculada – mostrando a inteligência e a doçura que eles nunca serão capazes de ter.
O fato é que, se no fim o reality show foi bom para Shilpa, pode ter prejudicado a carreira e até as relações pessoais de alguns outros participantes. As perseguições à atriz e o comportamento preconceituoso – diante das câmeras – pegaram mal para as celebridades.