Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Brincando com fogo

O editorial do Estado de S.Paulo de sexta-feira (11/11) segue destilando ironias sobre a administração petista. Desta vez o autor constrói uma hipótese e a toma como garantida, para poder despejar sobre ela sua agressividade. Além de projetar o futuro a bel-prazer, o editorial arbitrariamente atribui papéis a ministros, assim confundindo o leitor.

O texto dilata a diferença de posições entre Dilma Rousseff e Antonio Palocci de forma a servir à tese do jornal de que são inconciliáveis e há descoordenação no governo Lula.

A matéria abre com um ‘Vem aí um ano de gastança eleitoral…’. O leitor se pergunta onde é que o jornal se baseia para lançar a frase ferina. Uma colocação alarmada como esta, vinda de um jornal com o peso de que o Estado desfruta na opinião pública nacional, é destrutiva. Montar numa palavra da ministra da Casa Civil, ‘rudimentar’, referindo-se a Palocci para estabelecer um 2006 de exagerados gastos públicos é precipitação.

Calúnias veteranas

A gafe de Dilma Rousseff quanto à política econômica nesta semana é antes um sintoma de amadurecimento nacional que o pluralismo petista estimula. Afinal, só autistas não hesitariam ao aplicar ao Brasil um tratamento antiinflação com a intensidade requerida por uma economia, faz uma década, era vítima de hiperinflação. Mas uma coisa é hesitar em adotar medidas cruéis, outra é não tomá-las quando forem o mal menor. Faz mais de 30 meses de vigor a austeridade Palocci.

No tempo dos governos militares, que o Estado tanto ajudou a levar ao poder, a população não enxergava a cozinha do debate. Simplesmente se trocava de ministro da Fazenda quando a dieta da austeridade apertava. Assim é que por alguma canetada decidida entre quatro paredes Delfim Neto substituiu Mario Henrique Simonsen em 1979.

Hoje, o relaxar dos juros quem prega abertamente é Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e outros muitos. A ministra tem companhia de peso.

As calúnias não são debutantes. O órgão de imprensa mais representativo das classes proprietárias paulistas, o Estado de S. Paulo, em 2002, lançara sobre a candidatura Lula a pecha de grande ameaça à estabilidade econômica tucana. A julgar pelas edições durante a campanha presidencial, a Lei de Responsabilidade Fiscal já podia encomendar seu réquiem. Assim o dólar bateu em 4 reais.

Provado está

O editorial de 11/11 prossegue em golfadas venenosas. Dá um parágrafo inteiro ao deputado Jose Carlos Aleluia (PFL-BA), este clone de ACM, tão raivoso quanto, que no ranço escravocrata sobrado na Boa Terra repreende Lula tanto por nomear como por demitir. O editorial pega carona na hipótese – outra – do parlamentar, para quem o chefe do governo pode estar propenso a ‘rifar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, como fez com o ex-ministro José Dirceu’. O mesmo Aleluia que cobrava a demissão de Zé Dirceu agora recrimina Lula por ter tirado Zé Dirceu! Afinal, o que quer o deputado?

O Estado está colaborando para a campanha de erosão da autoridade moral de Antonio Palocci, fazendo-se de escandalizado com suposto caixa dois de campanha eleitoral. Como se o PT o tivesse inventado. E neste moralismo hipócrita vale apoiar-se num ex-presidiário, Buratti, num bêbado, Poleto, e num morto, Barquete. Sendo um destes louvado publicamente por um condenado por manipulação de painel de votação do Senado, como o senador ACM.

Montados em acusações precárias, como essa dos dólares cubanos, a oposição parece esquecida de sua própria tortura quando da caluniosa Operação Caymán. A ira PFL-PSDB, que o Estado repercute e atiça, consegue pôr a escanteio pelo menos por alguns dias essa figura serena e competente do governo federal que é Palocci. Tudo isso em nome de um falso moralismo, pois caixa 2 não é novidade (embora tenha que ser rigorosamente combatido) e os havana-dólares ainda tenham que ser provados. Provado está, até porque Daniel Dantas não o nega, é que o Opportunity irrigou o cofre de Marcos Valério, que por sua vez bancou Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e depois os petistas.

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Dirigente de ONG, Bahia