Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cacos que a imprensa não junta

A edição de sexta-feira (4/9) da Folha de S.Paulo informa com exclusividade que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos descobriu movimentações financeiras suspeitas do banqueiro brasileiro Daniel Dantas entre as Ilhas Cayman e o Citibank de Nova York. A reportagem é parte das notícias que pingam eventualmente, quase sempre por intermédio da Folha, sobre as atividades do controlador do Banco Opportunity.


Tratado assim, como um mosaico de pedras soltas, fica difícil ao leitor entender do que se trata. Mas para o observador que coleciona recortes, começam a fazer sentido as preocupações que atacam certas figuras importantes da política e dos negócios nacionais cada vez que a imprensa cita o nome de Dantas.


A operação noticiada pela Folha desta vez dá conta de que o controverso empresário e sua irmã, Verônica Dantas, criaram um truste naquele paraíso fiscal, com três empresas em seus nomes, transferiram US$ 242 milhões do Fundo Opportunity para duas dessas empresas e depois enviaram o dinheiro a uma conta em Nova York.


A legislação proíbe a brasileiros residentes no Brasil participar de fundos dessa natureza, que são isentos de imposto de renda sobre ganhos de capital. Por outro lado, o valor transacionado é superior a todo o patrimônio declarado por Daniel Dantas à Receita Federal no período.


Um alento


A operação de transferência descoberta pelas autoridades americanas ocorreu em 2002. Quatro anos antes, o Opportunity Fund havia participado do processo de privatização das estatais de telefonia, gerando muitas suspeitas sobre a origem e os verdadeiros donos do dinheiro.


Até agora a Comissão de Valores Mobiliários do Brasil, que fiscaliza o mercado de capitais, não descobriu quem são os cotistas do fundo administrado pelos irmãos Dantas. Esse, segundo a Folha de S.Paulo, é também um dos maiores segredos do processo de privatizações realizado em 1998, que nem as investigações da Operação Satiagraha conseguiram desvendar.


A operação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos deve dar um alento ao processo, que por aqui andou esfriando depois que boa parte da imprensa resolveu que era mais interessante discutir os métodos do delegado Protógenes Queiroz do que os negócios suspeitos de Dantas e seus associados misteriosos.


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Crescimento poluído


Os jornais repercutem as notícias internacionais dando conta de que a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) declarou que a economia global está saindo da recessão em uma velocidade surpreendente, e que o mundo deverá voltar a crescer até o final deste semestre.


A OCDE prevê até mesmo o aumento do Produto Interno Bruto nos Estados Unidos e na União Européia no terceiro trimestre, embora essas economias ainda estejam sob os efeitos de programas estatais de estímulo.


Alemanha, França e Japão venceram a recessão no segundo trimestre, estimulando a recuperação no conjunto do G-7, o grupo dos sete países mais ricos, que também é formado por Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Itália.


Paralelamente, noticia-se também que os governos da Inglaterra, França e Alemanha estão defendendo, por meio de uma carta conjunta, que os ministros de Economia e de Finanças possam intervir no sistema financeiro para desmembrar e recompor instituições bancárias que representem risco sistêmico.


A intenção é aumentar o controle sobre a gestão dos fundos próprios dos bancos, para reduzir os riscos de volta da especulação e da chantagem de falência que abalou as principais economias do mundo no ano passado.


Esses três países lideram o esforço para regular o setor, que, como se sabe, andou sujeito a delírios de ganhos ilimitados e extremamente vulnerável à ação de fraudadores.


Péssima notícia


As duas notícias chegam em pacotes separados e nem todos os jornais juntam as duas pontas. Mas há uma terceira informação, publicada na sexta-feira (4/9) pelo Globo, e que deveria ser incluída no contexto do noticiário econômico. Segundo o jornal carioca, o governo da Índia anunciou que não será capaz nem de se aproximar das metas de redução nas emissões de gases do efeito estufa. Pelo contrário: os indianos vão triplicar em duas décadas o nível de envenenamento do ar.


Essa é a péssima notícia que será levada à conferência da ONU sobre o clima, a ser realizado em dezembro na cidade de Copenhague.


Fraude, descontrole e poluição. Tudo a ver.