As eleições estão aí e as próximas duas semanas prometem mais fúria e sangue. Se ainda existe a possibilidade de análises frias e não engajadas sobre o papel da imprensa nesse cenário, é preciso antes registrar alguns elementos.
1.
Os grandes jornais, aqueles que são chamados de circulação nacional, e que concentram o noticiário mais agressivo, funcionam claramente como linhas auxiliares da campanha oposicionista.2.
O governo é extremamente vulnerável a ações de lobistas, tem uma assessoria de comunicação pouco eficiente e tende a negligenciar cuidados básicos quando trata com correligionários.3.
O sistema partidário e o modelo de financiamento de campanha favorecem a corrupção.Isso posto, observe-se que o interesse jornalístico desapareceu das páginas da imprensa, uma vez que as linhas de divulgação dos escândalos associados ao noticiário político já não seguem uma lógica de investigação, de reportagem, mas o objetivo de causar impacto na opinião pública. Predominam as ilações sobre as informações.
Ruído puro
No caso que custou o cargo à ex-ministra Erenice Guerra, por exemplo, uma análise das mensagens supostamente enviadas pelo consultor ou lobista que é a fonte principal da imprensa deixa indícios de que o acusador tentava chantagear os supostos intermediários.
O prontuário policial do acusador recomendaria mais cuidado dos jornalistas, se de fato o que motivasse as reportagens fosse o desejo de informar e esclarecer os fatos.
O objetivo da imprensa parece ser provocar o segundo turno na eleição presidencial. O resto, ou seja, a apuração e o esclarecimento, ficam para depois, como aconteceu em 2002 e 2006. Ou para nunca.
Mas quais as chances de os grandes jornais e as revistas semanais de informação influenciarem a escolha de um número suficiente de eleitores?
Vejamos: o Brasil tem 135 milhões de cidadãos aptos a votar. Desse total, uma porcentagem desconhecida – predominante entre os menos educados – perderá o voto por causa da exigência de levar junto com o título de eleitor um documento com fotografia e pela complexidade do processo.
Os grandes jornais são lidos por cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente, ou seja, pouco mais de 1% do eleitorado. Com mais 2 milhões de leitores de revistas, esse total não chega a 3% dos que vão às urnas.
Para a maioria, que só se informa pela televisão, os telejornais são puro ruído – a não ser nos casos em que a notícia pode ser vista.
Aguarde-se, portanto, para os próximos dias, alguma cena de mala com dinheiro, dinheiro na cueca – ou na calcinha, coisa do gênero.