O governo vai congelar mais R$ 10 bilhões do orçamento, segundo anunciou na quinta-feira (13/5) o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Esse valor será somado aos R$ 21,8 bilhões contigenciados em março. O objetivo, segundo a explicação oficial, é impedir um aquecimento excessivo da economia e conter pressões inflacionárias. Um dia antes, num encontro da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em Brasília, o ministro havia repetido sua previsão de crescimento econômico de 5,5% e atribuído o aumento da inflação, neste ano, a problemas setoriais.
De um dia para outro a conversa mudou. Se não mudasse, ele precisaria desmentir a manchete da Folha de S.Paulo daquela mesma quinta-feira. Segundo o jornal, o Ministério da Fazenda havia estimado para o primeiro trimestre uma expansão de cerca de 2%, equivalente, em termos anualizados, a mais de 8%. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teria crescido, portanto, em ritmo chinês entre janeiro e março.
Publicada a notícia, o ministro Mantega simplesmente endossou a informação, sem mencionar o jornal. O governo, acrescentou, tentaria impedir um crescimento superior a 7% em 2010. Quanto ao corte de R$ 10 bilhões, também havia sido mencionado por um jornal: a referência havia aparecido no Globo daquele mesmo dia, no meio de um texto na página 3 do caderno de Economia. A matéria apenas citava discussões no governo a respeito da cifra, mas ainda sem consenso. O tiro acertou o alvo.
Pouco efeito
Essa história é mais um bom exemplo de como se pode construir a informação, tijolo a tijolo, no dia a dia, sem depender apenas das fontes de primeiro escalão. Com frequência, ministros são os últimos a contar os fatos ou, quando os contam, a revelar os detalhes. As condições mudam quando a imprensa faz um jogo ofensivo.
Se dependessem do ministro Mantega, as informações por ele confirmadas no dia 13/5 talvez ainda estivessem oficialmente em sigilo, Durante aquela semana, ele tocou na possibilidade dos cortes mais de uma vez, mas sem mencionar a estimativa de crescimento já conhecida no Ministério. Também não indicou o tamanho provável do novo corte. Apenas mencionou, já na segunda-feira (10/5), a hipótese de um congelamento de verba se fosse confirmada uma demanda excessiva.
A divulgação de novas estimativas de crescimento econômico por bancos e outras entidades privadas também forçou as autoridades a falar sobre o assunto. Mas o jogo mudou quando alguns jornais mostraram conhecer bem mais do que o primeiro escalão vinha revelando.
Confirmada a intenção do corte de R$ 10 bilhões, os jornais puderam avançar no jogo, procurando avaliações de especialistas. Alguns entrevistados criticaram o governo por haver decidido agir, segundo afirmaram, muito tarde, De acordo com essa avaliação, a nova iniciativa produzirá pouco ou nenhum efeito em 2010. Outros qualificaram o corte como insuficiente, em vista do tamanho dos gastos previstos no orçamento.
Prato apetitoso
O outro grande assunto nacional, na área da política econômica, foi a entrevista do pré-candidato José Serra, na segunda-feira, à rádio CBN. Suas críticas à política de juros do Banco Central eram conhecidas. Ele as confirmou, mas tentou desconversar quando lhe perguntaram sobre a disposição de intervir nas decisões de política monetária.
Não deu resultado. Ficou exposto às críticas da pré-candidata oficial, Dilma Rousseff. A posição da senadora Marina Silva, pré-candidata pelo PV, já era conhecida: ela tem defendido com todas as letras o respeito à autonomia do BC.
Tudo isso foi um grande prato para os jornais. O banquete deveria continuar na segunda-feira (17/5), data prevista para a segunda entrevista da série da CBN. Seria a vez da ex-ministra Dilma.
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Jornalista