Em pelo menos duas ocasiões perguntei a ombudsman diferentes da Folha de S.Paulo quais critérios são utilizados para no interior de uma reportagem chamar este ou aquele governante de ditador. Em nenhum dos casos a resposta se aproximou de algum critério que possa ser chamado de razoável, minimamente técnico.
Mídia livre; justiça independente, pluripartidarismo e liberdade religiosa são critérios quase consensuais para definir uma democracia. Não para a Folha de S. Paulo, que faz um zig-zag quando se trata de definir uma democracia. Quando se trata da China, é o “premiê” X. No caso da Arábia Saudita ou outra ditadura árabe qualquer, é o rei ou sheik Y. E quando é Cuba, é o ditador Fidel Castro, no passado, ou Raúl Castro agora. Mas, peraí, e a China e essa penca de países árabes que enforcam de uma lapada só 40 pessoas sem direito a defesa são democracias?
Nas relações internacionais, a hipocrisia nada de braçadas. Cuba, quando comparada com a Arábia Saudita, é um paraíso democrático. No entanto, os Estados Unidos, que a bloqueiam criminosamente há mais de 50 anos por sua falta de democracia, são aliados até o pescoço da feroz ditadura saudita.Essa mesma que enforca 40 pessoas sem julgamento numa noite só, onde mulher não vota nem exerce função pública… No caso da China é a mesma coisa. A China é uma mega ditadura de partido único. E nada de bloqueio econômico, pois os Estados Unidos não ousam colocar a democracia acima de seus interesses econômicos diante de um mega mercado de mais de um bilhão e trezentos milhões de consumidores. Nas relações internacionais, o econômico dita regras que jogam a democracia para escanteio.
Nossa “mui digna” mídia escreve com canetas da diplomacia americana. Por isso acha normal chamar os líderes de Cuba de ditadores enquanto os ditadores chineses e sauditas são presenteados com eufemismos.
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Nilton José Dantas Wanderley é bacharel em Ciências Sociais e pós-graduado em