O anúncio do pacote de ajuda de até 750 bilhões de euros a países europeus sob risco, que fez disparar a Bolsa de Valores e derrubou a cotação do dólar, está nas primeiras páginas de toda a imprensa nas edições de terça-feira (11/5).
Também aparece em destaque a declaração do ex-governador de São Paulo, José Serra, que se irritou durante entrevista matinal à rádio CBN e emitiu opiniões polêmicas sobre a autonomia do Banco Central.
Nos dois episódios, os jornais se agarram aos fatos e deixam de lado a oportunidade da análise, omitindo dos leitores a relação direta entre as duas notícias e um dos temas centrais da atual campanha eleitoral: o papel do Estado diante das questões econômicas.
Na pequena área
Por meio de editoriais e nas escolhas de seus comentaristas prediletos, a imprensa brasileira faz saber, permanentemente, que defende a tese do ‘Estado mínimo’ e não perde oportunidade para condenar tudo que lhe parece intromissão demasiada do setor público nos negócios privados.
No entanto, quando a União Européia age para evitar que as ações de investidores privados derrubem a economia de alguns países, como Grécia, Espanha e Portugal, e tratando de salvar o mercado, os jornais se esquecem da polêmica sobre o tamanho do Estado.
Da mesma forma, quando o candidato que é líder nas pesquisas eleitorais deixa escapar que pode discordar da autonomia do Banco Central, a imprensa deixa a bola quicando na pequena área e finge que o assunto é outro. Afinal, qual dos candidatos parece mais intervencionista? Isso é bom ou ruim?
Viés ideológico
Reportagens sobre o tamanho da máquina governamental e uma ingerência supostamente indevida do Estado na economia – como a que aparece na edição corrente da revista Época – ficam sem fundamento quando o mesmo Estado entra em campo para salvar o mercado de sua própria irracionalidade.
A imprensa brasileira omite ou parece ignorar que a própria Constituição estabelece limites à iniciativa privada, reservando ao Estado o papel normativo e a função de intervir na economia sempre que necessário, inclusive na contenção de lucros abusivos.
A rigor, o texto constitucional brasileiro é contrário ao neoliberalismo.
Os jornais adoram suscitar o debate quando acusam o Estado de intervencionismo, mas quando os fatos e declarações de candidatos caminham na contramão do viés ideológico que predomina na imprensa, o contraditório desaparece.
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A imprensa de chuteiras
Na noite desta terça-feira (11/5), quando o Brasil ainda vai estar comentando a lista de jogadores convocados para a seleção que irá disputar a Copa do Mundo na África do Sul, o Observatório da Imprensa na TV estará reunindo alguns dos mais renomados jornalistas esportivos para debater as escolhas do técnico Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga.
Em pauta, a decisão de Dunga a respeito de dois jovens atletas do Santos Futebol Clube, Neymar e Paulo César Ganso, que se destacam nesta temporada como as grandes revelações do esporte nacional.
Poucas vezes a pressão da imprensa foi tão grande pela convocação de um jogador. Em 1970, a imprensa deu espaço para a cobrança do então presidente Emílio Garrastazu Médici, que queria o atacante Dario na seleção dirigida por João Saldanha. Saldanha respondeu que o presidente convocava ministros e ele convocava a seleção. Foi substituído por Zagalo.
Em 2002, o técnico Luiz Felipe Scolari foi questionado por deixar Romário de fora da lista.
Neste ano, alguns jornalistas usaram a resistência de Dunga aos nomes dos jovens craques santistas para questionar a competência do técnico da seleção.
O Observatório da Imprensa na TV vai discutir essa e outras questões, como, por exemplo, se esse tipo de cobrança da imprensa é válido, ou se ainda existem resistências ao nome de Dunga, às vésperas da abertura da Copa.
Além da oportunidade de ver e ouvir as opiniões dos maiores craques do jornalismo esportivo, juntos, os telespectadores poderão, como sempre, participar através do telefone ou pela internet.
O Observatório na TV será transmitido em rede nacional ao vivo, a partir das 22h, pela Rede Brasil. Em São Paulo, pelo canal 4 da NET e 181 da TVA.