Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

CONTROVÉRSIA
Carla Soares Martin

CartaCapital dá capa sem ouvir Kaká e Renascer, 18/1

‘A reportagem da capa CartaCapital desta semana, ‘Fé, Família e Dinheiro’, foi escrita sem buscar ouvir o jogador Kaká, sua sogra, Rosangela Lyra, e a Igreja Apostólica Renascer em Cristo.

Segundo a revista, no entanto, todas as informações da matéria foram checadas e apuradas com outras fontes. ‘Se você tivesse um documento importante e oficial como a petição de um promotor para investigar as relações de Kaká com a Renascer, você entrevistaria antes?’, justificou o autor da matéria, o jornalista Paolo Manzo.

A edição 478 publica um documento do promotor Marcelo Mendroni, do Ministério Público de São Paulo, pedindo informações a Kaká sobre suas relações com o casal Hernandez – Estevam Hernandes Filho e Sonia Haddad Moraes Hernandes –, responsáveis pela Igreja Renascer. Ambos estão cumprindo pena de dez meses de prisão nos Estados Unidos por entrarem irregularmente com US$ 56 mil no país. A reportagem informa, ainda, que Kaká daria em torno de R$ 2 milhões para a Igreja, em forma de dízimo, e que a sogra do jogador, Rosangela Lyra, via com ressalvas a conversão da filha Caroline à Renascer.

CartaCapital valeu-se de informações do promotor Marcelo Mendroni e outras de domínio público, apuradas pela Folha de S.Paulo e pelo jornal italiano La Gazetta dello Sport. No site da CartaCapital, o repórter diz que seu único engano foi atribuir o cargo de juiz ao promotor Marcelo Mendroni. ‘Tudo que escrevi é autêntico’, disse.

Em entrevista ao Comunique-se, o repórter explica sua posição: ‘Jamais falei na publicação que entrevistei Rosangela Lyra, Kaká ou membros da Renascer. Eu não tenho que entrevistar Kaká. Quem quer fazê-lo é a Promotoria.’ Paolo Manzo acrescenta que a matéria deveria sucitar um debate sobre as formas de se fazer jornalismo. ‘Tinha um documento forte nas mãos e me preocupei apenas em publicar essa informação’, disse.

Sobre as informações da matéria, um dos principais pontos de questionamento é a informação de que Kaká daria R$ 2 milhões à Renascer. Esse dado, no entanto, é apenas cogitado, não confirmado. ‘Segundo uma reportagem de La Gazzetta dello Sport, o principal jornal esportivo da Itália, Kaká ganha 17 mil euros, cerca de 45 mil reais, por dia. Multiplicando por 365 dias ao ano, dá mais de 16 milhões de reais, sem contar as entradas provenientes dos prêmios-partida e dos patrocínios. É por essas contas que Kaká repassaria à Renascer mais de 2 milhões de reais ao ano’, escreve Manzo.

A respeito das informações da sogra Rosangela Lyra, católica, que estaria em dúvidas quanto à conversão da filha à Renascer, o repórter utilizou declarações dela na ocasião do casamento de Caroline com Kaká, em 23/12/05, e uma desavença que recentemente teria ocorrido quando a filha teria pedido à mãe para retirar a imagem de Nossa Senhora do carro.

Sobre a Renascer, o repórter informou as acusações do promotor Mendroni, mas não se preocupou em procurar a igreja.

Kaká

O assessor do Kaká, Diogo Kotcho, contesta que o jogador não foi procurado para comentar se dava mesmo os R$ 2 milhões para a Igreja, nem se o número 1 do mundo teria recebido o pedido de esclarecimentos do promotor Mendroni.

Kotcho escreveu uma declaração ao Comunique-se informando com detalhes a sua posição sobre a apuração da CartaCapital.

Renascer

A Igreja Renascer, através de sua assessoria, escreveu uma nota à imprensa informando que vai processar o promotor, a publicação e o jornalista pela matéria. Apesar de escrever que a reportagem está ‘repleta de erros e suposições’, não desmente os fatos. Concentra-se nas acusações contra o promotor, inclusive por ter supostamente usado o jornalista para se promover.

A assessoria da Renascer afirma ainda não ter sido procurada para falar sobre as apurações de Mendroni, do suposto desvio de dinheiro.

Sogra de Kaká

Rosangela Lyra mandou um comunicado à revista, afirmando estar ‘surpresa’ por não ter dado declarações e, ainda sim, a CartaCapital ter afirmado que ela tinha dificuldades de aceitar a conversão da filha. ‘Nunca dei nenhuma entrevista ou falei com o jornalista que assina a matéria nem com ninguém da revista Carta Capital. Uma das citações inclusive está colocada entre aspas como se eu tivesse dado a declaração’, afirmou, ‘perplexa’, Rosangela.’

NOVAS MÍDIAS
Bruno Rodrigues

A coragem de Fátima Bernardes, 18/1

‘Nada como se surpreender positivamente com quem você não conhece – veja a Fátima Bernardes, por exemplo. Nunca achei que ela correspondesse, de fato, à imagem asséptica que passa; quem está no mercado há algum tempo sabe que há efeitos colaterais indesejáveis em estar sempre sob os holofotes.

Mas, confesso, não achava que a apresentadora do Jornal Nacional fosse tão simples, sincera e corajosa como se mostrou no último ‘Marília Gabriela Entrevista’, exibido pelo GNT no domingo passado.

‘Corajosa? Como assim?’ Não, não me refiro ao assalto que ela e William Bonner sofreram em casa e que já se tornou um clássico do terror urbano carioca. A questão é bem menos séria, mas nem por isso menos surpreendente.

Acostumada a jogar nas onze na área pessoal (trigêmeos lhe diz alguma coisa?) e profissional (quem é âncora de telejornal e cobre a Copa do Mundo com os pés nas costas?), Fátima Bernardes não gosta de internet.

Pausa.

Calma! Isso não significa que ela não acesse a Rede como todo jornalista ou mortal. O ponto é que Fátima na gosta de trabalhar com internet. ‘O William me pediu para cuidar da página do JN na internet, mas eu realmente não gosto, não é a minha’, confessou à Gabi. Sendo mais preciso, não houve tom de confissão algum; foi um simples comentário, mesmo.

Algum problema? Claro! Até pouquíssimo tempo, um profissional de Comunicação que demonstrasse frieza com a nova mídia seria taxado de ultrapassado, retrógrado, limitado. Tudo o que, por exemplo, Fátima não é.

A grande diferença de a moça ter levantado o dedo primeiro é que muitos a seguirão, tenha certeza: profissionais que jogam um bolão na mídia impressa, em rádio, na publicidade e por aí vai. Gente que de uma maneira tão simples como Fátima Bernardes adora o que faz, faz muito bem, mas, com licença, não gosta de internet, não.

Vivendo e aprendendo…

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Ainda dentro deste raciocínio, se você está na chuva, é para se molhar. Ou seja, optou por trabalhar com conteúdo na Rede, faça bonito e abrace a causa. Não faça como a revista ‘Claudia’ deste mês.

Passe nas bancas e dê uma olhadinha: há uma belíssima matéria sobre Benazir Bhuto, de várias páginas, que tem como abre-alas uma foto da também belíssima ex-primeira-ministra do Paquistão. A edição é de janeiro de 2008; Benazir foi assassinada em 27 de dezembro de 2007. A matéria foi claramente feita antes dela morrer. Que azar!

Não vou ficar aqui judiando dos outros, afinal, mídia impressa é assim. Fechada a edição, alea jacta est. Acontece apenas uma vez em um milhão, mas aconteceu e justamente com a pobre da ‘Claudia’ de janeiro.

Dito isso, venham cá, amigos de ‘Claudia’: a revista tem um – para não perder o ritmo –belíssimo site, e com várias matérias do mês (se não todas) disponíveis para leitura. Não era lá o lugar perfeito para criar uma suíte para a reportagem sobre Benazir Bhuto, lamentando sua passagem no apagar de luzes do ano que terminou? Seria um fecho bonito para um perfil muitíssimo bem feito.

Qual nada. Procure pela matéria no site da ‘Claudia’: é como se a matéria nunca tivesse existido. Foi varrida do mapa. Não está no índice, não se acha na busca, evaporou. É a versão digital do ‘varrer para debaixo do tapete’. Por quê, meu Deus? Não era para ser o inverso, aproveitar as características básicas do jornalismo online e acrescentar a informação? Não: pelo jeito, lá se trabalha online com a cabeça (literalmente) offline. A ‘Claudia’? A Editora Abril? Mesmo?

Vivendo e aprendendo…

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Para você, duas boas dicas de cursos:

– Quem quiser ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é só entrar em contato pelo e-mail extensao@facha.edu.br ou ligar para 0xx 21 2102-3200 (ramal 4) para obter mais informações sobre meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’. As aulas da próxima turma, que terá início em 12/02, serão ministradas no Rio de Janeiro, ao longo de seis terças-feiras à noite, em Botafogo.

– Estão abertas as inscrições para a segunda turma da Pós-Graduação em Gestão em Marketing Digital da FACHA, no Rio de Janeiro, da qual sou Coordenador. Com 16 disciplinas, entre elas E-commerce, Gestão de Contas, Gestão de Conteúdo, Gestão do Conhecimento, Inteligência de Mercado, Marketing de Relacionamento Online e Otimização em Mecanismos de Busca, o objetivo do curso é preparar profissionais capazes de tomar decisões no campo do marketing para a mídia digital e atualizar os que já estão no mercado. Para mais informações, posholos@facha.edu.br.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

TV PÚBLICA
Milton Coelho da Graça

TV Brasil passa em teste de vigilância, 18/1

‘Antonio Brasil, meu companheiro aqui no Comunique-se, fez uma crítica severa às primeiras semanas de programação da TV Brasil e acho que, em conjunto com os muitos comentários de seus leitores, oferece uma boa discussão democrática sobre a qualidade do jornalismo até aqui apresentado. Está bom? Não, reclama com razão Antonio Brasil. Mas o contra-argumento de que a implantação da TV Brasil ainda realmente não se consumou – nem institucionalmente nem na programação – tem de ser levado em conta.

Aí, nesta quinta-feira (17/1), surge uma outra crítica, desta vez vinda do Conselho Curador, incluído pelo governo na estrutura da emissora, para garantir equilíbrio e pluralismo, tanto na informação como em debates, tanto na área jornalística como na cultural.

Foi um primeiro teste. Um dos conselheiros, José Paulo Cavalcanti Filho, criticou o fato de que, no programa ‘Ver Tudo’, os três debatedores consideraram ‘normal’ a não-renovação da concessão da RCTV, emissora venezuelana de televisão.

Contra ou a favor da TV Pública, não se pode deixar de dar um voto de confiança ao Conselho Curador, presidido pelo economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Beluzzo, ao agir da mesma forma como agiriam os Conselhos, que, em outros países democráticos, zelam pela sutil mas clara diferença entre os interesses do governo e os interesses do Estado e da Cidadania. E, pelos relatos da imprensa, os ministros Franklin Martins, Gilberto Gil e Sérgio Rezende, mais a presidente da TV Brasil, todos do Conselho apoiaram esse zelo.

‘A TV pública também tem que ouvir quem é contra’ – disse Belluzzo. Temos que ser democráticos’.

É um bom começo.

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Blog cada vez mais na moda

A circulação de jornais nos Estados Unidos continua caindo – em 12 meses, a queda foi de 3%. As empresas buscam freneticamente novos modelos de negócio e a aproximação maior com os blogs é um dos itens mais freqüentes nas propostas de novos modelos.

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Enquanto isso, a internet….

Segundo pesquisa anual que a Associação Européia de Publicidade Interativa promove desde 2003, pela primeira vez a internet ultrapassou a televisão na lista dos meios de comunicação preferidos pelos europeus. va. Os jovens entre 16 e 24 anos ficam 10% a mais de seu tempo colados na web do que na tevê.

96% da garotada também disseram que, por causa da internet, diminuíram o tempo dedicado a outros meios de comunicação. Resultado líquido: 40% dos europeus vêem menos TV e 28% lêem menos jornais.

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

Antonio Brasil

TV Brasil: a Radiobrás conseguiu piorar a TVE, 14/1

‘Em poucas palavras, após um mês no ar, já é possível dizer que a TV Brasil é muito, muito ruim! Pior do que as piores previsões. E o público que não é bobo, ignora solenemente a sua dispendiosa existência. Seus responsáveis conseguiram o impossível: pioraram o que já era ruim, a velha e combalida TVE do Rio de Janeiro.

Em termos de jornalismo, a TV Brasil tem a cara de um dos piores fenômenos da comunicação brasileira: e internacional: A Voz do Brasil da Radiobrás.

Mas há sempre os críticos otimistas, comprometidos ou engajados nos projetos do governo, que tentam diminuir a frustração. Afinal, nem tudo dá certo de cara. Vide o nosso país ou os projetos do governo. Os críticos otimistas buscam explicações no passado para justificar a falta de planejamento, a falta de pesquisas e a pressa para impor velhas idéias ou preconceitos sobre como deveria ser uma televisão. Uma televisão, muitas vezes, para quem, na verdade, não gosta de televisão.

TV Vale Tudo

Afinal, dizem eles, nem tudo começa bem. Os exemplos vão das novelas do passado aos governos do presente. De Roque Santeiro às atuais promessas de uma TV pública de verdade, a novela ‘Vale tudo’ é o melhor argumento para explicar e garantir uma mídia mais amistosa e alguns bons empregos.

Nos últimos dias, pude assistir à programação da TV Brasil. Estão matando uma boa idéia, uma boa proposta com o que há de pior na TV. Em plena era da Internet e opção midiática cada vez maior para um público cada vez mais exigente, a programação da TV Brasil é tudo que uma TV não deveria ser. É muito, muito chata, velha e previsível. A TV Brasil é uma antiTV. As comparações com a pior rede de TV brasileira de todos os tempos, a famigerada CNT, são inevitáveis. O problema é que nós estamos bancando esse desastre.

A programação da TV Brasil reflete a pressa e a improvisação. Não há uma estratégia de comunicação, nada faz sentido e o público é ignorado. Uma televisão de burocratas para simpatizantes. Para quem assiste televisão desde os anos 50, a TV Brasil é um total retrocesso na linguagem do meio. Digital ou analógica, comprova as piores previsões do fim da TV nos próximos anos.

Velhos programas com velhos apresentadores defendendo idéias ainda mais velhas. Nada, absolutamente, nada de novo, experimental ou ousado. É a televisão do previsível, do seguro, uma televisão para converter os convertidos e divulgar as propostas mirabolantes do governo.

Jornalismo Secos e Molhados

E o pior é o telejornal, um tal de Repórter Brasil. Uma seleção de matérias insossas, chamadas de ‘positivas’ para garantir de forma ‘equilibrada’ os interesses dos ministérios do governo. Um telejornal de boas notícias sobre um país que não existe. Um jornalismo de elogios com mais cara de Voz do Brasil é impossível.

Tem matérias sobre os ‘avanços’ no turismo, na saúde, nos transportes, na segurança em quase tudo que deveríamos ter, mas não temos. É um telejornal de ‘faz de conta’ que vai tudo bem. Nenhuma polêmica, nenhuma denúncia, nenhuma investigação, pois afinal a proposta é fazer um jornalismo ‘positivo’, ou seja, irreal!

Bem já dizia o velho Millôr, ‘imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados’. Pelo jeito, a TV Brasil optou pelo telejornal de secos e molhados.

E no ar, ficam as perguntas que não querem calar: será que o Congresso vai aprovar a medida provisória que criou essa tal de TV Brasil? E no próximo governo, qual será a cara dessa TV Brasil? Mais estatal, pública, educativa ou simplesmente… mais partidária?

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

BLOGOSFERA
Marcelo Russio

Blogs existem para noticiar… ou não, 15/1

‘Olá, amigos. Os grandes sites de notícias têm, sem exceção, um belo time de blogueiros. Normalmente são pessoas especializadas nos assuntos que abordam, e que trazem análises e novidades bastante interessantes para quem os lê. Ultimamente, uma discussão tomou conta das redações: qual o papel dos blogs? Dar informação ou apenas comentá-las? A dúvida, a princípio, parece simples, mas não é tanto assim.

Um blog que pertença a um site de notícias, ao dar uma notícia exclusiva, acaba furando o próprio site que o abriga. Na teoria, o conteúdo da informação está no mesmo ambiente, o que não feriria a integridade jornalística do veículo em sua função principal, que é informar. Mas, por outro lado, a informação, ao ser dada por um blog, acaba sendo passada por quem tem a função de comentar, o que pode influenciar a compreensão de quem lê.

As funções do blog, portanto, precisam ser muito bem definidas pelo comando dos sites. Ou o blog tem plenos poderes para informar, e corre o risco de furar o próprio site, ou ele se mantém como um canal de opinião e análise, complementando e enriquecendo o noticiário do veículo que o abriga.

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A novela que se tornou a informação do problema de saúde do jogador Nenê, do Denver Nuggets, da NBA, é uma amostra do quanto os nossos atletas ainda podem evoluir em esclarecimento pessoal. O jogador decidiu não tornar público o seu problema (supostamente um tumor nos testículos), e criou um ambiente de especulação que fez mal não só a ele, mas à sua imagem e, pior ainda, aos seus fãs e à sua família, que ficaram tensos por razões distintas. Uns por não saber do que se tratava, e outros por terem que fugir da imprensa, que fez seu papel de buscar a informação que não lhe foi passada pelos canais normais.

Entendo que Nenê queira manter sua privacidade, mas é inconcebível que ele mesmo não perceba que sua decisão de esconder o problema tornou sua situação um calvário que ele poderia ter evitado se seguisse o exemplo do Magic Johnson, ou os conselhos de seu técnico, George Karl. Magic convocou uma coletiva de imprensa e comunicou ser portador do vírus HIV. Karl sofreu de câncer e informou a todos através de um comunicado oficial. Sem mistérios.

Fica a lição ao simpático Nenê. Esconder um problema não significa solucioná-lo. Força, rapaz!

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Exemplos de desamor, 17/1

‘A eternidade acampou

e faz a ronda

(Nei Duclós in O rio não morre)

Exemplos de desamor

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal mineira, enviou artigo escrito especialmente para o Blogstraquis, no qual denuncia a vocação predatória de Belo Horizonte, cujo alvo mais recente é um tradicionalíssimo armazém de secos & molhados do Mercado Municipal:

(…) é uma cidade sem glórias na sua história; daí, talvez, o desprezo que dedica ao ontem, ao passado. Desenho de prancheta, traçado geométrico em retas transversais, criada para abrigar núcleos administrativos, comerciais, hospitalares, desprezou todos os movimentos culturais e seus expoentes.

(…) Os exemplos de desamor são tantos e variados que a cidade não vai sentir o desaparecimento do Armazém dos Marteletto, conservador nos hábitos e na honestidade.

Confira aqui o excelente texto, escrito sem a pena da galhofa mas com a tinta da melancolia.

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Mau tempo

Desde os tempos de Ali Babá e os 40 mensaleiros, pela primeira vez nevou em Bagdá. Impressionado, Janistraquis prenunciou:

‘Considerado, a situação do Iraque é tão infame que depois da neve cairá, certamente, uma chuva de bosta.’

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Jardinzinho

Janistraquis e eu fomos apresentados a um veado que tem a voz da Xuxa e se chama Agapanto.

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Alô, alô, cambada!

Deu no UOL Últimas Notícias:

11/01/2008 – 03h00

FBI tem grampo interrompido por não pagar conta de telefone

Janistraquis se divertiu:

‘Considerado, a trapalhada é tão espetacular que parece coisa do PT…’

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Canções do exílio

O considerado e excelente poeta Álvaro Alves de Faria escreveu no blog que assina no Bravo! online:

Refugiei-me em Portugal, onde tenho 19 leitores, em busca da poesia que me falta no Brasil, este país de equívocos e de alguns facínoras que fazem o que bem entendem na área da literatura. O livro vai chamar-se ‘Alma Gentil’ e vai reunir ‘20 poemas quase líricos e algumas canções para Coimbra’, ‘Poemas portugueses’, ‘Sete anos de pastor’, ‘A memória do pai’, ‘Inês’ e ‘O poema, Sophia.’. Terei a apresentação de Miguel Sanches Neto. Isso me basta.

Leia aqui os textos do poeta, cujo estilo é conhecido por todos os que, há alguns anos, o acompanhavam nas tardes da Jovem Pan.

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José Dirceu

O considerado Marcelo Coelho, um dos melhores textos da praça, escreveu na Folha de S. Paulo a propósito da matéria que Daniela Pinheiro fez com José Dirceu na revista piauí:

(…) Brejnev, por exemplo, pintava o cabelo. Quem pensava ter o curso da história nas mãos não podia ser dominado pela corrosão do tempo. Fazer-se de morto é, algumas vezes, o mais poderoso elixir da longa vida. José Dirceu continua assustador.

Leia no Blogstraquis a íntegra deste artigo exemplar.

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Vírus Bradesco

O colunista recebeu do Bradesco a seguinte mensagem:

Consta em nosso sistema uma falha na autenticação de seu certificado ocorrendo erro na atualização de seu Certificado Digital, por favor execute novamente o arquivo de atualização para completar sua atualização.

Essa atualização é de extrema importância para que o cliente possa continuar acessando sua(s) conta(s) normalmente.

Para realizar a atualização escolha uma das opções abaixo:

http://www.bradescopessoajuridica.com.br/certificado-3.3.25-link1.exe

http://www.bradescopessoajuridica.com.br/certificado-3.3.25-link2.exe

Para realizar a atualização basta clicar no link acima e logo após em executar, feito isso aguarde alguns segundos e siga as instruções de instalação.

©2007 Banco Bradesco S/A – Todos os direitos reservados

Pois no instante em que eu apontava o dedo para clicar no tal link, Janistraquis interveio:

‘Pô, considerado, vai ser burro assim lá na Paraíba! Não tá vendo que é um puta dum vírus? Desde quando tu tens conta no Bradesco?!?!?!

É mesmo, o colunista nunca teve conta no Bradesco…

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Acrescente aos favoritos

Em 18 de dezembro passado o colunista comemorou 20 anos de sobrevivência a um espetacular acidente na Via Dutra, acidente no qual fraturou todos os ossos do rosto. Um dos médicos que ‘consertaram’ aquele estrago foi o doutor Ovídio Soccol, oftalmologista da Santa Casa de São Paulo e especialista em reconstituição do canal lacrimal.

Doutor Ovídio morreu em 2006, mas deixou um herdeiro de suas habilidades, o filho e também oftalmologista Fábio Medaglia Soccol. Pois este, que desde cedo convive com a insegurança de pacientes, quase nunca informados sobre a origem de seus males, criou um site para orientar os que precisam trilhar o, digamos, caminho das pedras. É só se cadastrar e pronto, tem-se acesso aos conhecimentos de inúmeros profissionais, de todas as áreas e especializações, sem nada pagar.

Conheça e divulgue o site Linha1, por cuja honestidade o colunista põe a mão no fogo.

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Nei Duclós

Do livro Partimos de Manhã, atualmente em fase de acabamento, é o poema cujo excerto encima esta coluna. Leia no Blogstraquis os versos do considerado Nei Duclós, gaúcho de Uruguaiana, versos que sabem a cabanhas, saladeiros e águas profundas.

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Coisa de louco!

A considerada Wanda Oliveira Camargo, estudante de Psicologia em São Paulo, envia chamada de capa da Folha de S. Paulo para matéria da Ilustrada:

Safra de filmes oscarizáveis estréia com ‘Desejo e Reparação’.

Wanda tem certeza de que o jornal começa a abusar do idioma:

‘Vocês não acham que em vez de implicar com palavras estrangeiras o projeto de lei do deputado Aldo Rebello deveria proibir essas invenções criadas por redatores malucos?’

Janistraquis acredita, ó considerada Wanda, que pelo menos por enquanto o idioma não precisa ser ‘defendido’ a ferro e fogo; basta um pouco de água fria para refrescar a cabeça de editores altamente, digamos, manicomiáveis.

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Parapresidente

Piadinha que circula na internet com velocidade de injúria, calúnia e difamação:

Diante do grande apelo de marketing do Pan-Americano e das Olimpíadas, um menino de seis anos pergunta ao pai:

– Papai, o que é Paraolimpíada ???

O pai, com habilidade, responde:

– Assim como tivemos o PAN e o PARAPAN, teremos as OLIMPÍADAS e as PARAOLIMPÍADAS. As PARAOLIMPÍADAS são para os atletas especiais, com deficiência física ou mental; entendeu, filhinho ?

– Ah, papai entendi! Assim como teve eleição PARAPRESIDENTE e o LULA GANHOU, NÉ???

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‘Pousando’ nu

Chamadinha na capa da Folha:

Mulheres comuns pagam para pousar nuas em books particulares

Janistraquis, que tem tanta criatividade quanto um bom advogado, logo imaginou a dona-de-casa a descer do Pavão Misterioso diretamente no estúdio do fotógrafo, cena deveras impagável, porém a matéria propriamente dita esclarecia:

Mulheres pagam R$ 1.500 para ter dia de Mônica Veloso

Kit do sonho de posar nua ou seminua inclui produção temática, figurino sensual, locação no motel e Photoshop

Inspiradora das ‘playmates’ anônimas, jornalista afirma que nunca teve vontade de fazer fotos sem roupa, por ser mais ‘reservada’

Então não era pousar, mas posar e meu secretário garantiu que, disfarçado de Dercy Gonçalves e com ou sem as asas do Pavão, tentará posar nu para a Playboy, principalmente depois de ler o seguinte trecho da matéria:

‘Os cachês para quem posa nua para a revista ‘Playboy’ são, em geral, múltiplos de R$ 100 mil.’

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Picapau Amarelo

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, cujo prédio fica no meio do caminho entre o que foi prometido e o que não se fez, pois Roldão lia o caderno Super!, do Correio Braziliense, quando algumas imprecisões na matéria intitulada Quem é quem no Sítio do Picapau Amarelo levaram-no aos melhores anos da infância.

O mestre corrigiu o texto do jornal, homiziado às páginas 4/5:

1. Dona Benta é a avó de Pedrinho e Narizinho, portanto foi casada e teve filhos que lhes deram netos. Não pode ser chamada de senhorinha…

2. A empregada de Dona Benta se chama ‘tia Nastácia’ e não ‘tia Anastácia’, como está escrito na matéria.

Janistraquis, há muito convencido de que a ignorância precisa ser combatida desde a mais tenra idade, também lamenta profundamente que repórteres e redatores desconheçam a obra fundamental de Monteiro Lobato.

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Nota dez

Sob o título Poder e Política, segundo Vargas, o considerado Mauro Santayana, íntimo de todas as palavras, escreveu no Jornal do Brasil:

A principal qualidade de Vargas – escassa nestes anos magros – foi a do patriotismo. Como algumas grandes personalidades de nosso passado, ele foi incansável construtor da nacionalidade.

Graças a homens de sua altura – e ainda temos alguns poucos em nosso tempo – ela ainda está de pé, quando tantos internacionalistas de hoje buscam reduzi-la a resignada província do condomínio imperial euro-americano.

Leia no Blogstraquis a íntegra deste artigo deverasmente indispensável.

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Errei, sim!

‘ALENTADO PERFIL – Leitor atento da Exame Vip, Janistraquis recortou e emoldurou a abertura da reportagem intitulada O outro lado do espelho, um alentado perfil da empresária de moda e jornalista Costanza Pascolato: ‘Supondo-se verdadeira a expressão popular que diz ser a namorada o leite, a noiva a manteiga e a esposa o queijo, pergunta-se: em qual das prateleiras do provérbio se encaixaria a empresária e jornalista Costanza Pascolato?

Feitas as contas, em nenhuma. Se realmente tivesse algum equivalente na dimensão dos laticínios, é bem provável que Costanza fosse um iogurte – decerto um daqueles light, quase sem calorias, que repousam geladinhos nos refrigeradores de supermercados.’

Meu assistente adorou o estilo, digamos, campesino, dos autores da matéria, mas permaneceu, porém, uma singela dúvida. ‘Considerado, não me leve a mal’, interpelou-me, cuidadoso; ‘não me leve a mal, mas responda: o texto é a favor ou contra a marquesa Costanza?’

Mandei-o escrever aos, com perdão da palavra, perfiladores Mariella Lazaretti e José Ruy Gandra.’ (março de 1990)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

CARNAVAL
Eduardo Ribeiro

A imprensa pede passagem… para cair na folia, 16/1

‘As redações cariocas e também as de Brasília estão alvoroçadas. E não é por conta de nenhum novo escândalo no Alvorada ou adjacências. Quem é folião de verdade já comprou a sua fantasia e agora ensaia para novas alvoradas, na avenida.

Num meticuloso levantamento, a editora regional deste Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro, Cristina Vaz de Carvalho, fez um roteiro das atividades carnavalescas, onde os foliões são os próprios jornalistas. E a agenda está concorridíssima. E quem pensa que é só o Rio que cai na folia, engana-se. Brasília tem também desfiles, blocos e foliões, como mostra o correspondente Rodrigo Couto.

Mas comecemos pelo Rio, que abre os trabalhos de campo da imprensa carnavalesca já neste próximo sábado, 19. Neste dia será feita a apresentação do samba-enredo do bloco 2º Clichê, de Niterói, em um churrasco no Clube Fluminense de Natação e Regatas (rua Silva Jardim, Ponta d’Areia, próximo ao Mercado de Peixes), às 15 horas. Marcelo Leão, Floriano Carvalho, Sérgio Soares, Ciléa da Matta, Arthur Costa e Victor Abramo são os autores do samba Dez anos de bloco, 120 anos de imprensa – Salve Mário Dias, que tem poesia na letra e fala de orixás. Fernando Paulino (21-9452-4670) organiza o encontro.

No domingo, 20, é a vez do tradicional Imprensa que eu gamo desfilar e se você mora no Rio ou quer conhecer gente da imprensa carioca, não pode perder a oportunidade de se juntar a eles. O bloco sai às 15h do Mercadinho São José (rua das Laranjeiras, 90), horário não muito rígido, mas que não convém ignorar totalmente. O samba eleito para embalar o bloco é Na Tropa do Imprensa, ninguém pede para sair, uma sátira ao filme Tropa de Elite, na qual são citados os principais acontecimentos do ano. Feita por 12 parceiros, a composição é definida por um deles como uma colcha de retalhos. Daniel Pereira, João Cavalcanti, Cláudio Souza, Karla Rúbia, Catarina Epprecht, Carolina Bellei, Anabelly Pontes, Bruno Postiga, Renata Victal, Alberto Monteiro, Eduardo Aveiro e Marcio Mará defenderam seu samba fantasiados de camisetas e boinas pretas com caveiras segurando flores, no começo desta semana, no Teatro Odisséia.

Na segunda-feira, 21, está prevista a escolha do samba para o bloco Foliões do Baixo Irineu, do pessoal da Infoglobo, na Gafieira Estudantina (praça Tiradentes, 79). O enredo Por qué no te callas? quer mostrar que, se o rei tem o direito de mandar calar a boca, o povo tem o poder de calar quem fala besteira. Até esta 6ª feira (18/1), colegas de qualquer veículo podem inscrever suas composições – pois o concurso é aberto – pelo e-mail folioes2008@gmail.com ou por carta para a rua Irineu Marinho 35, 4º andar, aos cuidados de Frederico Soares, do Extra. O desfile está marcado para o sábado seguinte, 26, com concentração a partir das 16h, em frente à sede de O Globo, e a bateria do Império Serrano comparece mais uma vez.

Na terça-feira, 22, será feita a apresentação da camiseta do Filhos da Pauta, no bar Anistia (esquina das ruas 15 de Novembro e Andrade Neves), em Niterói, às 19 horas. Assinada por Luiz Carlos Carvalho, a camiseta pode ser reservada pelo e-mail divulgacultura@gmail.com ou no 21-9260-0910, com Renato Guima. Ao completar 22 anos, o bloco homenageia o Cordão da Bola Preta que, aos 90, passa por dificuldades, mas não abre mão da folia. O título do enredo é Dá-lhe Bola, meu bem! e o samba, uma criação coletiva, tem como um dos intérpretes Pedro Argemiro, editor do Jornal do Commercio. O bloco sai no sábado de Carnaval, dia 2/2, às 19h, na rua da Conceição, no Centro de Niterói.

Brasília

Na capital do País já é carnaval. O bloco Nós que nos amamos tanto (NQNAT) se apresenta no próximo sábado (19/1), no bar Monumental (202 Sul), a partir das 15 horas. As atrações são o Adoraroda e a Bateria Xandy Cidade. Este é o terceiro ano que o bloco desfila na Capital Federal. Mas ele é centenário, pois diz a lenda que foi criado pelos índios ava-canoeiros, habitantes ‘originales’ do Planalto Central. Os organizadores (alguns dos integrantes do coletivo que dirige o bloco) são: Tiago Pariz e Mirela D’Elia (G1), Gioconda Brasil (TV Globo), Henrique Gomes Batista, Alan Grip, Flávia Barbosa, Luiza Damé e Ilimar Franco (todos de O Globo), João Domingos e Marcelo Morais (Estadão), Alexandra Bicca (Meio & Mensagem), Luciana Vasconcelos (Radiobrás), Luiz Carlos Azedo, Alon Feuerwerker, Leandro Colon e Mariana Mainenti (todos do Correio Braziliense), Juliana Borre (Aqui DF), Roberto Matchk (TV Brasil), Jefferson Ribeiro e Larissa (Terra) e Maria Clara (Folha).

Além do NQNAT, desfilará também no dia 19/1 a Troça Carnavalesca Mista (TCM) Suvaco da Asa. A concentração será na Quadra 10 do Cruzeiro Velho, no Quiosque da Codorna, a partir das 13 horas. Pelo terceiro ano consecutivo, o Suvaco vai desfilar pelas ruas do Sudoeste, prometendo mostrar, novamente, como é o autêntico carnaval pernambucano. A folia será comandada pelo maestro Ivinho e sua orquestra de ‘importados’ diretamente da terra do frevo, por meio da parceria firmada com a Fundação de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco. O Suvaco quer também importar outra tradição pernambucana: a dos blocos de fantasias. ‘Abadá é coisa do carnaval baiano e nós queremos é ver a espontaneidade do povo na rua. Por isso, sugerimos que os foliões compareçam fantasiados’, diz Rodrigo Hilário, do Correio Braziliense, um dos diretores da folia.

Saudações aos foliões e também aos nem tanto.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

O jornalismo literário está vivo e forte. No lugar certo: os livros, 14/1

‘O XIS DA QUESTÃO – O I Salão Nacional do Jornalista Escritor foi emocionante e grandiosa demonstração de que o jornalismo literário não morreu. Ao contrário: está aí vivo, no lugar certo, em estantes de livrarias, exuberante na quantidade impressionante de bons livros-reportagem e ótimas biografias – obras jornalísticas tão inseridos na dinâmica da atualidade quanto os contundentes noticiários do dia-a-dia.

1. A vitória da guerra…

Sempre que ouço lamentos em torno daquilo que alguns consideram ‘o desaparecimento do jornalismo literário’, vem-me à lembrança um belo texto de Ramalho Ortigão, publicado creio que em 1856 em certo periódico do Porto, no qual o amigo e colega de letras de Eça de Queiroz lamentava a morte do gênero Folhetim. Fazia-o em jeito de predição: ‘A guerra expulsa o folhetim das páginas dos jornais’ escrevia ele – e peço desculpas pela ousadia das aspas em citação feita de memória, já que o livro onde li a crônica de Ramalho Ortigão não está mais comigo; ofereci-o, já lá se vão anos, à minha amiga e colega de USP Terezinha Tagé Dias Fernandes, uma das teóricas brasileiras que melhor percorre os espaços de interação entre jornalismo e literatura.

Mas voltemos aos lamentos de Ramalho Ortigão, que anunciou a morte do folhetim. Tal como Eça, Ramalho ocupava espaço e função de cronista na imprensa lusitana, na prática rebelde da crítica aos costumes, modismos e poderes conservadores do seu tempo. Nessa arte, a de cronista, foi quase tão bom quanto Eça no uso mordaz da ironia, em cruzamentos ora com o humor ora com a amargura. E ao atribuir às guerras da época a causa do encolhimento progressivo do espaço concedido pelos jornais às tramas de folhetim, o cronista reconhecia, a seu modo, que o núcleo vital do jornalismo é a narração da atualidade, não a liberdade ficcional da literatura. Por essa, e não por qualquer outra razão, a guerra expulsou dos jornais o folhetim, mas não conseguiu expulsar a crônica.

2. No curso da História

A História nos ensina que todas as razões de ser e evoluir do jornalismo estão vinculadas à atualidade, isto é, aos atos e fatos da vida real das pessoas, e às suas circunstâncias, na dimensão do presente. Depois de Gutenberg, mas ainda nos idos tempos das velhas monarquias, em que os senhores da terra, do ouro e do gosto eram também donos dos súditos, os pobres e os fracos nem pessoas eram. E nos espaços impressos de um jornalismo que se manifestava em artigos, brigavam entre si os ilustres senhores das elites – às vezes por boas e históricas causas, diga-se de passagem.

Depois, no decorrer dos anos, a experiência humana de viver expandiu fronteiras e lutas pela afirmação da dignidade humana, nos cenários político-sociais. E na sábia combinação entre avanços civilizatórios e avanços técnico-científicos, o jornalismo foi crescendo e evoluindo, tanto em importância como espaço público dos conflitos, quanto em eficácia como linguagem de relato e comentário dos acontecimentos relevantes da atualidade.

Assim, o articulismo , que reinou absoluto até meados do século XIX, teve de ceder espaço à rapidez da notícia, e ao seu poder de interferência na realidade, depois que o telégrafo viabilizou as agências noticiosas, nas quais se inventaram e universalizaram formas (estilísticas e técnicas) de informar com precisão e rapidez, superando distâncias. E o vigor político-social da notícia se tornou decisivo nas sociedades modernas, depois que a invenção quase simultânea da rotativa, da linotipo, da fotografia e da clicheria tornou possível o aumento das tiragens dos jornais em escala industrial e o desenvolvimento das linguagens gráficas.

A notícia chegava assim cada vez mais longe, e mais rapidamente, adequando-se ao ritmo vital da atualidade. Ao mesmo tempo, dialeticamente, o jornalismo impunha à atualidade o ritmo da própria notícia. E isso se dava no âmago das lutas que elaboravam os avanços civilizatórios, manifestados em formas de organização democrática aperfeiçoadas por ideários gerados nos mecanismos político-culturais.

Na criativa combinação entre os avanços democráticos e o ininterrupto surgimento de novas tecnologias de comunicação, o jornalismo aumentou e aperfeiçoou, progressivamente, a sua capacidade de responder às novas e crescentes demandas sociais por informação, debate e explicação. Assim surgiram a reportagem e a entrevista, no final do século XIX; assim se desenvolveu a reportagem em suas diversas espécies, ao longo do século XX, incluindo-se aí a grande reportagem da guerra e do pós-guerra. Sempre inserida na dinâmica da atualidade..E com espaços e liberdades para um jornalismo de autor.

3. Cada arte no seu galho…

Claro que esse processo teve fases de crise. Numa delas, quando o fascínio da televisão parecia ameaçar o futuro dos jornais, ocorreu o tal fenômeno do ‘jornalismo literário’. Grandes escritores, já consagrados, e grandes jornalistas com vocação e talento de escritores, passaram a dispor de espaços generosos, para oferecer ao público prazeres de leitura antes só acessíveis a quem podia ler livros.

O fenômeno durou poucos anos, porque logo se descobriu que o espaço da literatura está nos livros, não nos jornais. E ainda bem que assim foi. Porque o tal ‘jornalismo literário’, expulso dos jornais em plena aurora da sociedade informacional, explode hoje em livros importantes assinados por jornalistas escritores.

A verdade é simples e está aí, aos olhos de quem quiser ver: o jornalismo literário passou verdadeiramente a existir depois que saiu das limitações dos jornais e ganhou as liberdades estilísticas e espaciais do livro.

O I Salão Nacional do Jornalista Escritor foi emocionante e grandiosa demonstração de que o jornalismo literário não morreu. Ao contrário: está aí vivo, no lugar certo, em estantes de livrarias, exuberante na quantidade impressionante de bons livros-reportagem e ótimas biografias, em obras jornalísticas tão inseridos na dinâmica da atualidade quanto os contundentes noticiários do dia-a-dia.

Quanto à bobagem de se dizer que só o ‘jornalismo literário’ tem a dignidade e a arte do bom texto, é apenas isso, uma bobagem. Textos bons e ruins existem em todos os formatos e estilos. No jornalismo da cobertura e do debate dos fatos como em não poucas obras ditas literárias, que circulam por aí em formato de livro.

O jornalismo de relato e comentário do dia-a-dia é tão indispensável que até o jornalismo literário – o verdadeiro, esse que o Salão Nacional do Jornalista Escritor mostrou e debateu – precisa dele, para nele divulgar, debater e promover suas obras. E os jornalistas escritores sabem muito bem que o percurso do sucesso inclui a notícia, a resenha crítica e as entrevistas com o autor …

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A propósito, acabei de ler o belo, premiado e bem divulgado livro O Chão de Graciliano, de Audálio Dantas (texto) e Tiago Santana (fotos). Na próxima semana escreverei sobre essa obra. Sem fazer jornalismo literário. Mas tentando escrever corretamente, com a clareza e a precisão que se espera de qualquer texto jornalístico. E com a beleza que os meus limites permitirem.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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