Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

COLETIVA DO PRESIDENTE
Carlos Chaparro

Enfim, um bom momento de diálogo, 16/05/07

‘O XIS DA QUESTÃO – Entrevistas coletivas levadas a sério, em que o Presidente da República usa a mediação e a difusão jornalística para dialogar com a Nação, é uma ação de comunicação que interessa ao Governo, mas mais ainda à sociedade, tradicionalmente mal atendida, quando não fraudada, no seu direito à informação.

1. Lições do sucesso

Depois do sucesso alcançado pela entrevista coletiva de terça-feira, e se tiver aprendido a lição da experiência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sabe para que serve a Imprensa e como lidar com ela.

Graças à colaboração dos jornalistas, que fizeram perguntas expressando indagações da sociedade, e à competência das respostas, o presidente ocupou no dia seguinte, em média, quatro páginas em cada um dos grandes jornais brasileiros. Pela televisão, além da cobertura pela rede oficial, teve a entrevista transmitida ao vivo pela Band News, com audiência nada desprezível, e noticiário privilegiado em todos os telejornais do dia e da manhã seguinte. Só no Jornal Nacional, a apropriação foi de seis minutos.

Também as principais emissoras de rádio transmitiram ao vivo largos trechos da entrevista, com retransmissões locais que alcançaram a totalidade do País. Em sites e portais jornalísticos da Internet, a medição feita chegou a pelo menos 150 páginas, com a cobertura da entrevista em cima da hora e a elaboração de resumos da totalidade, e/ou comentários, depois que a entrevista terminou.

Trata-se de um fantástico aparato de difusão, gerador de dividendos políticos que o presidente Lula e o seu governo jamais alcançariam em outro formato que não o de entrevista coletiva. E isso porque, além da abrangência e da instantaneidade da difusão alcançada, a mensagem presidencial foi beneficiada pelo fato de ter sido construída e irradiada no tempo e no espaço do jornalismo, com o aval e a participação criativa de jornalistas.

Espera-se que o sucesso da entrevista coletiva sirva, também, para enterrar, sem pompas nem circunstâncias, a infeliz idéia que Franklin Martins chegou a espalhar por aí como boa, segundo a qual a prática do ‘quebra-queixo’ seria também um belo quebra-galho para a comunicação entre o presidente e os jornalistas – e convém explicar, aos que ignoram o significado do termo, que ‘quebra-queixo’ é aquela situação em que, ao passar por acaso ou propositalmente por jornalistas em eventos públicos, o presidente se vê cercado de microfones, gravadores e perguntas não raramente cretinas.

Com a propensão que o ex-metalúrgico Lula tem para a descontração verbal, o ‘quebra-queixo’ é, na verdade, uma situação de alto estímulo à proclamação presidencial de frases de efeito e de ocasião que não dignificam o Presidente da República que as diz.

2. Em causa, a democracia

Entrevistas coletivas levadas a sério, em que o Presidente da República usa a mediação e a difusão jornalística para dialogar com a Nação, é uma ação de comunicação que interessa ao Governo, mas mais ainda à sociedade, tradicionalmente mal atendida, quando não enganada, no seu direito à informação.

Vivemos sob regime democrático que, embora já solidificado em suas normas e instituições, conserva fissuras onde se escondem e fazem estragos velhos vícios da política brasileira. E por ‘velhos vícios’ da política brasileira se entenda que falo de coisas como as mil e uma ‘artes’ da corrupção; as mordomias surpreendentemente legais, mas imorais; a convivência tolerante com o peculato e as prevaricações; a frondosa árvore do empreguismo, enxertada por imaginosas variações de nepotismo; a hipocrisia dos discursos oficiais; a ignorância disfarçada por truques de oratória; o ‘direito’ dos poderosos à impunidade; a desonestidade política escondida sob falsos mantos de moralismo – e por aí vai.

A clara, honesta e acessível informação de interesse público, em políticas sérias de comunicação, poderia ser uma das mais eficazes ferramentas do aperfeiçoamento democrático pelo qual já tantos lutam. Mas, infelizmente, um dos vícios da nossa democracia ainda em construção é o de, nas esferas governamentais, se dar à comunicação uso meramente instrumental, a serviço de interesses que nada têm a ver com as demandas cívicas da Nação nem com os direitos dos cidadãos.

A primeira entrevista coletiva do segundo mandato, organizada com rigor profissional, foi demonstração viva de que não só a sociedade se beneficia com a aquisição de informações relevantes e de um melhor conhecimento das idéias e ações do seu Presidente; também o marketing do governo otimiza resultados quando o Presidente da República utiliza o jornalismo como espaço público do seu agir discursivo e se adapta às características da linguagem jornalística, respeitando-as – sem necessidade, portanto, de gastar um só tostão das imorais verbas publicitárias garantidas em orçamento.

Sob esses aspetos, o formato dado à entrevista de terça-feira passada produziu avanços importantes em relação às raras entrevistas organizadas no primeiro mandato. Avançou-se no padrão de profissionalismo e na liberdade de perguntar. Mas penso que a assessoria do Presidente, e ele próprio, devem tratar como parte importante – talvez até a mais importante – a fala introdutória, que se exige curta, no máximo dez minutos, para que não se adie nem se ofusque a intervenção jornalística das perguntas. Mas que tenha novidades e densidade, em fatos e idéias. Sem perorações propagandísticas.

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Resta dizer o seguinte: assim como é falha grave a falta de entrevistas coletivas que ponham o mais alto mandatário da República em contato direto com a população, também se exige cuidado com a tentação do excesso, que sucessos como o de terça-feira podem motivar. A entrevista coletiva é uma ferramenta de comunicação importante demais, provavelmente a mais eficaz forma de dizer. Não deve, pois, ser vulgarizada.

Entrevistas coletivas com o Presidente da República só devem acontecer quando há algo verdadeiramente importante a dizer, ou quando as demandas sociais por explicações se avolumam na discussão pública e nas pautas jornalísticas.

É o que penso.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’

LIBERDADE DE IMPRENSA
Marcelo Tavela

Dados públicos são bloqueados para a imprensa, 21/05/07

‘Informação pública, no Brasil, é algo para poucos. Esta é a percepção que fica após leitura da pesquisa ‘Mapa do Acesso – um estudo da Abraji sobre o direito de acesso a informações públicas no Brasil’, desenvolvida pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e apresentado em seu 2º Congresso Internacional, no último final de semana em São Paulo. A conclusão é estarrecedora: de 125 órgãos públicos estaduais nos três poderes questionados, somente 3,6% repassaram as informações.

‘Isso mostra que há muito pouca transparência nos órgãos consultados. A maioria absoluta se recusou a ceder as informações’, analisa Ana Estela de Sousa Pinto, que coordenou o estudo junto com Fernando Rodrigues e Katherine Funke para a Abraji. Os jornalistas organizaram um grupo de 42 voluntários em 24 estados e no Distrito Federal – os voluntários de Pará e Santa Catarina desistiram no meio da pesquisa. Eles entraram em contato com instituições requisitando dados como diárias pagas pelo Poder Executivo ou valor mensal da diária de magistrados.

Resultados

A elaboração do Mapa do Acesso foi dividia em três fases: pedido simples por telefone ou e-mail; pedido protocolado ou carta registrada, citando a Constituição; e ofício formal em nome da Abraji, sendo que a última fase ainda está em andamento. Ao final da primeira fase, 1,6% dos órgãos cederam as informações completas e 22% repassaram de forma parcial. Na segunda, 1,2% passaram os dados completos, e 6,8%, de forma parcial. No total, apenas 3,6% dos órgãos cederam completamente as informações públicas, e 22% o fizeram de forma incompleta.

Todas as instituições que cederam completamente as informações estão localizadas nas regiões Norte e Nordeste, sendo que o Amazonas foi o estado que mais dados forneceu. No Paraná e no Rio Grande do Sul, os estados participantes do Sul, nenhum dos órgãos consultados repassou qualquer informação.

Na divisão por órgãos, os mais inacessíveis são gabinete dos governadores, que forneceram somente 8,3% dos dados solicitados, e o Poder Judiciário, com 12,5%. As instituições que mais repassaram informações foram as secretarias de justiça, com 58,3% das informações cedidas, mesmo que parcialmente.

A insistência teve influência relevante nos resultados da pesquisa: 52% das repartições de secretaria de justiça e 40% das secretarias de segurança pública forneceram informações após novos telefonemas.

Razões

Entre os motivos relacionados pelas assessorias dos órgãos para não repassarem informações, em 52,33% dos casos em que não houve acesso às informações integrais a razão não foi explicitada. Em 19,77% das instituições, os dados estavam indisponíveis ou cedê-los provocaria prejuízos ao trabalho cotidiano do órgão. Em 11,63% dos casos a pauta foi questionada. Para 5,81% dos órgãos, as informações são estratégicas. Entre os que citaram legislação restritiva estão 4,65%. E somente um órgão alegou problemas técnicos.

‘Não há uma legislação clara que obrigue as instituições publicadas a cederem os dados, e esta é uma das lutas da Abraji. O Mapa do Acesso é um diagnóstico de como isto é necessário. Mas há algo que também tem que ficar claro para os jornalistas: insistir dá resultados. Se a informação é importante, não desista na primeira, nem na quinta, nem na décima vez. Há caminhos para obtê-la, inclusive pela justiça’, frisa Ana Estela.

A íntegra do Mapa do Acesso – que deve se tornar um estudo anual – será divulgada em breve no site da Abraj – www.abraji.org.br. Leia mais detalhes sobre o estudo nos dois links abaixo.’

CASO BARBON
Marcelo Tavela

Caso Barbon é transferido para São Carlos, 18/05/07

‘O inquérito sobre o assassinato do jornalista Luiz Carlos Barbon Filho foi transferidos na quinta-feira (17/05) para a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) na seccional da Polícia Civil de São Carlos, município distante 40 kms de Porto Ferreira. A transferência foi feita com o apoio da polícia de Porto Ferreira e teria como objetivo isolar a investigação de interferência política.

‘Não tenho as informações, mas, é possível que funcionários públicos e autoridades sejam investigados. A transferência do caso para São Carlos foi feita para facilitar isso’, afirma o advogado Ricardo Ramos, que representa a viúva de Barbon, Kátia Rosa Camargo. Ramos disse ainda, em entrevista a rádio Porto, que alguns dos nomes citados por Kátia em depoimento motivaram o encaminhamento do inquérito para São Carlos.

Os oficiais da DIG devem colher novos depoimentos, além do que já foi feito pela polícia de Porto Ferreira. O delegado responsável pelo caso em São Carlos, Gilberto de Aquino, não pôde ser localizado.

Viúva fora da cidade

Após a missa de sétimo dia de Barbon, no domingo (13/05), Kátia deixou a cidade com seus dois filhos e só comunicou seu paradeiro ao advogado. Ela estava sob proteção policial, mas continuava se sentindo ameaçada.

Luiz Carlos Barbon Filho foi assassinado na noite de sábado (05/05) em um bar próximo à rodoviária de Porto Ferreira. Em 2004, uma reportagem sua sobre um esquema de aliciamento de menores envolvendo vereadores foi indicada ao Prêmio Esso. A indicação foi contestada posteriormente. Barbon era muito popular em Porto Ferreira por não medir palavras ao criticar autoridades, mas também era acusado de cobrar para não achincalhar pessoas em seus textos.’

JORNALISMO ESPORTIVO
Marianna Senderowicz

Jornalista do Zero Hora é proibido de entrevistar jogadores do Internacional, 18/05/07

‘Uma suposta declaração do goleiro Clemer, do Internacional, culminou com a proibição de um repórter do jornal Zero Hora de entrevistar qualquer jogador do clube. A confusão começou nesta quinta-feira (17/5), quando o goleiro teria reclamado de ter sido deixado na reserva.

Em entrevista ao repórter Leandro Behs, publicada na edição desta sexta-feira (18/5) da Zero Hora, o goleiro teria atribuído sua perda de posição ao vice-presidente de futebol do Inter, Giovanni Luigi. No entanto, hoje pela manhã a informação foi desmentida perante colegas e imprensa, o que teria causado desconforto entre o jornalista e a direção do clube. ‘Fui informado de que estava proibido de entrevistar qualquer jogador do Inter, e exigiram uma retratação de minha parte. Só que eu sei que aquilo foi dito e não vou fazer retratação alguma’, afirmou o jornalista ao Comunique-se.

Behs, que não gravou as declarações de Clemer porque costuma usar somente bloco nas entrevistas, chegou a procurar o jogador hoje, mas afirma que foi acusado de mentiroso e ofendido verbalmente. ‘Falei para ele que o que tinha acontecido de fato estava na minha consciência e na dele, e ele sequer me olhou nos olhos’, declara o repórter. Mesmo impedido de falar com os jogadores, Behs passou a manhã toda no treino do time como de costume.

Procurado pelo Comunique-se, o assessor de imprensa do Inter, José Evaristo Villalobos (Nobrinho), confirmou a proibição sobre a concessão de entrevistas a Behs, ‘pelo menos por enquanto’. Entretanto, o jornalista, que afirma ter recebido todo o apoio de colegas e da direção da Zero Hora, garante que seguirá fazendo seu trabalho normalmente. ‘Não sei o que vai acontecer na próxima semana, mas continuarei a freqüentar os treinos todos os dias.’’

Tiago Cordeiro

Record oferece R$ 500 milhões pelo Brasileirão, 18/05/07

‘Conforme o Comunique-se informou, o Clube dos 13 e a Rede Record se reuniram na terça-feira (15/05) para discutir os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2009 a 2012. Embora a emissora não informe os valores oficiais, a Folha de S. Paulo divulgou esta semana que a proposta seria de R$500 milhões, R$200 milhões acima do que a TV Globo paga atualmente.

Nos bastidores da rede de Emir Macedo, o fato do Clube dos 13 ter recebido representantes da Record já é visto como ‘um bom sinal’ para as negociações. Embora o jornalista Daniel Castro tenha informado em sua coluna ‘Outro Canal’ esta semana que a emissora tenha um plano B para dividir a transmissão com a Globo, a informação oficial é de que ‘a Record está interessada na exclusividade e qualquer possibilidade além disso, não é previsível’.

Nenhum profissional da emissora procurado pela reportagem soube confirmar ou desmentir a hipótese da Record pagar menos pelos direitos de transmissão e a possibilidade de exibir um jogo alternativo, às quintas-feiras. O Comunique-se procurou o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, para comentar o assunto, mas, em viagem à Brasília, ele não atendeu nenhum dos telefonemas.

Fórmula 1

Além do futebol, a emissora também tem interesse oficial na transmissão da Fórmula 1. Porém, ainda não houve nenhuma reunião ou contato com a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), que detém os direitos.

Na Record, o comentário é que a interrupção da transmissão da corrida para a cobertura da vinda do Papa ‘desagradou’ a Federação Internacional de Automobilismo, o que abriria espaço para uma possível negociação.’

Marcelo Russio

Carregando nas tintas, como tem que ser, 15/05/07

‘Olá, amigos. A vitória de Felipe Massa no GP da Espanha de Fórmula 1 nos deu a chance de, atráves da internet, perceber uma faceta interessante do jornalismo esportivo: a necessidade de ressaltar o fato de acordo com o seu público leitor. Acompanhando os noticiários esportivos do mundo, pude ver as diversas facetas que um mesmo evento tem para diversos meios de comunicação.

Os jornais brasileiros ressaltaram a vitória do piloto brasileiro na casa do bicampeão mundial, Fernando Alonso, e a sua supremacia sobre o companheiro de equipe, Kimi Raikkonen.

Os jornais espanhóis lamentavam a terceira posição do piloto da casa, e condenavam a manobra de Massa ao defender a liderança na primeira curva do circuito.

Os jornais ingleses vibravam com a corrida de Lewis Hamilton, e também com a surpreendente primeira posição no Mundial de Pilotos.

Os jornais italianos vibravam com a vitória da Ferrari nos domínios do atual campeão mundial, e o que isso poderia representar para a escuderia. Falou-se, claro, de Massa, mas muito mais da Ferrari.

Todos estavam absolutamente corretos, mas nenhum falou da corrida com os olhos isentos do jornalismo puro e simples. O que, de certa forma, foi muito bom para quem leu.

Esse panorama mostra o quanto o jornalismo esportivo é cercado pela paixão e pelo aspecto emocional. Se algum jornal destes países decidisse fazer uma crônica fria, sem carregar nas tintas da euforia ou da frustração, certamente perderia leitores, ou não lhes daria o tempero que deveria dar.

Algumas vezes, aqui mesmo nesta coluna, fui enfático ao defender a isenção do jornalismo, e hoje faço, reflito e volto atrás. Jornalismo esportivo não pode ficar de mal com a emoção e com a paixão. Sem elas, nós nos tornamos simplesmente escribas, descrevendo uma coisa apaixonante de forma distante e mecânica. Isso, definitivamente, não é o que sentimos, pois, tenho certeza, abraçamos essa profissão por um motivo maior do que qualquer outro: o amor pelo esporte e pelas emoções que ele proporciona não só a quem trabalha nele como também a quem o acompanha, fanaticamente ou não.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

MERCADO EDITORIAL
Milton Coelho da Graça

Imaginem Murdoch dirigindo o Dow Jones, 18/05/07

‘Nosso jornal Valor publicou nesta terça-feira, 15/5, primeiro caderno, página 11, uma matéria (http://newsclip.comunique-se.com.br/NewsAltera.asp?Editoria=301&Noticia=36504) dos repórteres Peter Millard e Brian Baskin, da agência Dow Jones, baseada numa entrevista (dois dias antes) ao jornal venezuelano Panorama de Rafael Ramirez, ministro de Energia e Petróleo no governo Chávez.

Como velho repórter curioso, fui atrás da entrevista original, cujo texto completo pode ser encontrado no site Aporea (http://www.aporrea.org/energia/n94795.html), mas que, como velho copy-desk, traduzi e reduzi os trechos (http://newsclip.comunique-se.com.br/NewsInsere.asp?Editoria=301) diretamente relacionados à matéria em Valor.

Apesar de ser também um velho articulista, não vou dar opinião. Convido vocês a ler os dois textos e imaginar como poderá ser o futuro da Dow Jones, se a agência e o Wall Street Journal passarem ao controle de Rupert Murdoch, em busca de credibilidade para seu império internacional de informação.

Leiam e façam vocês os comentários.

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

INTERNET
Bruno Rodrigues

Alguns segredos do baú online, 17/05/07

‘Desde o momento em que comecei a trabalhar com internet, aprendi uma regra básica: se quiser ter sucesso nesta área, divida com os outros o que sabe.

É o velho raciocínio, mais que comprovado, do ‘dividir para multiplicar’. Quem não age assim, está fora – quantos já vi ficarem na poeira do tempo…

Seja em palestras ou cursos, em empresas ou apenas respondendo e-mails, sempre fiz questão de passar adiante o que sei. É a simples idéia de fazer a roda girar, e movimentando o mercado você caminha junto.

A área de Comunicação sempre foi protecionista com o que sabe. Como a teoria é desprezada e a experiência, endeusada, valha-me Deus. Quem sabe muito, pouco divide, e ainda assim abre o baú a conta-gotas. Pobres recém-formados e estagiários – sobre estes, então, nem se fala.

Foi no cruzamento com a área de Informática que percebi que não era assim em todo mercado. Um analista de sistemas que não troque figurinhas com seus colegas está morto. É no constante ping-pong do dia-a-dia que os profissionais crescem.

Mas chega de papo, e vamos à ação.

Abaixo, há uma lista de livros, sites e listas de discussão que fazem parte da minha rotina. Para quem se acha ‘zerado’ nos assuntos internet, jornalismo online, arquitetura da informação e tudo o que parece sânscrito, é a hora de perder o medo.

E não se esqueça: passe a lista adiante!

— SITES

Sobre Webwriting

– Bruno Rodrigues [o colunista que vos escreve] (colunas ‘Webwriting’) na ‘Webinsider’, na revista impressa ‘Webdesign’, e no site ‘Comunique-se’ (coluna ‘Conteúdo n@ Rede’).

– Crawford Kilian (blog do autor de ‘Writing for the Web’) – crofsblogs.typepad.com.

– Amy Gahran (blog da defensora da Persuasão no Webwriting)

– blog.contentious.com.

– Nick Usborne (‘promessa’ da área de Webwriting)

– Jonathan Price (‘mestre’ das regras no Webwriting)

Sobre Jornalismo Online

– ‘Jornalistas da Web’ – o principal do Brasil.

– Instituto Poynter (site sobre Jornalismo em Geral e Pesquisas na área, incluindo Jornalismo Online).

Sobre Arquitetura da Informação

– Peter Morville (site do autor que é referência em Arquitetura da Informação e co-autor do livro ‘Information Architecture for the World Wide Web’) – semanticstudios.com.

– Guilhermo Reis (o maior especialista no país sobre o assunto)

Sobre Usabilidade

– Fred Amstel (site de um dos maiores especialistas brasileiros no assunto) – www.usabilidoido.com.br.

– Jakob Nielsen (site do ‘papa’ da Usabilidade) – www.useit.com.

Sobre intranet

– ‘IntranetPortal’ – do ‘guru’ da área, Ricardo Saldanha.

– ‘Intranet Journal’ – um dos principais sites sobre o assunto na web.

Sobre Gestão do Conhecimento

– www.sbgc.org.br – site da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento, com vários artigos essenciais.

– www.informal.com.br – site de uma das principais empresas do país em GC.

– www.terraforum.com.br – site do principal profissional do país em Gestão do Conhecimento, respeitadíssimo no exterior, José Cláudio Terra.

Sites que contêm e/ou divulgam pesquisas sobre a web

– www.pewinternet.org

– www.forrester.com/rb/research

– www.jupiterresearch.com

– www.poynter.org

— LIVROS

Sobre Webwriting

– ‘Webwriting – Redação & Informação para a Web’, de Bruno Rodrigues [eu, de novo], da editora Brasport.

– ‘Writing for the Web’, de Crawford Kilian, da editora Self-Counsel.

Sobre Jornalismo Online

– ‘Jornalismo na internet’, de J.B. Pinho, da editora Summus.

– ‘Jornalismo Digital’, de Pollyana Ferrari, da editora Senac SP.

Sobre Arquitetura da Informação

– ‘Information Architecture for the World Wide Web’, de Louis Rosenfeld e Peter Morville, da editora O’Reilly.

– ‘Ambient Findability: What We Find Changes Who We Become’, de Peter Morville, da editora O’Reilly.

– ‘Ergodesign e Arquitetura de Informação – Trabalhando com o usuário’, de Luiz Agner, da editora Quartet.

Sobre Usabilidade

– ‘Design para a Internet: projetando a experiência perfeita’, de Felipe Memória, da editora Campus/Elsevier.

– ‘Projetando Websites com Usabilidade’ e ‘Projetando Websites’, ambos de Jakob Nielsen, da editora Campus.

Sobre Gestão de Conteúdo

– ‘Gestão de Conteúdo’, de Eduardo Lapa, da editora Brasport.

Sobre Construção de Sites

– ‘Como Gerenciar Sites Web de Sucesso’, de Ashley Friedlein, da editora Campus.

Sobre Marketing Online

– ‘Web Marketing e Comunicação Digital’, de Paulo Kendzerski.

— LISTAS

Sobre Webwriting e Jornalismo Online

– Jornalistas da Web.

Sobre Arquitetura da Informação

– Arquitetura da Informação em Português.

Sobre intranets

– WI Intranet.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’


Comunique-se

Estudo revela aumento da censura digital, 18/05/07

‘Mais de dez anos depois da popularização da internet, os usuários estão conhecendo um aspecto obscuro e bem conhecido em outras mídias: a censura. De acordo com pesquisa da OpenNet Initiative, 26 de 41 países de várias partes do mundo bloqueiam ou filtram conteúdo no meio digital. O estudo foi divulgado nesta quinta-feira (17/05) e a OpenNet é uma aliança universitária composta por universidades como Cambridge, Oxford, Harvard e Toronto.

‘O filtro e a vigilância pela internet podem prejudicar gravemente as liberdades civis e a privacidade e asfixiar as comunicações globais’, explicou John Palfrey, diretor-executivo do Centro Berkman da internet e professor de Direito na Universidade de Harvard (EUA). Ele ressaltou que a pesquisa confirma o aumento da censura na internet nos últimos anos.

Inibição

Entre os principais motivos para a censura estão: política (inibindo informações sobre grupos de oposição), normas sociais (especialmente Arábia Saudita e Iêmen) e segurança nacional (com o bloqueio de grupos considerados radicais ou separatistas). Um número cada vez maior de países bloqueia ou filtra essas informações.

Entre os países do estudo, Birmânia, China, Irã, Paquistão e Coréia do Sul são os que mais bloqueiam notícias com a justificativa de segurança nacional. A Coréia do Sul quase não pratica censura, exceto quando o assunto é o seu vizinho, Coréia do Norte. A Birmânia, assim como Síria, Tunísia e Vietnã, pratica constantemente a filtragem de notícias relacionadas a política.

Sem censura

Curiosamente, países que se envolveram com notícias sobre censura nos últimos anos não tiveram nenhum registro de filtros ou bloqueios na internet. Venezuela, Nepal, Malásia, Zimbábue, Israel, Afeganistão e Egito, assim como a Cisjordânia e Gaza foram considerados países livres de censura na web. (*) Com informações da Agência Efe.’

COLÔMBIA
Comunique-se

Uribe pede que jornalistas revelem fontes, 17/05/07

‘Quase 35 anos após o Watergate, mais uma vez grampos telefônicos provocam atritos entre um governante e a imprensa. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pediu na terça-feira (15/05) que jornalistas da revista Semana revelem quem os repassou gravações ilegais de conversas entre funcionários do governo, oposicionistas e líderes paramilitares presos. O caso já derrubou a cúpula da polícia colombiana e ameaça o vice-presidente e o ministro da Defesa.

‘Os jornalistas que receberam as gravações dizem que não vão revelar suas fontes, e isso dificulta. Seria muito importante que dissessem ao país e aos advogados quem foi que fez os grampos e qual a razão de fazer isso. Estou em total desacordo com a máxima de que o jornalista não deve entregar a sua fonte, mas não entro nesse debate por respeito ao jornalismo’, disse Uribe à rádio Caracol.

Segundo a Semana, os policiais gravaram 8 mil horas sem ter autorização da Justiça e sem o consentimento dos chefes. O diretor da revista, Alejandro Santos, afirmou que ‘jamais vamos revelar ao governo quem são nossas fontes. A única coisa que posso dizer, para não cometer uma injustiça, é que não foi o general [Óscar] Naranjo [novo chefe da polícia nomeado por Uribe]’.

Em família

A questão dos grampos surge ligada a um caso maior. Um dos paramilitares presos, Salvatore Mancuso, acusou o vice-presidente, Francisco Santos, e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, de se relacionarem com o grupo de extrema-direita Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Mancuso foi líder da AUC e disse que os dois Santos – que são primos – articularam a criação de uma célula do grupo em Bogotá.

Francisco Santos, que foi jornalista, disse que se encontrou com Mancuso somente como repórter. Já Juan Manuel disse que manteve conversações com a AUC para delinear um processo de paz. O ministro da Defesa é tio do diretor da Semana, e foi quem revelou que nos grampos havia uma conversa entre o líder oposicionista Carlos Gaviria e uma jornalista.

(*) Com informações da agência Ansa.’

RACISMO & JORNALISMO
Maurício Pestana

Tem negros na sua redação?, 17/05/07

‘Recentemente, em entrevista concedida aqui no Comunique-se a respeito da minha mais recente publicação, ‘ Revolta dos Búzios – Uma História de Igualdade no Brasil’, o brilhante jornalista José Paulo Lanyi desferiu-me uma pergunta que jamais imaginei pudesse causar tantos comentários pró e contra a presença de negros nas redações.

Respondi que, de acordo com minha experiência em todas as redações por que passei, a realidade era a quase inexistência da presença negra . Disse-lhe que atribuía isso a vários fatores, que o principal talvez fosse a falta de qualquer tipo de política de inserção de negros nas universidades e que isso não era um caso isolado no jornalismo brasileiro.

Estamos fora de qualquer posto de comando, decisão e estratégico da mídia, da política, do comércio, da indústria, enfim, da economia brasileira. Mesmo sendo quase 50% da população deste país, ocupamos hoje um percentual insignificante dos bancos escolares nas universidades . Só para citar um exemplo: pesquisa realizada recentemente na USP- Universidade de São Paulo demonstrou que apenas 1,3% dos alunos da mais importante universidade brasileira são negros.

Discutir de forma clara, objetiva, sem ranço e preconceitos a aplicação de ações afirmativas e cotas no Brasil tem sido uma tarefa difícil para ativistas que lutam por um país justo e menos desigual . É impossível entrar nessa discussão sem levar em conta aspectos históricos, políticos , econômicos, sociais e culturais do povo brasileiro . Aliado a esse estudo há de se pensar também a questão racial, sim, mas pelo prisma do principal vitimado dessa problemática : o próprio negro.

Todas as pesquisas dos mais respeitados órgãos, como IBGE, IPEA e DIEESE, apontam para a cor da pele no Brasil como um forte demarcador de posição e decisiva no ingresso , permanência e ascensão do negro no mercado de trabalho, na maioria das vezes independentemente do grau universitário deste ‘cidadão’. São dados de órgãos respeitados obtidos por técnicos, e não por militantes da causa negra . Os relatórios são quase unânimes em afirmar que sem uma política clara e objetiva de inclusão do negro não haverá a menor chance de quebrar a barreira da exclusão , preconceito e do racismo brasileiro.

Em uma sociedade como a nossa em que quase todos estão perdendo alguma coisa e apenas uma minoria domina os principais setores da economia , da política e conseqüentemente da vida nacional , o simples fato, a mais remota hipótese de que uma medida tentará reparar parte das injustiças históricas com uma minoria discriminada – e que boa parcela da população ‘ em tese ‘ ficará de fora- tem causado enorme barulho e revolta daqueles que se sentem aviltados nos seus direitos e também dos preconceituosos enrustidos , que nunca defenderam nada , mas que agora saem da toca defendendo escola fundamental pública de qualidade para os negros se prepararem melhor (sem cotas); saem também na defesa dos brancos pobres (com cotas sociais); denunciam racismo às avessas e uma série de outras baboseiras sem o menor fundamento teórico ou técnico.

Os próprios técnicos do IPEA apontam que mesmo com ensino fundamental de qualidade a comunidade negra levaria décadas para reverter a desigualdade secular em que se encontra neste país.

Raros são os jornalistas que procuram pesquisar a fundo a questão levando em consideração a histórica exclusão econômica, política e social do negro no Brasil. Mais raros ainda são aqueles que escrevem ou se dedicam a fazer um estudo profundo sobre o 14 de maio de 1888, o dia mais longo para o negro no Brasil, uma vez que ele ainda não acabou, pois, após mais de 350 anos de trabalho para a construção desta nação , fomos jogados às margens da sociedade sem qualquer reparação ou política compensatória, ou inserção na nova economia.

Raríssimos são os jornalistas como Miriam Leitão, da Rede Globo, que mesmo de forma solitária tem a coragem de dizer que o Brasil só resolverá seus problemas econômicos no dia em que encarar seus problemas raciais, pois essa questão é sim fator de desigualdade, e sem o seu enfrentamento estaremos fadados a não sair do Terceiro Mundo.

Raros também são aqueles capazes de admitir que durante toda a sua carreira poucos foram os seus colegas negros de redação não pertencentes ao ‘quadro negro’ de manutenção, como seguranças , copeiros , ascensoristas e às vezes recepcionistas.

Dentro desta linha , raros, incluem-se também os veículos de informação capacitados para um debate franco, aberto, sem conceitos já preestabelecidos, uma vez que lhes falta o mais importante: material humano que lhes garanta imparcialidade no assunto.

Porém, a ‘tradição’ da imparcialidade contemporânea da imprensa brasileira tem demonstrado em alguns casos um grande esforço em entender e abordar de forma justa essa questão.

A última tentativa quase bem-sucedida foi da revista Superinteressante, que na edição de maio (talvez por conta do 13 de maio) publicou extensa matéria sobre as cotas nas universidades brasileiras. Tentando uma imparcialidade total , a revista abre espaços para os prós e para os contras das cotas. Analisando tecnicamente a matéria podemos perceber que foram dadas 175 linhas de texto para os argumentos favoráveis às cotas e 214 linhas para os contrários às cotas . O lado positivo da matéria é a pesquisa que a revista faz na própria redação, em que constata a inexistência de negros . A Superinteressante, desde 2004, é 100% branca, ou seja, não existe um só negro na redação! Parabéns para a autocrítica! E você , já avaliou a cor da sua redação?

(*) Maurício Pestana é publicitário e cartunista. Tem trabalhos publicados no Brasil e no exterior. É editor do site www.mauriciopestana.com.br.’

IMPRENSA, 200 ANOS
Isabel Lustosa

Para comemorar os 200 anos da imprensa brasileira, por Isabel Lustosa, 16/05/07

‘O ano que vem será pródigo em comemorações.

Tomara que entre as tantas datas festejadas também sejam lembrados os 200 anos da imprensa brasileira que, dentro de quinze dias, completa 199.

Pois foi no dia 1º de junho de 1808 que um brasileiro lançou em Londres um jornal chamado ‘Correio Braziliense’. Em setembro do mesmo ano, sete meses depois da chegada de D. João no Rio, começava a ser publicada ‘A gazeta do Rio de Janeiro’. Mas essa era simples arremedo da que antes e publicava em Portugal sob os auspícios da coroa e debaixo de severa censura.

Jornalismo de verdade

‘O Correio’ sim, esse é que era jornal de verdade: informativo, crítico e analítico. Através de suas páginas, podemos acompanhar os acontecimentos mais importantes da Europa e do resto do mundo: os acordos políticos internacionais; as campanhas napoleônicas; a guerra em Portugal; as revoluções nas colônias espanholas;l a disputa dos americanos com os ingleses pelo comércio marítimo; o preço dos principais produtos da balança comercial;l os livros mais recentes; as novidades da ciência, etc. O jornal trazia notícias de varais partes do Brasil:o novo serviço de correios entre o Ceará e o Maranhão; o lançamento de uma linha de barcos a vapor na Bahia; a abertura de estradas no Mato Grosso;l a criação de uma biblioteca pública na Bahia; os melhoramentos urbanísticos feitos no Rio de Janeiro, etc. E tudo comentado de maneira inteligente e objetiva pelo jornalista Hipólito da Costa.

O Brasil que não foi

Hipólito queria que o Brasil passasse a ser a sede da coroa portuguesa. Ele achava que D. João, tornando-se o único monarca americano e reinando sobre tão vasto império, ganhava mais força diante dos governos europeus, do que se ficasse em Lisboa. No Rio de Janeiro, longe dos cascudos dos franceses e da arrogância dos ingleses, a monarquia portuguesa era uma instituição forte o bastante para garantir a integridade territorial do Brasil impedindo que ele se fragmentasse tal como acontecia então com o império espanhol nas Américas. Mas Hipólito não queria que se repetissem no Brasil os erros da administração portuguesa. Ele queria instituições novas: liberdade de imprensa; o fim dos monopólios comerciais; a abolição da escravatura; a transparência das contas públicas; escolas; indústrias; estradas etc.

Um brasileiro que nasceu no Uruguai

Durante 13 anos – de 1808 a 1822, as duas datas fundadoras do Brasil como estado político – um brasileiro que nasceu no Uruguai formou as mentes da geração que fez a Independência. Pois Hipólito da Costa nasceu na Colônia de Sacramento, hoje pertencente ao Uruguai, em 1773. De lá, sua família partiu quando ele tinha três anos de idade para se estabelecer em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Com 17 anos, foi para Coimbra estudar e nunca mais voltou ao Brasil. Em 1798, já formado, seguiu para os EUA em missão especial do governo Português e lá se demorou dois anos. O diário que deixou dessa viagem é um documento fabuloso. Voltou da América do Norte convertido à Maçonaria e foi por isso preso pela inquisição portuguesa, em 1802. Com a ajuda dos pedreiros livres, fugiu da prisão e do obscuro Portugal, em 1805, para a liberal Inglaterra onde viveu até sua morte, em setembro de 1823.

Tinha 49 anos. Seu amigo, o duque de Sussex, mandou gravar na pedra de seu túmulo um epitáfio onde diz o que Hipólito, através dos seus numerosos e importantes escritos, difundira:

‘Entre os habitantes daquele imenso Império, o gosto pelos conhecimentos úteis, a inclinação pelas artes que embelezam a vida e o amor pela liberdade constitucional, fundada na obediência às leis e nos princípios de mútua benevolência e boa vontade. Um amigo que conheceu e admirou suas virtudes, assim as recorda, para o culto da posterioridade’.

Nossos comerciais

Aproveita para fazer um comercial: a edição fac-similar do ‘Correio Braziliense’, em 30 volumes, foi lançada em 2001 e 2003 pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, sendo seus editores Alberto Dines e Isabel Lustosa. É uma coleção belíssima, em ótimo papel e o tratamento gráfico que lhe foi dado tornou-a totalmente legível. Do terceiro ao 29 volume incluímos notas com um pequeno resumo. O último volume reúne textos de autores contemporâneos sobre Hipólito e o ‘Correio’, além da bibliografia e da listagem de documentação mais completa e atualizada sobre esses dois temas, organizados pela bibliotecária Maria Helena Vignoli.

(*) Formada em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutora em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). – Texto do blog Ancelmo.com’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Os olhos da cobra, 17/05/07

‘Arrancarei teu

coração porque

o amor é porco

(José Nêumanne Pinto in Os dez mandamentos da barbárie)

Os olhos da cobra

O apresentador do telejornal da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo no Vale do Paraíba, anunciou uma exposição de cobras em São José dos Campos e detalhou:

‘Tem cascavel, jararaca, coral falsa…’.

Estranhei a característica desse fleumático e dócil ofídio, até então chamado de ‘falsa coral’, porém Janistraquis me desasnou:

‘Lamento dizer, mas o considerado está por fora do assunto; pesquisas internacionais já revelaram a coral não apenas falsa, mas também a fingida, a perversa, a hipócrita e mais uma, ainda sem nome, que tem os olhos da ministra Dilma Roussef.’

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Vamos acabar presos!

Mensagem que apareceu na caixa de entrada do outlook:

Prezado usuário,

Houve uma denuncia contra o seu profille alegando usar dados ilegais e sua conta será banida em 72h por motivos de irregularidade.

Você está utilizando dados não autorizados. Para que sua conta não seja excluida do sistema, Clique aqui e siga as instruções no SAC ou se preferir acesse sua conta no Google Accounts para maiores informaçoes.

Atenção: Seu prazo para regularização é de 72h.

Todavia, como o colunista não é e nunca foi usuário do Orkut, Janistraquis se viu obrigado a vaticinar:

‘Considerado, são tantas as ameaças contra nós, vindas das mais variadas fontes, que vamos acabar presos; ainda bem que, como a TV mostrou, poderemos manter na cadeia o celular, objetos variados e até mesmo facas e espetos para churrascadas…’

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Deonísio da Silva

Nosso mestre Deonísio da Silva, professor e escritor de escol, acaba de assumir a Vice-Reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Estácio de Sá.

A nova função coincide com a avaliação trienal da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação), quando são atribuídos novos conceitos para os cursos.

Deonísio não vai deixar a Coordenação Geral do Curso de Letras, que já exercia, pois a Estácio ampliou o quadro de auxiliares.

Leia no Blogstraquis mais informações sobre a promoção do mestre.

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Bebê armado

Saiu em todos os jornais do mundo e foi assunto nas televisões, rádios e conversas por aí afora a notícia segundo a qual um zeloso pai americano, do estado de Illinois, deu ao filho de onze meses um porte de arma, conseguido legalmente, com foto e ‘assinatura’, para uma espingarda calibre 12 presenteada pelo avô. Janistraquis ficou horrorizado:

‘Considerado, esses americanos são mesmo uns irresponsáveis! Como é possível dar uma arma de tal potência, mais o porte, a uma criança que engatinha e ainda não fala?!?!?!’

A indignação do meu secretário justifica-se, pois ele só admite posse e porte de arma a partir de um ano de idade. Menos, nem pensar.

(Segundo a BBC Brasil, as leis de porte de arma em Illinois estão entre as mais rígidas dos Estados Unidos; a polícia estadual informou que, no caso de Bubba [apelido do bebê], apenas seguiu o que manda a legislação.)

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Silogismo

Dizem que o mundo está cada vez mais quente; Cunha é um município cada vez mais gelado; logo, Cunha não é deste mundo.

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Refresco pra bandido

O considerado Kléber Maurício de Morais, professor no Rio de Janeiro, protesta contra a decisão do ministro Paulo Gallotti, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), o qual determinou a volta à paisagem carioca de 12 (uma dúzia!) dos piores bandidos que cumpriam pena no presídio de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná.

É o fim da picada, considerado, o fim da picada! Diz o meritíssimo que a Lei de Execuções Penais manda confinar perigosíssimos marginais, facínoras da pior espécie, em presídios próximos às casas dos parentes. Ora, isso é um absurdo; que história é essa de que bandido condenado tem parente?!?!?!

É verdade, Morais; em tese, Janistraquis acha que condenados por crimes hediondos não deveriam ter parentes, aderentes e nem mesmo amigos; bandido é bandido e só merece refresco num país de m… como o nosso. Vai ver se nos Estados Unidos é assim! Aliás, por que a imprensa não dá os nomes dos zelosos bastiões homiziados na Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro? É só pra gente conhecer o pessoal…

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Zé Nêumanne

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema de José Nêumanne Pinto, cujo excerto é a epígrafe desta coluna.

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Exagero

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre o delírio oficial enxerga-se o presidente Lula a contar dólares para comprar a parte paraguaia da Itaipu Binacional, pois Roldão leu o Correio Braziliense de ponta a ponta, como sempre, então encostou o jornal e escreveu:

Segundo dados do Vaticano, publicados na página 12 da edição de domingo, dia 13, há mais de 1 bilhão de católicos na América Latina. Trata-se de exagero causado pela euforia da visita do papa ao Brasil. A população total dos países latino-americanos está em torno da metade desse número. Incluindo os EUA e Canadá, a América inteira não chega a um bilhão de habitantes.

Janistraquis acha que a observação do nosso diretor tem origem herética:

‘Considerado, nosso Roldão precisa levar em conta o seguinte: se eles já multiplicaram os peixes, não custa muito multiplicar os fiéis…’

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Santidades

O considerado Sérgio Pavarini, competente jornalista paulistano, tomou dois sustos na semana de tantas e santas paparicações:

Esta é a melhor; a agenda do papa foi apertada mas ele reservou um tempinho para encontrar-se… com ele mesmo, segundo o redator do Terra.

Ao vivo: Papa altera agenda e recebe Papa

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Já a Igreja Prestiberiana (sic) Renovada está planejando sair da fábrica em que instalou seu templo e construir ainda este ano sua primeira igreja propriamente dita em Aparecida.

Verifique trecho de reportagem publicada no UOL.

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Pole position

O considerado Mário Lúcio Marinho envia historinha que circula na internet com a velocidade de um carro de F-1:

No evento de premiação do automobilismo ‘Capacete de Ouro’, realizado em São Paulo, o ex-piloto Nelson Piquet foi homenageado juntamente com sua família. Piquet subiu ao palco com os filhos, inclusive com o caçula Pedrinho, de apenas 5 anos de idade.

Quando foi perguntado se o papai Piquet falava palavrão em casa, Pedrinho deu uma de Joãozinho e respondeu:

‘Meu pai fala palavrão em casa só quando está vendo televisão e aparece o presidente Lula’.

O auditório inteiro desabou na maior gargalhada.

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Ausência da presença

O considerado Luiz Egypto recebeu de Paulo José Cunha, que recebeu do designer gráfico Andreas Valentim, e espalhou internet afora esta frase pinçada em matéria na Crítica on line sobre a lei seca em Parintins:

DOS ONZE VEREADORES PRESENTES NA SESSÃO, TRÊS ESTAVAM AUSENTES.

Janistraquis fez as contas, ó Egypto, e concluiu que, neste bizarro país, é normalíssimo haver três e até mais ausentes entre os presentes:

‘Considerado, é que no Brasil o quilo costuma ter 800 gramas e o litro, uns 900 ml; logo…’

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Saudade de Callado

Escreveu Carlos Heitor Cony, no fecho de sua coluna sobre os dez anos da morte de Antonio Callado:

‘Se o Brasil tivesse uns cem Callados, certamente seria um país bem melhor, digno da esperança que ele cultivou durante toda a sua vida, até às vésperas de sua morte.’

Janistraquis acha que meia-dúzia de Callados já quebraria muitíssimo bem o nosso galho.

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Nota dez

Breve história dos melhores momentos de uma velha paixão, a máquina de escrever que o computador matou. O craque Sérgio Augusto escreve com o talento de sempre o ensaio que alguns acharão um pouco longo, todavia perfeito como tudo o que germina em sua instruída lavra. Abriga-se no Blogstraquis o texto originalmente publicado no Caderno 2 do Estadão.

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Errei, sim!

‘TUDO PRA FORA – Das páginas do jornal O Globo Janistraquis pinçou um cálido exemplo de que, algumas vezes, é possível ao redator criar certas obscenidades numa reportagem ao estabelecer cumplicidade explícita entre o título e a legenda da foto. As artes do ‘maldito’, anunciava o título; ‘Sérgio Ricardo: ‘a mostra é a minha chance de botar tudo para fora’, revelava a legenda. ‘Ora, se uma das artes do maldito é botar tudo pra fora’, avaliou Janistraquis, ‘a platéia será brindada com aquilo roxo e mais alguma coisa…’. É verdade; abram o olho, fãs de Sérgio Ricardo!’ (maio de 1991)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).’

TELEVISÃO
Eduardo Ribeiro

TV O Dia Online estréia nesta quinta-feira, 16/05/07

‘Nesta 5ª.feira (17/5), às 16h, salvo mudanças de última hora, o site do jornal O Dia inaugura sua TV Online. O governador do Rio, Sérgio Cabral, participa de uma entrevista que marca a primeira transmissão ao vivo. Já estão no ar reportagens gravadas, que podem ser acessadas no http://odia.terra.com.br .

A informação é da correspondente deste Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro, Cristina Vaz de Carvalho, que preparou a nota e logo em seguida viajou para São Paulo, onde participa, como auditora de conteúdo, do 10º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, que está abrindo os trabalhos nesta quarta-feira, com uma conferência de Nizan Guanaes, sobre ‘A importância da comunicação na formação de líderes’.

Na nota que preparou e que está na edição impressa deste J&Cia, Cristina destaca que o estúdio da nova tevê está instalado na redação do jornal – no mesmo prédio em que funciona a Rádio FM O Dia – e a programação tem equipe em parceria com a empresa de multimídia DB4, além do reforço de repórteres do site e do jornal. A emissora aposta na interatividade com o espectador, que poderá fazer perguntas aos entrevistados, em vídeo-chats que ocorrem duas vezes por semana.

Respondem pela tevê o diretor Editorial Eucimar de Oliveira; Alexandre Freeland, editor-chefe; Henrique Freitas, editor-executivo; a repórter Carolina Nunes como apresentadora e Daniela Calcia (vinda da Agência O Dia), na Produção; Kléber de Oliveira é o câmera e editor, com Cristiano Nascimento Pirralho como assistente. A DB4, com Diogo Boni à frente e o apoio de Raphael Ziggy, responde pela parte de tecnologia e estrutura de transmissão.

Até aqui, nos pilotos, a DB4 usou tecnologia flash, que não aceita transmissões ao vivo. A partir de agora, passam a usar windows media, permitindo também o formato full screen. Porém, para ter simultaneidade com o chat das entrevistas, a exibição foi unificada no formato de telinha. Assim, o internauta pode optar por ter o chat correndo junto com o vídeo, ou o vídeo isoladamente na tela cheia do computador.

Com mais de 3 milhões de page views e 108 mil visitantes únicos por dia, o site de O Dia é o segundo mais acessado entre os leitores de jornais cariocas e o quarto jornal mais acessado do País. E esta é a primeira tevê, com programação própria, em site de jornal no Brasil.

Editora Três entra com pedido de Recuperação Judicial

Na tarde desta 3ª.feira (15/5) a Editora Três anunciou ter entrado com pedido na Lei de Recuperação Judicial e agora terá um prazo da ordem de 60 dias para apresentar à Justiça seu plano de recuperação. Este será depois submetido a uma assembléia de credores e só a partir de sua aprovação é que a empresa poderá se valer dos benefícios da legislação que foi criada em substituição à antiga Lei de Falências e Concordatas. Até lá, estará protegida contra pedidos de falência e outras medidas que possam comprometer sua sobrevivência. Aprovado o plano de recuperação, a Justiça deverá nomear um interventor para atuar na administração da empresa, como já ocorreu em casos como Varig, Parmalat e Eucatex, entre outros.

Dos profissionais que deixaram as redações em São Paulo, J&Cia conseguiu confirmar alguns nomes:

Da IstoÉ, editoria de Comportamento, saíram Kátia Mello e Chico Silva; de Cultura, Luiz Chagas; da Fotografia, Élcio Nagamine; da Coordenação de Produção, Magali Giglio.

Na Dinheiro, as baixas foram o editor de Negócios Dárcio Oliveira, a repórter de Estilo Ana Paula Greghi, o assistente de Arte José Márcio de Aguiar, os fotógrafos Humberto Franco e Ana Paula Paiva e o produtor da Fotografia Douglas Cometti.

Da Motor Show saiu o editor-chefe Luiz Bartolomai, o Bartô.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

Antonio Brasil

TV Pública brasileira: canal ‘fome’ zero, 15/05/07

‘Alguém deveria dizer a verdade. Estamos embarcando em mais uma furada. Na semana em que a televisão americana anuncia a pior primavera de toda a sua história (ver aqui) – os piores índices de audiência como o crescente afastamento do público – o governo brasileiro anuncia que vai implantar mais uma rede de televisão. Diz que é pública, mas é estatal.

A iniciativa não partiu do público. Logo é mais uma TV Radiobrás. Uma TV nos moldes da Voz do Brasil. Estamos diante de um novo projeto faraônico de marketing. Mais uma proposta de ‘diversão’ da atenção do público para os verdadeiros problemas da nação.

Governo não tem que fazer televisão. Governo tem que governar. Tem que tratar de assuntos urgentes, prioritários e muito mais importantes. Mais uma TV estatal é desperdício de dinheiro público. O nosso dinheiro. E, repito, TV pública tem que ser uma iniciativa do próprio público. Que tal consultarmos o público? Quem estaria disposto a pagar por essa rede de TV?

Segunda a Folha de São Paulo, ‘na abertura do fórum, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, disse que a futura TV pública deverá ter recursos fixos provenientes de pelo menos três fundos. Um deles seria formado por uma parcela de fundos constitucionais da área de comunicação já existentes para destinar recursos à rede pública de TV’. Em resumo, a tal rede ‘pública’ criada e administrada pelo governo será paga por nós.

É hora de lembrar a tentativa frustrada do governo paulista de colocar uma taxa extra nas contas de luz para financiar a TV Cultura. A resposta do público foi categórica: Não! Santa sabedoria popular! Governo não tem que fazer ou propor televisão. Temos outras prioridades. Procure, sim, terminar o que já começou.

Ao invés de se concentrar em resolver os problemas fundamentais do país como falta de educação, de segurança urbana, crescimento desprezível, desemprego crescente ou tentativas frustradas de eliminar a fome – alguém ainda se lembra do Fome Zero? – agora, partimos para mais uma grande aventura. Uma aventura televisiva.

Boquinhas e verbinhas

O grande problema de mais esse delírio é o seu alto custo. O próprio presidente reconhece que serão necessários muitos recursos para a implantação de uma rede de TV pública. Principalmente, uma televisão pública lançada às pressas. A previsão é que entre no ar até novembro. Será um recorde mundial! Fica aqui a pergunta: por que a pressa? Seria a mesma pressa que nos fez decidir por um sistema ‘experimental’ de TV digital japonês que não está totalmente implantado em nenhum lugar do mundo, mas que era o escolhido pelos nossos radiodifusores? Seremos novamente cobaias de mais uma aventura televisiva? Por quê?

As críticas e os críticos parecem aceitar o inaceitável que se torna inevitável. Afinal, esse projeto pode ser um delírio, mas será certamente muito lucrativo. Muitos já estão de olho em mais uma ‘boquinha’ ou, pelo menos, mais uma ‘verbinha’. Como dizia o velho Boni, somos o país dos projetos culturais com o modelo ‘me dá uma verbinha aí!’.

Insisto. TV pública deveria ser uma ‘iniciativa’ dos telespectadores, financiada, administrada e supervisionada pelo público.

Assim caminha a nossa televisão. De um lado, as TVs abertas tendo orgasmos de alegria com a implantação de um sistema ‘experimental’ de TV digital e do outro um governo que adora aparecer e quer garantir ainda mais espaço na TV. Alguém deveria dizer a verdade.

Enquanto isso, o excelente projeto de implantação de TVs comunitárias de baixo custo pela Internet do Ministério das Ciências e Tecnologia continua esquecido e engavetado. Era um projeto barato e bom demais para ser implantado.

Um projeto que certamente poderia mudar a cara desse País. Mas que certamente não interessa a quem tem ambições faraônicas e consegue sempre cometer erros ainda maiores. O futuro da TV, pública ou privada, está na Internet.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

DIPLOMA EM DEBATE
José Paulo Lanyi

Lanço aqui o jornalismo amador, 16/05/07

‘Não gosto de falar sobre obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Tendo a pensar que é inútil. É como futebol: uma torcida de cada lado e ninguém vai mudar de time. Mas calar é omissão. Primeiro, porque esse tema deve ser tratado por aqueles que abraçaram o meu ofício; segundo, porque não se deve ficar quieto ante aquilo que se considera injusto; terceiro, porque, como no futebol, as crianças- ou os iniciantes- poderão, sim, deixar-se convencer, se não pela imagem da vitória, pelos argumentos que se fazem vitoriosos, à luz da razão ou da observação despretensiosa da realidade (sou daqueles que, ao ver um boi no pasto, refletirá sobre o fenômeno e concluirá tratar-se -o outro ser- de… um boi no pasto); quarto, porque cada vez que leio um artigo do Maurício Tuffani acerca do assunto em questão me pego a dizer para mim mesmo:

– O Tuffani é que está certo. Você, Zé Paulo, é um folgado que não gosta de bater na mesma tecla, ainda que essa tecla seja importante, ainda que esse debate venha a mudar a vida de tantas pessoas.

Vamos lá, então. Escrevi algumas vezes sobre esse (ai, ai…) imbróglio da obrigatoriedade do diploma. Quem leu sabe qual é o meu reles pensamento. Eis a síntese:

1- Jornalismo é uma atividade intelectual que não exige formação acadêmica específica. Vocês se lembram do boi no pasto? Pois bem: a natureza tem lá a sua lógica. É a mesma que faz os cangurus saltarem e os colibris voarem. Podemos ser estritos e dizer que, assim como os cangurus nascem cangurus e os colibris nascem colibris, os jornalistas nascem jornalistas. Um canguru não deixará de ser canguru por não ter sido marcado pelo ferro em brasa. E um canguru nunca poderá ser um jornalista, ainda que carimbado a ferro e a fogo. Apesar disso, conheço cangurus que se dizem jornalistas – e, mais interessante, são tidos como tais. Muitos conseguiram a tatuagem à custa de pesadas prestações, ao longo de, digamos, quatro anos;

1a) Jornalismo é uma atividade intelectual que exige vocação. Os que não têm podem até ser, mas não se sentem jornalistas. Logo- eis o paradoxo- não o são. Jornalista, artista, filósofo… Não se deveria pedir carteirinha a essa gente…

2- Note-se que não me refiro a ‘profissionais’. Não falei de jornalista profissional, artista profissional ou filósofo profissional. Aliás, é de se perguntar por que uma entidade de classe deveria se autodenominar ‘Sindicato dos Jornalistas Profissionais…’. Ora, os sindicatos e a Fenaj soem dizer que ou o sujeito é jornalista ou não é. E que todo jornalista é, necessariamente, profissional. Então por que ‘jornalistas profissionais’? Isso não é pleonasmo. É ato falho. É o suficiente para reconhecer a existência de ‘jornalistas não-profissionais’ (ou seja, que não se enquadram na lei que o sindicato defende; poderiam, talvez, ser filiados a outro sindicato) ou de jornalistas amadores (aqueles que não se filiam a lugar algum, mas que, ainda assim, são jornalistas). Eis uma confusão rotineira: pensar que uma lei pode fazer de alguém um jornalista ou um colibri. Representatividade é importante e necessário; luta pelos direitos dos colibris e dos cangurus é importante e necessário, tanto quanto brigar por melhorias nas condições de trabalho dos jornalistas (ainda que não tenham cursado uma faculdade ou, diversamente, que tenham sido carimbados pelo capataz do latifúndio). Mais importante, contudo, é começar do início, é discriminar ao largo dos preconceitos. Afinal: aquilo é um colibri ou é uma onça pintada? É um canguru ou uma jararaca? Um jornalista, pergunto eu aos leitores, é ou não é um jornalista, ainda que sem diploma? A Fenaj e os sindicatos que lhe são filiados dizem que não, pura e simplesmente. É uma intransigência que me faz lembrar de um outro animal: o burro.

3- Quando você viaja pelo mundo e dá de cara com um cachorro… O que você pensa?

a) ‘Vou falar com o dono desse ser para verificar se se trata de um bicho registrado. Ao ver o registro, poderei dizer se esse animal é, verdadeiramente, um cachorro ou não’;

b) ‘É um cachorro’.

3a) Quando você viaja pelo mundo e resolve visitar as redações dos principais veículos de comunicação de diversos países e lhe dizem, por exemplo: ‘Este é John Harrison, o editor-chefe’. O que você pensa?

a1) ‘Já que não existe, vou pedir que criem por aqui uma lei que obrigue alguém a fazer faculdade de jornalismo, para que só então eu consiga chamar esse tal de John Harrison de jornalista- desde que ele faça a faculdade, é claro (que nojo, ter apertado a mão desse falso profissional…)’;

a2) ‘Esse é o editor-chefe’.

4- Só estou escrevendo este artigo porque tenho um diploma?- logo, sou um jornalista?

4a) Só estou escrevendo este artigo porque tenho onde, como, por que e o que dizer? Escrevo porque exerço a profissão para a qual eu fui talhado?

5- Este texto será julgado pelo que contém? Ou terei que apresentar a minha carteira da Fenaj? E se eu for, vamos dizer, ‘excomungado’ por essas entidades que reputo radicais, por ser um sujeitinho incômodo? Continuarei sendo ou deixarei de ser um jornalista? Se a Fundação Cásper Líbero me restituir o dinheiro que paguei ao longo do curso, e, em troca, eu devolver-lhe o meu diploma: deixarei ou não de ser um jornalista profissional?

5a) Sou um jornalista profissional, fiz quatro anos de faculdade, mas acho pouco ser o que dizem que eu sou. Porque também aprendi nos livros, na vida e, mais especificamente, nas redações. Quero mais, então: quero ser um super-hiperjornalista (profissional ou não). Isso é despropositado? Mas quem me veio com a história de que, para ser jornalista (ou camelo, ou colibri), é preciso fazer isso ou aquilo? A lei determina? O que é a lei diante da natureza? A lei vai fazer chover? A lei será, por si própria, capaz de produzir inteligência e bom senso? Se assim for, passo a apoiá-la, contrito e, principalmente, aliviado;

5b) Fato: trabalho como jornalista desde o meu segundo ano de faculdade. O que eu fazia, então, antes de me formar, de acordo com o pensamento corrente do nosso sindicalismo? Terei sido um açougueiro na TV Metropolitana? Vendedor de couve na Líder FM? E na TV Bandeirantes? Taxista ou dançarino de boate?

6- Sugiro que leiam dois artigos recentes do Tuffani: Sindicalistas desqualificam jornalista assassinado e O Assassinato, o Jornalismo e o Mito da Caverna;

7- Se uma exigência é absurda, deveremos observá-la, tão-somente por nos parecer rigorosa? Um rigor sempre poderá nos defender dos aventureiros? Mas, pensemos juntos, não haverá, porventura, um outro rigor? Um que seja justo, razoável e calcado na natureza dos homens? Um que reconheça a caninidade de um cachorro? Um que saiba distinguir um grasnar de um latido?

Sou um jornalista, não há dúvida, pois um só ente será necessário para me dizer se sou o que sou e se não sou o que não sou, dentro da perspectiva de que um braço é um braço e de que uma perna é uma perna. Amador ou profissional? Se alguém contrata e alguém trabalha, tem-se uma relação profissional. Do contrário, não. Do ponto de vista da organização das relações trabalhistas (incluindo, por exemplo, as medidas fiscalizatórias), a lei é que determina se alguém é profissional ou não. A legislação corrente, no Brasil, é mal-nascida, irrealista e profundamente injusta. Mude-se a lei.

Quanto a mim, tanto faz que me chamem de amador ou profissional, desde que eu continue a ser o que sou. Se trabalhar de graça, serei um amador; se receber, serei um profissional. Se, ainda, trabalhar por um salário e eu mesmo quiser me chamar de amador, é o que farei, caprichosamente. Isso sempre independerá de um diploma. O meu, aliás, está à disposição de quem queira cassá-lo. Terei mais dor de cabeça dali em diante, é verdade. Mas isso é inerente à minha vocação e à de todos os que nasceram para fazer o que precisa ser feito, com honra, conhecimento e responsabilidade.

(*) Jornalista, escritor, crítico, dramaturgo, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Foi professor do curso de Jornalismo da Unisa e da Universidade Guarulhos. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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