Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

LEI DE COMUNICAÇÃO
Marcelo Tavela

Lei geral de comunicação será próxima missão de Franklin Martins como ministro, 11/10

‘Com a publicação da MP da TV Brasil, Franklin Martins termina a primeira etapa de sua missão inicial como ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom). Por mais que ainda haja muito trabalho com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), já é certo que a próxima tarefa de Franklin será fomentar a criação de uma lei geral de comunicação.

´Vocês estão mais bem informados do que eu. Isso é típico assunto do Congresso Nacional´, desconversou o ministro, para depois emendar: ´O País precisa de um novo marco regulatório em comunicação. As leis atuais são da década de 1960, muito defasadas´.

Franklin participou na quinta-feira (11/10) de coletiva no Palácio do Planalto sobre a EBC, junto a Tereza Cruvinel e Orlando Senna, respectivamente presidente e diretor geral da nova rede de comunicação. Logo de início, descartou que a TV Brasil seja um contraponto à grande mídia, como foi dito nos últimos dias.

´Não existe contraponto. A Constituição definiu que há três modelos de TV para o Brasil, público, privado e estatal. Temos uma TV comercial altamente bem sucedida e legítima. Só que o governo e eu achamos que não deve ser o único´. Tereza complementou: ´O que nós não temos é uma televisão que dê conta de tarefas que não são da TV comercial´.

Conselhos

Franklin avisou que os primeiros membros do conselho curador devem ser conhecidos em 15 dias. ´As pessoas já foram consultadas, estamos esperando o OK´. E esclareceu que o conselho administrativo, que terá cinco membros indicados pelo presidente da República, foi uma exigência da lei das sociedades anônimas. ´Basicamente será composto por acionistas´.

A EBC terá entre suas formas de financiamento a prestação de serviços para órgãos públicos, mas que isso será bem separado. ´As ações do governo continuam na NBr. Há uma pergunta que ainda não foi feita. Acompanharemos as ações do governo? Sim, como jornalistas´, disse Tereza, que antes da coletiva fez comentários sobre estar ´do outro lado do balcão´. Também foi adiantado que a TV Brasil deverá ser distribuída internacionalmente pelo Canal Integración.

O ministro comentou outra forma de financiamento prevista na MP, a doação. ´Não temos essa cultura no Brasil, mas eu quis deixar essa porta aberta. Espero ser agradavelmente surpreendido. Quem sabe as doações não começam pelos jornalistas?´.

MP

Franklin voltou a dizer que a TV Brasil foi criada por medida provisória por ser um tema urgente e relevante, duas prerrogativas das MPs. ´Agora o Congresso pode aprovar ou rejeitar. Minha expectativa é que ele vá aprimorar o texto´.

Tereza, ao ser questionada se sua carreira no jornalismo impresso a gabaritava para o cargo, disse que ´trabalhou por 10 anos na Globonews, tendo inclusive participado no projeto de implementação do canal´. Perguntada sobre seu salário, disse que não teria como dar a informação porque ainda não foi nomeada, mas que é menor do que nas Organizações Globo. ´Vocês sabem a diferença de remuneração entre os setores público e privado´.

Acerp

Uma questão que causa visível desconforto nos representantes da EBC é a situação dos funcionários da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), organização social (OS) que mantém a TVE. ´Nesse momento, não muda nada na Acerp. A medida que os contratos forem se encerrando, a EBC vai absorvendo as pessoas de acordo com as suas necessidades e a qualidade dos quadros´, disse Tereza.

A Acerp continuará existindo por três anos. ´Haverá uma redução de escopo, assim que os contratos forem se encerrando. Há dois tipos de funcionários na Acerp, os estatutários e os celetistas. Os estatutários são uma herança de quando a empresa ainda era pública e são uma situação complexa sem solução fácil. Os celetistas, a medida que os contratos terminarem, farão concursos e podem até ir para outras áreas, o que já foi reivindicado. Não se está garantindo o emprego de ninguém, mas também não se passará o facão´, explicou Franklin.

A respeito da pesquisa feita recentemente pela Fundação Getúlio Vargas, Tereza afirmou ser uma espécie de inventário dos funcionários. ´A partir do diagnóstico da FGV, a Acerp vai ter uma diminuição crescente do seu peso e criaremos uma solução que não seja traumática para os funcionários´, completou a presidente.’

 

BOATARIA
Comunique-se

Editor da Reuters nega que fusão com a Thomson causará demissões, 11/10

‘A fusão com a canadense Thomson Corp., prevista para se concretizar no início do ano que vem, tem gerado rumores de que o serviço em língua portuguesa da Agência Reuters seria reduzido e, como conseqüência, jornalistas seriam demitidos.

O editor para a América Latina da Reuters, Mário Andrada e Silva, disse ao Comunique-se nesta quinta-feira (11/10) que nenhuma alteração, seja editorial ou no quadro de profissionais, está prevista até porque ´nesse momento as empresas estão trabalhando completamente separadas´.

´Os órgãos reguladores da União Européia e dos Estados Unidos que analisam o processo de fusão fiscalizam para não permitir que as empresas comecem a operar juntas antes da autorização. Nem os grupos de integração chegaram à gente ainda. Não está claro de que forma e quais setores irão se fundir. Por isso, não temos nem idéia de como isso deve acontecer´, declarou Andrada afirmando ainda que a preocupação por enquanto é apenas em ´acertar a cobertura do Brasil` e ainda fazer contratações para, pelo menos, três vagas que estão em aberto.

´Houve uma reunião interna na redação nessa semana e chegamos a conversar sobre a fusão, o que é normal, pois um processo de fusão sempre gera expectativa e ansiedade muito grandes. Mas garanto que não foi dito que vai fechar ou reduzir o serviço em língua portuguesa´. Segundo Andrada, o serviço em português tem milhares de contratos com clientes que vigoram até bem depois do final do ano.

A Thomson comprou a Reuters em maio deste ano por cerca de US$ 17,2 bilhões. De acordo com comunicado divulgado na época, os princípios editoriais de cada empresa não sofrerão mudanças.’

 

PARCERIA
Bia Moraes

Paraná Educativa fecha acordo com TeleSur, 11/10

‘A emissora pública do Paraná, tevê Paraná Educativa, passará a ter parte de seu conteúdo transmitida pela rede TeleSur (Nueva Televisión del Sur), estatal da Venezuela. Matéria divulgada pela Agência Estadual de Notícias, da Secretaria de Comunicação Social do estado, informa que entrarão seis horas diárias de programação da TVE na TeleSur. Por outro lado, a Paraná Educativa também transmitirá programas da rede venezuelana.

O anúncio foi feito pelo governador Roberto Requião (PMDB) na noite da quarta-feira (03/10), durante a abertura da sessão da Câmara Venezuelana Brasileira de Indústria e Comércio do Paraná, em Curitiba. De acordo com o governador, o acordo para transmissão de programas está em fase final. ´A Paraná Educativa deixa efetivamente de ser local e a América do Sul irá nos conhecer´, disse o governador.

De acordo com o jornalista Elson Faxina, que dirige programas na TVE e está auxiliando o diretor da emissora, Marcos Batista, na implantação do intercâmbio entre as TVs paranaense e venezuelana, o acordo começa a vigorar efetivamente em dezembro. ´Vamos começar transmitindo duas horas da TeleSur e aos poucos esse tempo vai aumentar, podendo chegar até seis horas diárias de programação da rede venezuelana´, explica.

Documentários

Atualmente, a TVE apresenta esporadicamente programas da TeleSur – principalmente documentários – mas sem espaço fixo na programação. Em média, são exibidos dois programas da rede venezuelana a cada semana. A diferença, a partir da implantação do acordo atual, será a entrada de programação da Telesur na TVE em grade fixa e diária.

O foco principal da parceria, diz Faxina, é receber no Paraná noticiário sobre fatos ocorridos na América Latina, porque ´os telejornais existentes não cobrem adequadamente os temas pertinentes à região´. Ainda de acordo com o jornalista, a visão que se tem atualmente ´não é sob o ponto de vista latino-americano, e sim sob a ótica norte-americana´. Faxina diz que os noticiários e documentários da TeleSur, que serão transmitidos pela TVE, primam pela qualidade de conteúdo.

O acordo prevê que a Telesur doará, em regime de comodato, duas novas ilhas de edição para a TVE, onde serão feitas a edição e as legendas. A emissora venezuelana também deverá pagar o salário de dois jornalistas que ficarão responsáveis pelo trabalho de edição e tradução do material que virá da Telesur.

Por outro lado, quatro jornalistas serão contratados na Venezuela para fazer a tradução simultânea, no formato ´voice-over´, dos dois telejornais diários da TVE que serão transmitidos pela Telesur.

Valores latino-americanos

A matéria da Agência Estadual de Notícias informa que ´A TeleSur nasceu de uma evidente necessidade latino americana: contar com um meio que permita, a todos os habitantes desta vasta região, difundir seus próprios valores, imagens, debater idéias e transmitir seus próprios conteúdos´.

O release diz que a emissora venezuelana é constituída como sociedade multiestatal e formada por uma rede de colaboradores em todo o continente, com a missão de integrar as nações e povos latino americanos e Caribe. ´Com 24 horas de programação, a rede aponta para o conceito do chamado ideal bolivariano de integração´, explica o texto.

O acordo anunciado nesta semana amplia parceria anteriormente firmada, que já vinha acontecendo de maneira mais informal. Em 2005, ainda no mandato anterior de Requião, a TV Paraná Educativa exibiu, em caráter especial, dois programas da Telesur: o documentário ´Después de la lluvia` e o musical infantil ´Nuestra Casa Tierra´.

Apresentador

Em setembro de 2005, o jornalista Beto Almeida – na época, apresentador da TV Senado e representante da TeleSur no Brasil – foi entrevistado no programa ´Aqui Entre Nós´, da TVE. Ele falou sobre o funcionamento e a programação da rede venezuelana.

Na entrevista à TVE e a outros veículos, na época, falando sobre a Telesur, Almeida defendeu o formato de redes públicas de TV. ´A informação é um bem público. Só uma empresa pública e a comunicação nas mãos do setor público é que pode dar mais pluralidade, mais diversidade e construir melhor essa meta, desde que haja uma gestão democrática. Isso é uma condição. Se não houver uma gestão democrática, isso pode não ser uma realidade. Veja o caso brasileiro, por exemplo. (…) A TV pública bem ou mal e mesmo com a falta de recursos e sucateada, tem uma programação muito mais decente, objetiva e muito mais ligada à Constituição. A TV comercial faz tudo ao contrário. Quem é que dificulta a livre informação? Ao meu ver são os grandes grupos econômicos´, disse.

Atualmente, Beto Almeida apresenta um programa de debates ao vivo na TVE, o ´Brasil Nação´, a partir do estúdio em Curitiba, todo domingo. De acordo com Elson Faxina, que dirige o programa, Beto Almeida viaja a Curitiba semanalmente para ancorar o programa e ´não cobra nada pelo trabalho´, já que em troca exibe conteúdos da TVE na TV Cidade, emissora comunitária de Brasília que ele dirige.’

 

TELEVISÃO
Comunique-se

Processos de renovação de concessão do SBT e TV Globo estão no Poder Executivo, 11/10

‘O Ministério das Comunicações já enviou ao Poder Executivo o processo de renovação das concessões de emissoras que venceram na última semana. A renovação de outorga da TV Globo e do SBT já está nas mãos de Dilma Roussef, da Casa Civil, responsável por preparar e organizar toda a documentação para enviar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É ele quem vai enviar os processos para o Congresso Nacional.

A Record também aguarda sua renovação de concessão. A Agência Nacional de Telecomunicações ainda precisava terminar um laudo de vistoria na emissora.

O processo

A Constituição Federal, mais especificamente o Artigo 223, diz que compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão de emissão de autorização de empresa de radiodifusão. Apesar de ser prerrogativa do presidente da República, este dá competência ao Ministério para outorga e renovação.

Embora a Constituição diga que é de competência do Executivo, os efeitos dos processos só começam a ser produzidos depois de aprovação do Congresso Nacional. Até 1988, deputados e senadores não tinham envolvimento nisso. O Congresso pode não renovar a concessão – 2/5 dele devem votar contra, com votação nominal. Durante a vigência da concessão (10 anos para rádio e 15 para TV) só quem pode cassá-la é o Poder Judiciário.

O último ato para a renovação e a concessão de outorga parte do presidente do Congresso, que publica o chamado decreto legislativo. ´O serviço de radiodifusão passa pelos três poderes da República. Passa pelo Executivo, é aperfeiçoado no Congresso Nacional e só pode ser interrompido no Judiciário´, explica uma fonte no Ministério das Comunicações.

Demora

Um estudo da Consultoria Legislativa da Câmara sobre a tramitação dos processos de outorga e renovação de radiodifusão no âmbito dos Poderes Executivo e Legislativo mostrou que o tempo médio de tramitação para FMs, por exemplo, no ano passado, foi de 1704 dias no Ministério das Comunicações, na Casa Civil foi de 675 dias e 227 na Câmara dos Deputados.

O estudo foi feito pela Subcomissão Especial da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara. A subcomissão analisa propostas de aperfeiçoamento do processo de outorgas para dar mais transparência às renovações e concessões.’

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

Não à ´arquitetura da embromação´, 11/10

‘Como a Arquitetura da Informação, agora, é parte integrante do dia-a-dia de quem lida com conteúdo informativo para a web, muito se tem falado sobre o assunto, mas poucos têm acertado no alvo.

Como é uma ´ciência` nova – e posso usar o termo sem medo, já que a complexidade do assunto permite -, o nome Arquitetura da Informação é usado para ´etiquetar` tudo o que se assemelha com ferramentas para organização de dados.

É hora, então, de separar o joio do trigo:

* O que não é Arquitetura da Informação

– Mapa de site.

O mapa de um site é o tataravô da interface da A.I., mas não é A.I..

Em outras palavras, o fluxograma é um dos instrumentos gráficos com que se desenha a Arquitetura da Informação, utilizado para que a distribuição de dados possa ser bem visualizada – mas é uma ferramenta, apenas. E o fluxograma de um mapa de um site é apenas 1% de sua Arquitetura da Informação. Portanto, encare mapa como a ´amostra grátis` de um site, e somente uma das formas de visualizá-la.

– Sânscrito

Não é nada impossível aprender Arquitetura da Informação. Em A.I., todo o tempo trabalha-se com o ´modelo mental` dos usuários, a ´caixa de memórias` que organiza tudo o que já passou pela frente de cada um de nós desde que nascemos.

Em resumo: você utiliza A.I., por exemplo, para organizar a distribuição de roupas em um armário. É claro que a arquitetura de um site tem uma complexidade bem maior que a do seu armário (será?), mas a raiz é a mesma.

– Reserva de mercado

E afinal, quem faz Arquitetura da Informação? Jornalistas? Pessoal de planejamento? O atendimento? A resposta é: todos. O ideal é que todos os envolvidos na construção de um site, desde seu conceito, participem de sua A.I..

A forma de trabalho? Cada um acrescenta seu know-how específico ao raciocínio de distribuir a informação. Agora, calma: há um ponto em que os especialistas em conteúdo devem assumir o barco, pois são eles que têm experiência em nomear, organizar, indexar e tudo mais que for preciso para formatar os dados.

* O que é Arquitetura da Informação

– Definição

É a tarefa de criar, mapear e construir um site, tornando as informações claramente identificáveis e sua distribuição bem definida. Toda esta tarefa pode ser aplicada a qualquer tipo de ambiente digital, o que inclui de sites intranet a CDs-ROM, de ambientes wireless a DVDs, não limitando-se, portanto, a sites internet.

– Palavras de ordem

Como em todo processo de ´arrumação de gavetas´, há etapas a seguir até que a casa fique arrumada. A Arquitetura da Informação lida com quatro ´palavras de ordem´: Organização, Navegação, Nomeação e Busca.

A primeira, Organização, propõe estruturas de construção para um site; Navegação aponta como tornar as informações de um conjunto de páginas perfeitamente ´conectáveis´; Nomeação explica como ´etiquetar` cada conteúdo de um site; e, finalmente, Busca dá dicas de como indexar seu site para que a procura da informação seja eficaz.

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Saber o que é – e o que não é – Arquitetura da Informação não faz de ninguém um especialista no assunto, já que A.I. requer muito estudo e raciocínio apurado.

O dia-a-dia de um profissional de A.I. está muito mais para o trabalho de um bibliotecário que um expert em internet, portanto abra o olho e perceba que o caminho do conteúdo na Rede está, muitas vezes, em olhar para o passado, no que foi feito até agora, do que encarar o futuro como se dele viesse solução para tudo…

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No dia 24 deste mês, quarta-feira, inicio mais uma edição de meu curso ´Webwriting e Arquitetura da Informação` no Rio de Janeiro. Serão cinco aulas semanais, sempre à noite. Para mais informações, é só ligar para 0xx 21 21023200 e falar com Cursos de Extensão, ou enviar um e-mail para extensao@facha.edu.br. Até lá!

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ´Webwriting – Pensando o texto para mídia digital´, e de sua continuação, ´Webwriting – Redação e Informação para a web´. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ´Webwriting` do ´Dicionário de Comunicação´, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

O BISPO
Milton Coelho da Graça

Marinhos e Macedo: remember Waterloo, 11/10

‘A biografia do bispo Edir Macedo – ´O Bispo` -, cuja primeira edição de 700 mil livros estará nas livrarias nesta segunda-feira, 15/10, embora com o pecado original de ter sido escrita por dois jornalistas funcionários da Rede Record, promete acirrar a guerra entre as duas maiores emissoras de televisão aberta do país.

Edir Macedo praticamente repete acusações usualmente feitas por setores insatisfeitos com a dominação de nossos meios eletrônicos de comunicação pela família Marinho, usando a expressão ´manipulação da informação` como qualquer radical militante do PSTU.

Mas qual é mesmo o objetivo de Macedo com a aliança entre uma igreja de 8 milhões (segundo afirmação dele próprio) ou 2 milhões (como afirma o IBGE) de fiéis, com uma poderosa rede de televisão que chega a mais de dez por cento de audiência nacional no chamado ´prime time´? O livro também não explica nem sequer menciona o atual e explícito esforço de separar as duas faces do império de Macedo, em que até a sua autotitulação como ´bispo` está sendo suavemente deixada de lado para não atrapalhar na atuação empresarial.

Os Marinho devem estar fazendo contas para se certificarem de que a audiência dominante de sua rede nacional de emissoras de TV legais (5), camufladas e associadas confiáveis, mais os 2 ou 3 milhões de leitores de seus jornais no eixo Rio-São Paulo, e a audiência das rádios Globo e CBN serão suficientes para enfrentar o inimigo que promete superá-la até 2009 (segundo proclama Walter Zagari, vice-presidente comercial da Record, radiante com a conquista da transmissão exclusiva das Olimpíadas e da forte possibilidade de nova vitória na transmissão do próximo Campeonato Brasileiro de Futebol).

Os irmãos Marinho devem estar também avaliando seus tradicionais apoios políticos, porque sabem que Macedo também dispõe de uma articulação no Congresso Nacional. Através do senador (também não usa mais o título ´bispo´) Marcelo Crivella, membros da Universal se articularam com o vice-presidente da República e criaram o PR, já com mais de 40 parlamentares e um dos mais fiéis ao presidente Lula, na coligação governista de 11 partidos.

Junte-se a isso um exército internacional de 10 mil pastores e 5 mil templos, com uma capacidade dízimica considerável e naturalmente pronta a ajudar ´o maior evangelista do mundo` na cruzada antiGlobo.

Last but not the least: Roberto Marinho era um conservador mas seu tino empresarial o mantinha afastado de conexões ideológicas de direita. Recordo um pequeno episódio mas ilustrativo e esclarecedor (porque prático) desta afirmativa. Uma noite, por volta de 8 horas, ele pediu a Evandro Carlos de Andrade quem poderia escrever àquela hora um suelto (pequeno comentário opinativo, que O Globo copiara do Daily News, de Nova York, e até hoje utiliza) sobre o atentado contra o Papa, praticado semanas antes.

Luiz Garcia já se fora e não havia outro editorialista na casa. Evandro me pediu para quebrar o galho, apesar de ser uma hora braba para o editor-chefe. Liguei para o dr. Roberto e ele começou a conversa em plena ofensiva: ´Milton, o jornal está inclinando muito o noticiário sobre o atentado contra o Papa. Esse Agca Kahn é um agente comunista búlgaro mas nós só dizemos que ele é um agente terrorista de direita´. Respondi que certamente devia estar ocorrendo algum engano, porque todo o noticiário sobre o assunto vinha de agências internacionais, especialmente da Reuters, e as autoridades italianas afirmavam que Khan não parecia movido por idéias de esquerda.

Dr. Roberto preferiu ir direto ao assunto: ´Olha, Milton, a Ruth (mulher dele) é muito de direita, foi até salazarista. E ela é que está reclamando. Faz um pequeno tópico para resolver esse problema.´

E eu escrevi. Saiu tão bom que dr. Roberto pediu ao Evandro que me aproveitasse também na produção desses sueltos e foi uma ginástica para eu me esquivar dessa tarefa, além do que eu já fazia como editor-chefe.

Deu para entender? As mortes de Roberto Marinho e Evandro Carlos de Andrade, a meu ver, levaram a uma inflexão na postura editorial das Organizações Globo. Desde meados da década de 70, o mesmo apoio à

ditadura até 84 e, imediatamente após, ao regime democrático, ao conservadorismo nos costumes, às idéias liberais, ao anticomunismo, ao consenso de Washington. Mas sem militância renitente, tudo sempre submetido, na cabeça do dr. Roberto, aos interesses da própria empresa. Talvez só quem trabalhou e/ou trabalha nas Organizações sinta isso. E, provavelmente, nem todos.

Sempre é bom lembrar que Napoleão não tinha dúvida de que venceria a batalha contra as forças do general Wellington em Waterloo. Ele tinha mandado o marechal Grouchy perseguir implacavelmente a cavalaria prussiana de Blucher, impedindo-a de se juntar aos britânicos. Quando apareceram ao longe o barulho e a poeira de cavalos, os franceses começaram a comemorar. Mas não era Grouchy quem chegava, era Blucher, que tinha conseguido iludir o inimigo e chegara rapidamente ao campo de batalha. E o resultado foi o que se conhece.

Se uma batalha final pode ocorrer em 2009, um ano depois das Olimpíadas e um antes da eleição presidencial, o alinhamento político de Globo e Record pode não ser decisivo, mas certamente será muito importante. Vale a pena imaginar se militância – qualquer que seja ela – estará mais para Blucher ou para Grouchy.

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

FUTEBOL
Marcelo Russio

Complexo de perseguição, 9/10

‘Olá, amigos. Tenho visto, com incrível freqüência, personagens do mundo do futebol colocarem-se em posição de defesa/ataque contra a imprensa durante entrevistas coletivas. Não sei se por viverem cercados de ´puxa-sacos´, que aplaudem toda e qualquer frase dita por eles, ou se por realmente se acharem deuses. Treinadores, jogadores e dirigentes não conseguem mais simplesmente responder uma pergunta que não seja festiva com o mínimo de educação.

Um exemplo cristalino é o técnico Dunga, da Seleção Brasileira. O treinador, que normalmente não diz nada em suas entrevistas, não admite ser contestado ou questionado em suas decisões. Quando isso acontece, Dunga se torna agressivo e autoritário, respondendo rispidamente e de forma deselegante às perguntas feitas.

Alguns treinadores, como Leão e Evaristo de Macedo, têm nesse comportamento uma constante. Parecem sofrer de um complexo de perseguição, que não permite que vejam perguntas como perguntas. Tudo é provocação, e todos querem provocá-los. Dunga, infelizmente, parece seguir pelo mesmo caminho. O capitão do tetra pode ter até uma explicação melhor que seus pares de comportamento agressivo, por ter sido literalmente massacrado pelo país inteiro entre 1990 e 1994, como símbolo de um futebol feio e fracassado. Apenas após a Copa dos EUA, que teve o então capitão como símbolo de liderança e raça, Dunga foi exaltado.

Essa exaltação, no entanto, parece não ter tirado do jogador a sua ojeriza às cobranças e aos questionamentos, especialmente da imprensa, que ele tanto culpa por ter sido um símbolo da derrota da Copa de 1990, e dos que condenam o futebol jogado na Copa de 1994.

O fato é que Dunga precisa entender que, hoje, ocupa um cargo tão cobrado quanto o de presidente da República. Antes ele era o líder do time, mas tinha outros dez para dividir a responsabilidade. Hoje, não. É ele, sozinho, o responsável pela Seleção. Como era Parreira em 2006, e, mesmo cobrado pela derrota, jamais foi indelicado com qualquer repórter.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Vassoura à vista, 11/10

‘Descobrimos palavras e emoções.

Visitamos o fundo das almas

e a essência onde elas habitam.

(Celso Japiassu in Amar)

Vassoura à vista

Manchete das Últimas Notícias do UOL:

´El País` vê Dilma como candidata natural à sucessão de Lula

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, poderia ser a ´candidata natural` à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, na avaliação de reportagem publicada nesta segunda-feira na edição online do diário espanhol El País.

Para o jornal, Dilma, ´de origem alemã, ex-guerrilheira durante a ditadura militar dos anos 1960, presa durante três anos e vítima de torturas, poderia ser a sucessora de Lula´.

Pensei que Janistraquis fosse gemer de indignação e exalar bafos de enxofre, porém ele apenas disse:

´Pelo menos o país economizará com a aposentadoria do Aerolula, porque o transporte de pessoas como dona Dilma é uma boa vassoura de piaçava.`

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Conversa de pescador

A considerada Luciana Fleury, jornalista paulistana, leu na Folha de S. Paulo desusado texto a respeito do desaparecimento de Evandro Bonini, dono da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), sob o título Empresário some de barco no Guarujá:

(…) Ele estava acompanhado dos pescadores Antônio Carlos Batista e Neraldo Silva Souza nas imediações da praia do Perequê, perto da Ilha do Arvoredo.

´Ele pescava sempre com a gente. Acho que aconteceu alguma coisa e ele caiu no mar´, disse Batista; ´ficamos desesperados´.

A reportagem tentou entrar em contato com os pescadores que estavam no barco, mas não conseguiu encontrá-los.

Luciana ficou perplexa:

´Como a reportagem conseguiu as aspas sem tê-los encontrado? Ou foi mesmo um cochilo do editor, que esqueceu de sumir, tal e qual o empresário, com a informação de rodapé, muito comum quando o trabalho de apuração não fica completo?´

Janistraquis, que já atirou anzol até em poça d´água, desconfia de que o editor é chegado a esse esporte e se deixou influenciar por conversas de pescador.

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Celso Japiassu

Leia no Blogstraquis a íntegra de Amar, um dos belos ´poemas noturnos` desse também sertanejo de João Pessoa, como o colunista, cuja inquietude levou-o a tantas e tantas paixões.

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Perseguição

Depois da quinta denúncia, recebida com a mesma indignação de Luciano Huck quando lhe roubaram o Rolex, Janistraquis comentou:

´Considerado, como inventam coisas contra Renan, né não?!´

Verdade. Trata-se de perseguição injusta e implacável.

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Sérgio Augusto

O considerado Sérgio Augusto, melhor jornalista cultural do país, escreveu no caderno Aliás, do Estadão:

Criticaram o presidente Bush por chamar Myanmar de Burma, a nossa velha conhecida Birmânia, onde há semanas o pau voltou a comer grosso. Em seu blog na revista The Atlantic Monthly, o jornalista James Fallows saiu em defesa do presidente, que, a seu ver, teria demonstrado respeito ao oprimido povo birmanês ao desprezar o nome imposto àquele país por uma junta militar, já lá se vão 18 anos.

Então o Mestre aproveita o incidente para nos ensinar e divertir com essa confusão entre a ignorância politicamente correta e meros casos de heteronomias e transliteração; afinal, Beijing não é um rebatismo de Pequim, mas uma reanglicização mais próxima do foneticismo (ou da pronúncia) mandarim.

Visite o Blogstraquis e aprenda e divirta-se com a íntegra do texto.

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A força da TV

O considerado Carlos H. Costa, geólogo aposentado que vive em Nova Friburgo, envia exemplar historinha para que nenhum de nós se surpreenda com os pedidos dos filhos e netos no Dia das Crianças:

Duas criancinhas de oito anos conversam no quarto:

O menino pergunta para a menina:

-O que você vai pedir no DIA DAS CRIANÇAS?

– Eu vou pedir uma Barbie, e você?

– Eu vou pedir um O.B.!, responde o menino.

– O.B.?! O que é isso?!

– Nem imagino… Mas na televisão dizem que com O.B. a gente pode ir à praia todos os dias, andar de bicicleta, andar a cavalo, dançar, ir ao clube, correr, fazer um montão de coisas legais, e o melhor… SEM QUE NINGUÉM PERCEBA!!!

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Notícia revoltante

O considerado Emerson Garcia Nunes, professor paulistano, envia a matéria abaixo, extraída do jornal Agora, de São Paulo, acompanhada deste comentário bastante apropriado, diga-se:

´É tanta m…, mas tanta m… neste país de todos, que nem surpreende tanto a matéria do jornal; causa apenas revolta.`

Pais pedem na Justiça que filho seja reprovado

Os pais de um aluno da quarta série do ensino fundamental de uma escola municipal de Jundiaí (60 km de SP) foram à Justiça na semana retrasada pedir a sua reprovação. Eles alegam que o aluno recebeu um aprendizado precário e não poderia ser aprovado, como prevê o sistema de progressão continuada. A ação tramita sob segredo de Justiça.

(Leia no Blogstraquis a íntegra dessa tristeza)

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Cueiros da profissão

O considerado Márcio Beck, editor do Jornal do Commercio, do Rio, envia release que recebeu da ´Puliça Federal` com a seguinte redação:

PF prende estelionatários em Nova Iguaçu

RIO DE JANEIRO: Agentes do Núcleo de Operações da Delegacia de Polícia Federal de Nova Iguaçu, saíram à rua nesta manhã, 21/09 com 15 policiais e 06 delegados para cumprir 03 mandados de prisão e 03 de busca e apreensão expedido pelo juiz Marcelo Ferreira de Souza Granado da 6ª Vara Federal.

Foram presos em suas residências em São João de Meriti, Elcimar de Faria Nascimento, 46 e Aline Barbosa Severino, 20, acusados de fraldar benefícios do Seguro Desemprego, o terceiro acusado encontra-se foragido. Foi também apreendido farto material que comprovam as fraudes na expedição de pedido do Seguro Desemprego.

Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone, com o delegado de Polícia Federal Laior Pina Cervino pelo telefone 3759.8003.

Janistraquis está convencido, ó Márcio Beck, que redator da Polícia Federal que troca o verbo fraudar pelo inexistente fraldar ainda está nos cueiros da profissão; se fosse jornalista sênior, poderia ser processado por crime hediondo contra a língua portuguesa.

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Silvio Lancellotti

Janistraquis acompanhava o debate esportivo na televisão e me gritou de repente:

´Considerado, vem ver o Lancellotti magrinho!!!´.

Acorri e lá estava o velho amigo e companheiro de lutas a participar dum programa da ESPN Brasil; não se mostrava propriamente magrinho, porém sem dúvida perdera mais peso do que o artilheiro Obina.

Já escrevi certa vez que Lancellotti foi (é) a criatura mais talentosa das redações por onde passei, em quase meio século de janela; tem excelente texto, rege todas as óperas, é crítico de música popular e clássica, comentarista e historiador do futebol e, pasmem, conhece beisebol como pouquíssimos brasileiros, lembrança dos anos passados nos Estados Unidos.

Ainda conduz com autoridade qualquer chefia de reportagem e várias editorias; e diagrama muito bem. Criativo e respeitado chef de cuisine, como todos sabem, o hoje quase-longilíneo Silvio Lancellotti teve na arquitetura o primeiro de seus ofícios.

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Obscuridades

A considerada Beatriz Portinari, jornalista em São Paulo, envia notinha do site Na Telinha, notinha ainda do tempo da novela Paraíso Tropical:

Uma equipe do programa A Tarde é Sua, da Rede TV!, conseguiu filmar a cena em que Bebel é presa e jogada dentro do camburrão da polícia.

Portinari pinta e borda numa assessoria de imprensa, confessa pouca intimidade com o linguajar policial e inutilmente procurou no dicionário a palavra camburrão.

Janistraquis, que sempre manteve certo aconchego com tais obscuridades, tanto que serviu na PE no posto de capanga, explica com inegável autoridade:

´Camburrão nada mais é do que o velho e bom camburão, só que aquele muda de nome quando é conduzido por um policial que se destaca pela burrice ou sesquipedal ignorância.`

(A, digamos, viatura, também é conhecida por tintureiro, carinhosa, carrocinha, manduquinha e viúva-alegre.)

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Velhice é uma…

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de onde se pode escutar o convulsivo pranto de Aloisio Mercadante, arrependido por se declarar justiceiro de Renan, pois Roldão quedou-se na varanda, ao final da tarde, ponderou as questões vitais e concluiu:

Pode-se dizer que já está consagrada a expressão ´terceira idade` como eufemismo de velhice. Entretanto, no meu entendimento, deveria ser denominada de quarta idade de vez que existem a infância, a juventude, a maturidade e a velhice. Afinal, vale lembrar o ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente. Senectus morbus est.

Janistraquis, que foi coroínha relapso, prefere o dístico de Terêncio na comédia Formião, Ato I, 575: Ipsa senectus morbus est. De todo modo, com ipsa ou sem ipsa, temos esta triste verdade: a própria velhice é uma doença…

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Nota dez

Quem não leu o depoimento de Sandro Vaia nas páginas da revista piauí de setembro vai saber o que perdeu ao encontrar o texto reproduzido no Observatório da Imprensa.

Sandro passou os últimos anos naquele imensurável sufoco que é dirigir o Estadão, conseguiu se livrar da imensa trolha e agora, de volta a seu refúgio em Jundiaí, conta tudo, mas tudo meeeeeeesmo. Leia agora, aqui.

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Errei, sim!

´O MAL E A RAIZ – Titulinho da Folha da Tarde, que Janistraquis inclui desde já entre os mais cruéis do século: Surdo-mudo morre capado na Bahia. ´Nem O Dia, nem a Luta Democrática, nem Notícias Populares riu tanto da desgraça de um baiano!´, protestou meu secretário, o qual, como não ignora o leitor, é lá daquelas bandas. Ponderei que, como era notícia da FT, o surdo-mudo talvez não tivesse sido capado inteiramente, porque naquele jornal meio-tijolo já virou tijolo inteiro. Janistraquis se acalmou um pouco.` (outubro de 1990)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ´Carta a Uma Paixão Definitiva´.’

 

TV BRASIL
Eduardo Ribeiro

TV Brasil terá jornalismo forte em SP, RJ e DF, 10/10

‘Após a confirmação de duas mulheres para postos chaves da TV Brasil, Tereza Cruvinel para a Presidência da emissora e Helena Chagas para a Direção de Jornalismo, estão confirmadas as contratações de Florestan Fernandes Jr., Arnaldo César e Eduardo Castro, que vão comandar respectivamente o Jornalismo da nova emissora pública criada pelo Governo Lula em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Florestan, que deixou a Direção da TV Assembléia, de São Paulo, em maio último, tem passagens, entre outras, pela Globo, Manchete e Rede TV; por enquanto, pelo que apurou este J&Cia, ele continuará à frente do Diálogo Brasil, da TV Nacional/TVE, programa que apresenta já há vários anos, mas sua permanência no projeto ainda é incerta.

Arnaldo faz parte, há quatro meses, do Grupo Executivo de Instalação da Rádio e TV Pública. Ele era diretor de Jornalismo da Band no Rio e, antes disso, foi diretor da TV Alerj, o canal da Assembléia Legislativa do Estado. Começou no Correio da Manhã, esteve em O Globo e Jornal do Brasil, e na Rede Globo por nove anos. Passou 15 anos na Editora Abril, como chefe da sucursal da Exame e chefe de Redação da sucursal da Veja. Nos oito anos seguintes esteve no jornal O Dia, e ali foi editor-executivo e editor da coluna Informe do Dia.

Eduardo, atual assessor especial do ministro Franklin Martins, na Secretaria de Comunicação Social, e também atuando no Grupo Executivo, foi repórter, produtor, editor e âncora e diretor de Jornalismo da sucursal de Brasília da Rádio e TV Bandeirantes, e correspondente nos EUA por dois anos, onde também trabalhou no serviço brasileiro da Voz da América. Foi ainda correspondente da CNN Rádio em Español em Brasília e fez coberturas de acontecimentos marcantes, como o massacre de Eldorado dos Carajás, a invasão da casa do embaixador japonês no Peru pelo grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, os funerais do Papa João Paulo II, os ataques de 11 de setembro de 2001 a Nova York e Washington, as Copas do Mundo de 1998, na França, e de 2002, na Coréia e no Japão, e as Olimpíadas de 2004, em Atenas, além de acompanhar inúmeras viagens presidenciais, no País e fora dele.

De forma bem humorada, eles estão sendo chamados de os três mosqueteiros, que prestarão contas às duas senhoras que os chefiarão.

Em São Paulo, a TV Brasil está sendo implantada no Espaço BIC, imóvel localizado na Vila Leopoldina que abrigou por muitos anos a fábrica da BIC e que hoje também sedia, entre outros, os estúdios do fotógrafo Bob Wolfenson e a agência de propaganda Neogama. O prédio que será ocupado pela emissora tem 1.300 m2 e conta com dois amplos estúdios, um de 300 m2 e outro de 178 m2, um deles, aliás, utilizado recentemente pela Globo para o Domingão do Faustão. Além da equipe de jornalismo, também se instalará no prédio o documentarista Mário Borgneth, que deixou a equipe de Gilberto Gil, no Ministério da Cultura, para atuar na equipe de Orlando Senna (que estará sediado no Rio) no Núcleo de Novos Programas. Mário foi o responsável, ao lado de Marco Antônio Coelho, pelo Doc TV, projeto de grande repercussão, e vai cuidar da programação e do financiamento do que será produzido pelas produtoras independentes. Vale lembrar que a Medida Provisória que cria a TV Brasil prevê que a rede terá pelo menos quatro horas diárias de produção independente. Essa produção será contratada pelo sistema de commission editor, ou seja, um produtor que vai ao mercado e diz o que a tevê quer fazer; o mercado oferece roteiros e preços para atender àquela necessidade; o editor acompanha a produção para que esteja dentro do que foi proposto. É o modelo adotado pela PBS – Public Broadcasting System americana, rede pública com 360 canais.

O projeto da nova tevê pública na verdade não se limitará à tevê. Prevê também a montagem de uma rede de rádio e uma agência de notícias, ambas subordinadas à cúpula da empresa que está sendo criada.

Vale destacar que ninguém ainda foi nomeado porque a empresa não existe oficialmente. Pelo que apurou esta coluna, é possível que o presidente Lula assine a MP ainda nesta 4ª.feira (10/10), mas apenas se conseguir aprovar no Congresso a CPMF, para não correr riscos. É que o momento é de cautela, especialmente depois da derrubada, no Senado, da MP que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, de Mangabeira Unger.

Histórico – Logo depois da realização do Fórum Nacional de TVs Públicas, em maio, foi criada uma Comissão Interministerial para tratar do assunto. Em paralelo, foi criado o Grupo Executivo de Implantação da TV Pública, com cerca de 12 pessoas. É presidido por Delcimar Martins e composto pelos presidentes da Radiobrás e da TVE, pelos três agora convidados para serem diretores (Florestan, Arnaldo e Eduardo), por Borgneth, além de André Barbosa (assessor da ministra Dilma Rousseff) e do professor da USP Laurindo Lalo Leal Filho, entre outros. Este grupo executivo foi-se afunilando para resultar na equipe que se forma agora. De qualquer forma, tanto o presidente quanto o ministro Franklin Martins deram orientação expressa de que não haja demissão em massa nesse processo, que implicará a fusão das estruturas da TVE e da Radiobrás. Foi a forma de tentar tranqüilizar as respectivas equipes, que estão efetivamente preocupadas com seus empregos.

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Diário de S.Paulo lança novos suplementos para fortalecer edição dominical

O Diário de S. Paulo prepara para o próximo dia 21/10 um pacote de mudanças editoriais, que tem dois objetivos principais: fortalecer a edição de domingo e dar um passo a mais na direção da construção de um jornal mais leve e diferenciado. De uma só tacada serão três novos suplementos: uma revista e dois cadernos tablóides.

A primeira novidade é a revista Diário Dez, que vai substituir a JáTV. A revista terá formato Caras e 44 páginas, com o miolo impresso no parque gráfico do próprio jornal e a capa na Globo Cochrane. O projeto gráfico, que busca um diferencial em relação às publicações dos jornais concorrentes, é assinado pela editora de Arte Renata Maneschy, que fez a recente reforma da Revista do Globo. Não será uma revista exclusiva de televisão, mas vai girar muito em torno de celebridades (não só artistas). O conteúdo contemplará entrevistas, moda, decoração, televisão e dois novos colunistas – Ana Maria Braga e Paulo Coelho -, além de seções como consumo, moldes de roupa para fazer em casa, horóscopo, dicas de lazer para o domingo, passatempo, roteiro etc. Quem vai editar é a recém-contratada Ana Paula Alfano (ex-Capricho e com passagens por Quem, Criativa e Contigo). As repórteres serão Soraia Gama (também chegando agora ao Diário) e Renata Turbiani, que era do caderno de automóveis e agora está na revista.

O segundo suplemento chama-se Talento & Sucesso, caderno de oito páginas, full color, voltado para a carreira. O foco vai do jovem que está entrando na faculdade até o profissional na faixa dos 30, 35 anos, que quer se aperfeiçoar profissionalmente, seja com cursos, MBAs, treinamentos… O principal nome será Max Gehringer, que fará uma coluna nos moldes dos quadros que tem no Fantástico, na CBN e na coluna da Época. Haverá também uma página voltada para etiqueta e comportamento no trabalho, um ranking das profissões em alta e em baixa, sugestões de leitura nesse mundo dos negócios, a coluna Fale bem (que vai dar dicas e mostrar o quanto é importante se comunicar bem) e uma seção que ensinará o leitor a montar um currículo de forma mais adequada. O suplemento prevê ainda uma página de tecnologia aplicada ao trabalho (com links para blogs e sites úteis), um palestrante convidado (com artigo de nomes importantes de alguma empresa, que seja um exemplo de sucesso e crescimento profissional) e toda semana deve mergulhar numa determinada profissão, destrinchando suas oportunidades, dicas de cursos, média de salário etc. Uma vez por mês está prevista a edição da página Estágio por um dia, em que um universitário será levado a conhecer por dentro uma grande empresa da sua área. A editora será Nany Kimizuka, que era responsável pelo Viajar – caderno de turismo que será descontinuado e vai se transformar numa página semanal no caderno de Economia.

O terceiro e último suplemento é o Viver, também de oito páginas full color, que agora deixa de ser um caderno da família e passa a focar em beleza, boa forma e dieta, no estilo das revistas femininas de boa saúde. Esse caderno surgiu a partir da página de dieta e boa forma que circula desde abril, às segundas-feiras. A diferença é que o caderno vai aprofundar mais os assuntos e misturar também comportamento. Terá uma página de receitas light, a dieta da semana (com um nutricionista dando seus prós e contras), tabela de alimentos e calorias, a seção Spa em Casa, com dicas de exercícios, a coluna sobre cabelos Papo Cabeça, uma outra comparando as calorias de produtos como iogurtes, sopas, pães etc., uma página voltada para sexo e a seção Eu mudei, em que a cada semana um leitor contará sua experiência nessa área. O caderno vai ficar sob a responsabilidade da Jaqueline Falcão, que já edita a página diária de saúde.

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Editora Três supera momento mais difícil e ensaia recuperação

Há quatro meses operando sob o regime de Recuperação Judicial, a Editora Três parece ter superado o seu inferno astral. A empresa está com os salários em dia e fez um acordo com os demitidos para pagar parceladamente as verbas rescisórias. Também esses pagamentos estão sendo honrados, como aponta o próprio Sindicato dos Jornalistas, que acompanha as negociações. A editora ainda luta com um significativo passivo, que envolve dívidas elevadas com bancos e outros credores, por enquanto sem solução à vista. Mas está tocando em frente, motivada pela reação da publicidade, que voltou a engordar praticamente todos os títulos. Em vez de cortes, as redações já conseguem negociar com a empresa algumas contratações. O processo de sinergia implantado durante a ´cirurgia` feita por Domingo e Caco Alzugaray para recuperar a empresa foi aprimorado e, hoje, embora as equipes ocupem um espaço comum e, integradas, troquem permanentemente informações, voltaram a atuar de forma independente, ou seja, dedicam-se com exclusividade aos respectivos títulos. As exceções ficam por conta de editorias afins. Desse modo, a Economia da IstoÉ é produzida pela equipe da Dinheiro, o mesmo se dando com a seção Gente, que é produzida pela equipe da Gente.

Outra medida considerada oportuna e estratégica nesse processo de recuperação foi o reposicionamento das mensais. Menu passou a ser impressa em papel de melhor qualidade e é cada vez mais uma revista de gastronomia e menos de culinária, como acontecia até então. Planeta, reconhecida como uma publicação focada em pautas exóticas, vai progressivamente se transformando numa publicação dedicada ao meio ambiente. Motor Show e Dinheiro Rural, também com focos ajustados, estão ganhando musculatura tanto em termos de tiragem quanto de publicidade (Motor Show, por exemplo, dobrou a venda de exemplares em bancas; e a última edição de Dinheiro Rural bateu recorde comercial, superando as 30 páginas de publicidade).

IstoÉ Gente ganha novo formato – A edição da última semana da IstoÉ Gente, que teve como um de seus destaques o ranking dos 50 mais sexy do Brasil, marcou a mudança de formato da revista, que a partir de agora terá o mesmo tamanho de suas principais concorrentes, Caras e Quem – 22,5 cm x 31 cm. A edição, que registrou também os oito anos de vida da revista, viu a publicidade dobrar em relação às anteriores, levando a publicação a circular com 124 páginas. Outra novidade por lá foi a contratação da editora-executiva Cláudia Fontoura, que chega para o lugar de Eliane Trindade. Cláudia se reportará à diretora de núcleo Gisele Vitória, que além da semanal Gente supervisiona a mensal Menu, dirigida por Solange de Souza.

A festa da IstoÉ Dinheiro – No próximo dia 18/10, Dinheiro, que está completando dez anos de mercado, promove sua tradicional festa, na qual homenageará com 36 prêmios distintos as empresas que mais se destacaram em 30 diferentes setores. O evento será realizado no buffet Rosa Rosarum, em Pinheiros, com a presença de autoridades, entre elas o vice-presidente José Alencar, que estará no exercício da Presidência, com a viagem de Lula, e o presidente do Banco Central Henrique Meirelles, além de boa parte do PIB brasileiro.’

 

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Um caso em que Rolex não significa relógio, 11/10

‘O caso Huck, com todo o alarido que ele próprio conseguiu dar-lhe, serviu para reforçar e agitar o valor polissêmico da palavra ´Rolex´, usada, à exaustão, nas vozes da rua e da mídia, como símbolo de ostentação de riqueza e poder, por parte de quem faz questão disso. Com seu artigo na Folha e sua entrevista na Veja, Luciano Huck ajudou a disseminar esse discurso social do objeto Rolex.

Para tentar entender o porquê de tamanha generosidade jornalística, li e reli a entrevista de Luciano Huck nas páginas amarelas de Veja, na edição desta semana. Presenteado com o privilégio de dispor das três páginas mais lidas e disputadas da imprensa brasileira, o dono do Caldeirão nada disse de importante. Não encontrei, na entrevista, uma só frase digna de registro por sua densidade significante. Nem sob o ponto de vista do bom senso há ali algo que possa ser assinalado.

Entretanto, talvez possamos dizer: nenhuma surpresa quanto a isso. Afinal, a entrevista apenas repete o que, no geral, acontece no seu programa – um caldeirão vazio, ou quase isso, sob o ponto de vista das idéias.

Quem se relaciona com a televisão sem preconceitos sabe que um programa do tipo Caldeirão não existe para lidar com idéias. E admitir que, na função de divertir, o Caldeirão do Huck cumpre com razoável eficácia, às vezes até com boa eficácia, a performance que dele se espera.

No que se refere, porém, às páginas amarelas de Veja, a conversa tem de ser outra. Trata-se de um espaço que ganhou respeitabilidade e níveis altos de leitura graças aos critérios de notabilidade aplicados à escolha dos entrevistados, e a um mínimo de coerência nesse comportamento, ao longo do tempo.

Vez ou outra, é certo, por motivos que aos leitores jamais são revelados, os editores do pedaço trocam de critérios. Não é freqüente. Mas acontece: em vez de se aterem à notabilidade de quem deve ser entrevistado, trocam a notabilidade pela notoriedade, como se fossem variáveis equivalentes. E não são.

Notabilidade se refere ao que é notável, ilustre, insigne, eminente, digno de apreço e louvor – e isso nada tem a ver com o grau do diploma que cada um exibe, se o tiver. Conheci e conheço várias pessoas notáveis que não possuem diploma nem gravata. Mas têm conteúdo, história respeitável, saber próprio banhado em humildade. É o caso, por exemplo, de um amigo meu, de quem não devo revelar o nome, que dedica o seu tempo livre à missão assumida de combater o analfabetismo da maneira mais simples, generosa e eficaz: ensinando a ler. Sem buscar compensações e sem fazer publicidade do que faz. É uma pessoa notável, que muito teria a refletir e a ensinar, em espaços como o das páginas amarelas de Veja.

Notoriedade é a qualidade do que ou de quem é notório, conhecido, famoso, muito divulgado. Caso de Luciano Huck e de tantos outros que, por talentos de diversos tipos, não saem da mídia – até porque a mídia, perversamente, também se alimenta da notoriedade deles.

Claro que há, felizmente, muita gente notável que é igualmente famosa, conhecida do público – e vice-versa. Gente como (apenas como exemplo) o grande Ariano Suassuna, hoje o intelectual mais importante e popular do Brasil.

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Quando Notabilidade e Notoriedade se agregam na mesma pessoa, temos aí o perfil ideal para um entrevistado de Páginas Amarelas. Não é o caso de Luciano Huck, figura realmente notória, mas que pouco ou nada tem de notável. E a prova está na própria edição da entrevista. Ao colocar em destaque as frases supostamente mais importantes e contundentes ditas pelo entrevistado, eis a seleção:

– ´Se chegarmos ao nível em que se tenha de andar de carro blindado para ir à padaria, alguma coisa está errada. Resolvi não me esconder mais´.

– ´As pernas começaram a tremer e fiquei muito nervoso. Depois, veio a raiva e, por fim, o sentimento de impotência. Não acho que a polícia tenha de ir atrás do meu relógio. O que se tem de fazer é trabalhar para não deixar isso acontecer´.

– ´Quem pegar as Cartas dos leitores vai ver um monte de manés que escreveram. Garanto que já fui milhares de vezes mais que eles à periferia. No domingo, andei no Complexo do Alemão. Vou, converso com as pessoas. Vejo o que acontece no país´.

E a isso se resumiu o conteúdo de qualidade, ou de falta de qualidade da entrevista: Luciano Huck coloca-se no centro do mundo, agitando-se a si próprio como exemplo, em frases de efeito que nada querem dizer.

O que ele quer dizer, por exemplo, quando enfaticamente afirma que ´o sujeito só entra na Universidade de São Paulo se tiver muito dinheiro para pagar os melhores colégios` – se isso até é falso? Pois saiba, Luciano Huck, que alguns dos meus melhores alunos no curso de jornalismo da USP vieram de escolas públicas, mesmo sendo Jornalismo um dos cursos de mais difícil ingresso da Universidade. Claro que existe um problema no acesso ao ensino superior gratuito. Mas essas coisas não podem ser tratadas de forma simplista e à base de preconceitos.

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Depois de ler e reler a entrevista de Veja, e para compreender melhor as coisas, reli, também, o artigo-desabafo que Luciano Huck escreveu na Folha, e que tanta celeuma provocou. Descobre-se facilmente que o problema do artigo é o mesmo da entrevista: ele, no centro do mundo. Do começo ao fim.

Olhem só os dois primeiros parágrafos:

´Luciano Huck foi assassinado. Manchete do Jornal Nacional de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura´.

´Não veria meu segundo filho deixaria órgão uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio. (…)´.

E por aí vai o desabafo, costurado em torno de um ´eu` centralizador, com algumas tolices que a emoção pode até tornar desculpáveis. Mas tolices, como a de propor que tudo se resolveria com polícia: ´Onde está a polícia? Onde está a ´Elite da Tropa´? Quem sabe a ´Tropa de Elite! Chamem o comandante Nascimento´.

Logo em seguida, ele diz ter a certeza ´de que esse tipo de assalto (…) não leva mais do que trinta dias para ser resolvido´, se ´discutirmos segurança pública de verdade´.

Mas a simplificação maior está na frase várias vezes repetida: ´E tudo por causa de um relógio` – não um relógio qualquer, evidentemente, mas o relógio de Luciano Huck, um Rolex.

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Sim, o relógio roubado foi um Rolex. O que traz à baila a seguinte questão: relógio é uma coisa, Rolex, outra.

Relógio de pulso quase todos têm, inclusive eu, com meu Technos barato, mas bom cumpridor dos seus deveres. Mas possuir e exibir Rolex de verdade (porque também existem os falsos, até em pulsos famosos) é privilégio apenas de alguns, os que podem e querem.

Se Rolex fosse apenas marca de relógio, Luciano Huck teria justo direito a nutrida recompensa financeira, pelo merchandising conseguido neste episódio em que foi figura central. Nunca, na mídia jornalística, tanto se disse e escreveu o termo ´Rolex´.

O caso Huck, porém, com todo o alarido que ele próprio lhe conseguiu dar, serviu para reforçar e agitar o valor polissêmico da palavra ´Rolex´, usada, à exaustão, como símbolo de ostentação de riqueza e poder, por parte de quem faz questão disso.

Com seu artigo na Folha e sua entrevista na Veja, Luciano Huck ajudou a disseminar esse discurso social do objeto Rolex.

Teria sido preferível fazer o boletim de ocorrência na delegacia mais próxima, como se recomenda a qualquer bom cidadão, e usar o seu prestígio mediático para conseguir na Globo o tal bom debate sobre segurança pública.

Com gente entendida no assunto, naturalmente.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

MINI SUCURSAIS
Antonio Brasil

ABC News: correspondentes viram videojornalistas, 8/10

‘´Ser correspondente internacional não deveria ser prêmio ou oportunidade para passar alguns anos no exterior desfrutando de um ´televidão´. Ser correspondente internacional deveria significar uma vontade muito grande de viajar pelo mundo a qualquer custo e sempre em busca de boas pautas com pouquíssimo dinheiro no bolso, muitas idéias ou pautas na cabeça e muita coragem para enfrentar as dificuldades.` (Correspondentes internacionais – O Fim de uma Era, Antonio Brasil, 2003)

Sempre acreditei na cobertura internacional produzida por gente jovem, motivada e qualificada. E já que estamos discutindo novos formatos e propostas para o jornalismo de TV nas redes de notícias 24 horas no Brasil (ver última coluna, RecordNews no ar jogando notícia no ventilador), vamos falar sobre uma novidade de um canal de notícias.

Fim do televidão

Esta semana, a ABC News divulgou uma verdadeira revolução na cobertura internacional para TV. Segundo o noticiário, a rede americana, líder de audiência no jornalismo, resolveu lançar mini escritórios em diversas cidades do mundo como Seul na Coréia, Bombaim e Nova Délhi na Índia, Nairobi no Quênia e inclusive aqui no Rio de Janeiro. A produtora Sonia Gallego estava no Iraque e virá para o Brasil. A experiência de cobertura em Bagdá e em outras capitais em conflito deve ter pesado na sua escolha. Afinal, guerra é guerra!

Mas Sonia Gallego não é somente mais cara bonita na frente das câmeras. No novo perfil de correspondente internacional de TV, Sonia vai produzir, escrever, gravar, editar e transmitir suas matérias via Internet em banda larga de seu escritório. Ou seja, de sua residência ou diretamente via internet por satélite de qualquer ponto do país. Ao contrário de outros correspondentes de TV e de outra épocas, ela vai enfrentar grandes dificuldades, vai ter que trabalhar muito, mas por outro lado, não vai mais precisar solicitar autorização para transmitir suas matérias. Na era da internet via satélite, Sonia assim como todos os novos correspondentes da ABC, vão enviar matérias e aparecer ao vivo nos telejornais americanos sem qualquer interferência das autoridades locais. Os novíssimos computadores com videofones via internet permitem ignorar as restrições locais ou a censura de governos para transmissões ao vivo.

Tempos mudaram

Essa também é uma boa justificativa para ABC News, pela primeira vez em toda a sua longa história de cobertura internacional investir em um correspondente fixo no Brasil. Redução de custos, novas pautas e total liberdade de cobertura. Depois da quase expulsão do correspondente Larry Rohter do New York Times, Lula que se cuide!

Essa decisão da ABC é muito importante para todos que se interessam pelo jornalismo internacional de qualidade. Significa uma reversão de uma longa tendência de fechar suntuosos e caríssimos bureaus de jornalismo espalhados pelas principais capitais do mundo. Tive a oportunidade de visitar e trabalhar em alguns desses escritórios na Europa. Pareciam escritórios de multinacionais milionárias.

O fim dessa ´gastança` era previsível e inevitável. E não era à toa. A queda de audiência dos telejornais, a redução das verbas publicitárias, o alto custo da cobertura internacional e uma ´duvidosa` diminuição do interesse do público justificavam os cortes. Em muitos telejornais, o bloco internacional virou seqüência de ´lapadas´, aquelas matérias sem pé nem cabeça, sem repórteres ou explicações que aparecem voando na telinha. E as matérias dos ´correspondentes` quando não cobrem guerras ou desastres, costumam ser previsíveis e chatas.

A justificativa para o fim da cobertura internacional costuma ser igualmente simplória. Com o fim da guerra fria, sem conflitos ou desastres espetaculares, o noticiário internacional ´sério` teria se tornado quase ´supérfluo´. Teria restado somente o interesse na vida das celebridades e nas histórias mais bizarras, os fait-divers que substituem a cobertura mais ´séria´.

Na concepção dos editores, mestres do achismo e do faro jornalístico, o culpado seria… o público. Eles não acreditam ou dispõem de pesquisas sobre o tema. Criam e propagam o ´mito` de que os telespectadores não se interessam pela cobertura internacional.

Correspondentes com celulares

Ninguém ousava acusar os editores e correspondentes internacionais por um certo comodismo aliado à preguiça ou total falta de interesse em novas pautas. Afinal, correr o mundo em busca de boas matérias dá muito trabalho, pode custar caro (principalmente quando exigimos vôos em primeira classe e hotéis de luxo) também pode ser muito arriscado. O desastre da cobertura internacional de TV era previsível. Vida de correspondente internacional não deveria ser vida de diplomata. O tal ´televidão´.

A cobertura internacional dos noticiários de TV brasileira é hoje mera caricatura de outras eras. Cara, desleixada e acomodada, especializa-se em pautas previsíveis e de pouco interesse para o público. As transmissões ao vivo se tornaram raras e a justificativas para tanto desleixo são sempre as mesmas. Tudo custa caro e é difícil para quem não tem que se preocupar com…competição. Mas as coisas parecem que estão mudando (desculpe pelo gerúndio).

No futuro não muito distante, com os avanços das novas tecnologias, apesar de todas as resistências, as câmeras de vídeo se confundirão com os telefones celulares e com a internet.

Elas estarão presentes em todos os lugares a qualquer momento. Será tão ridículo para um jornalista de TV sair de casa sem a sua pequena e poderosa câmera digital com capacidade de transmissão ao vivo via internet quanto seria absurdo hoje imaginar alguém sair de casa sem seu telefone celular.

Dica do crítico

Há alguns anos, o Jornal Nacional, que tem um padrão extremamente rígido, inovou colocando no ar o trabalho do videojornalista Luis Nachbin. Ele viaja o mundo sozinho gravando suas próprias matérias. Por enquanto são apenas matérias frias, com formato quase idêntico ao das reportagens tradicionais, mas já é um começo. No futuro, jovens jornalistas brasileiros espalhados pelo mundo poderão produzir e transmitir matérias via Internet para nossos telejornais. Imagine ser correspondente freelancer trabalhando para a GloboNews, RecordNews, BandNews ou qualquer outra rede brasileira (sic) de ´News` diretamente da Nova Zelândia ou da Austrália? O noticiário globalizado não reconhece mais as fronteiras. As notícias locais se confundem com as notícias do mundo.

A cobertura internacional em TV ainda custa caro, mas rende uma boa audiência e prestígio para quem sabe fazer. Hoje, a ABC News lança um novo modelo de cobertura internacional. E já que na TV e no telejornalismo brasileiro nada se cria, tudo se copia, fica aqui mais uma dica do crítico.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ´Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica` e ´O Poder das Imagens´. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Agência Carta Maior

Veja

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