Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Conrado Corsalette e Silvio Bressan

‘PSDB e PFL vão investir em candidaturas próprias nas eleições das capitais com o objetivo de aproveitar os programas eleitorais de rádio e TV para firmarem a imagem de oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. ‘Um partido de oposição tem de aproveitar os espaços, por isso temos como prioridade as candidaturas próprias’, afirma o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). ‘A idéia é garantir esse espaço no primeiro turno e agregar no segundo turno.’

Os dois principais partidos de oposição vão estar juntos apenas nos locais em que a aliança já está no poder, como em Curitiba. Os pefelistas devem se manter ao lado do PMDB no Recife e do PP em Florianópolis. Já em São Paulo, Belo Horizonte, Rio e Porto Alegre, cada um deve ter seu candidato. ‘Não faremos campanha um contra o outro, por isso mesmo poderemos estar juntos no segundo turno’, afirma o presidente do PFL.

Em São Paulo, onde os dois partidos ensaiaram um acordo, a confirmação na quinta-feira de que o presidente tucano, José Serra, não será mesmo candidato à sucessão deflagrou o processo de disputa interna no PSDB e colocou de vez uma pedra em cima de qualquer possibilidade de aliança.

Depois que o governador Geraldo Alckmin, principal eleitor do partido, descartou a candidatura de Serra, os cinco pré-candidatos entraram de vez na campanha.

Estão no páreo os secretários Saulo Abreu (Segurança) e Gabriel Chalita (Educação), o ex-presidente do partido José Aníbal e os deputados federais Walter Feldman e Zulaiê Cobra. ‘A hipótese de Serra nos atrapalhava, porque ninguém levava nossas candidaturas a sério’, diz reservadamente um dos pré-candidatos. ‘Agora a disputa começa para valer.’

O deputado Gilberto Kassab (PFL-SP) argumenta que a candidatura própria é estratégica para os pefelistas. ‘A parceria com o PSDB é uma aliança que deu certo no governo estadual, mas o PFL é um partido que está se consolidando na capital e terá candidato próprio.’ O vice-governador Cláudio Lembo (PFL) concorda: ‘O PFL quer se consolidar e cada vez mais se identificar com São Paulo.’

Pinotti – O PFL tem dois nomes na disputa pela candidatura, o do senador Romeu Tuma e o do deputado José Aristodemo Pinotti. A escolha será feita até o fim do mês. Entre os caciques pefelistas, o preferido é Pinotti, apontado em pesquisas internas do partido como um candidato de maior potencial.

Mesmo correndo separados, tucanos e pefelistas terão um traço comum em suas campanhas: os questionamentos ao governo Lula. ‘A linha do partido será de uma oposição forte ao PT e ao governo’, afirma Bornhausen. ‘Vamos nacionalizar a campanha onde tiver rádio e TV.’ Segundo ele, as críticas devem se focar no emprego. ‘O crescimento do desemprego é um resultado administrativo ruim.’

A orientação aos candidatos começa a ser dada nos dias 1.º e 2 de março, quando o partido realiza um seminário para todos aqueles que vão concorrer em cidades onde há geradores de rádio e TV. As palestras de especialistas em marketing e estratégia política serão retransmitidas dias depois aos outros municípios onde os pefelistas vão concorrer.’

 

Olavo de Carvalho

‘A farsa do governo’, copyright O Globo, 7/02/04

‘Se algum de meus colegas de jornalismo ainda tiver a cara-de-pau de negar os fatos que mencionei no artigo anterior, não me deixará alternativa senão apelar ao tribunal dos leitores, remetendo-os ao site http://www.nodo50.org/americalibre/consejo.htm para que vejam com seus próprios olhos a obscena simbiose entre a narcoguerrilha colombiana e a farsa petista que nos governa.

O endereço é de ‘América Libre’, versão jornalística do Foro de São Paulo, fundada por (adivinhem) Frei Betto e hoje dirigida por (já adivinharam) Emir Sader.

A revista prega abertamente a guerra revolucionária, a implantação do comunismo em toda a América Latina. Seu mais recente editorial proclama: ‘O 11 de Setembro dos povos será, para a confraria da América Livre, um compromisso de honra. Será um encontro com os sonhos e com o desejo.’ Da primeira à última página, a coisa respinga sangue e ódio, de mistura com a velha retórica autodignificante que faz do genocídio comunista uma apoteose do amor à Humanidade, condenando como fascista quem quer que veja nele algo de ruim.

Na mesa do seu Conselho Editorial, quem se senta ao lado do líder das Farc, comandante Manuel Marulanda Vélez, o famigerado ‘Tiro Fijo’? Nada menos que o chefe de gabinete do sr. Lula, Gilberto Carvalho. Está lá também o deputado Greenhalg, aquele que promete eliminar a criminalidade pelo método de desarmar as vítimas, mas que jamais propôs desarmar um só terrorista, seqüestrador ou narcotraficante que lhe parecesse politicamente lindo.

Se isso não é promiscuidade, se isso não é cumplicidade por baixo do pano entre o nosso governo e o crime organizado, se isso não é uma tramóia muito suja, digam-me então o que é, porque minha imaginação tem limites.

Estão lá ainda o dr. Leonardo Boff, o compositor Chico Buarque de Hollanda, a índia guatemalteca Rigoberta Menchú (aquela que abocanhou um Prêmio Nobel por meio da mais notória fraude literária do século) e o inefável prof. Antônio Cândido, em cuja alma não se diria haver uma só gota de truculência socialista, porque afinal ele escreve naquele estilo tão polidinho, tão engomadinho, que tantos acham o cúmulo do bom gosto mas no qual não consigo ver senão o charme e a elegância de uma lombriga de sobrecasaca. Mas essas e outras estrelas-padrão do beautiful people esquerdista são apenas o adorno, a cereja do bolo cuja massa se compõe, segundo as últimas contagens, da carne de cem milhões de seres humanos. Não servem para nada, exceto para embelezar o produto aos olhos de quem seja tolo o bastante para admirá-las.

Significativa, sim, é a presença do braço direito (ou esquerdo) de Lula nessa geringonça editorial. Quem pode confiar num governo que alardeia combater o narcotráfico só porque mantém na cadeia o sr. Fernandinho Beira-Mar e respectivo advogado, ao mesmo tempo que, por intermédio de um de seus mais altos funcionários, bem como de seu mais ilustre porta-voz na Câmara Federal, apóia campanhas jornalísticas em favor dos maiores fornecedores de cocaína ao Brasil?

Menos confiável ainda, no entanto, é a mídia quando abafa a divulgação de fatos que, conhecidos do público, teriam inviabilizado a eleição de Lula em 2001 e desmascarado, no mesmo ato, seus três concorrentes de fachada, cúmplices da mais torpe mentira eleitoral de todos os tempos. Não é à toa que o jornalismo brasileiro é hoje reconhecido internacionalmente como um dos piores do mundo. Os responsáveis por esse estado de coisas alimentam-se do dinheiro dos leitores, dos anunciantes e dos acionistas, mas seria mais justo que mensalmente enviassem a conta de seus serviços ao Foro de São Paulo, que não tem os problemas de uma empresa jornalística comum porque, em caso de aperto, pode contar com as verbas ilimitadas do narcotráfico e dos seqüestros.

O que me pergunto é se esses jornalistas já transcenderam de vez a mera ética profissional, desprezando-a como superfetação burguesa e adotando em lugar dela a ética revolucionária, segundo a qual, nas palavras de Bertolt Brecht, a mentira é tão boa quanto a verdade, desde que sirva à causa do socialismo.’

 

Jornal do Brasil

‘Controles Inaceitáveis’, Editorial, copyright Jornal do Brasil, 4/02/04

‘Como qualquer cidadão, Luiz Inácio Lula da Silva tem o direito de se preocupar com a qualidade da Justiça brasileira. É lenta, cara e não parece confiável para boa parte da população, sobretudo aos olhos dos mais pobres. Não há dúvida a respeito. Os próprios magistrados aceitam o diagnóstico, dispostos a mudar tal quadro.

O problema é que Lula não é um cidadão qualquer. É o presidente da República e chefia o Poder Executivo. Ao propor abertamente a instituição de controles externos destinados a vigiar estreitamente o Judiciário, atropela o princípio da igualdade dos três Poderes, pedra basilar da democracia.

Como lembrou o ministro Maurício Corrêa, presidente do Supremo Tribunal Federal, o Judiciário seria evidentemente diminuído com a inovação de duvidosa utilidade. Por que não instituir controles iguais para o Executivo e para o Judiciário? Não haveria o risco de transformar-se o Executivo numa espécie de Grande Irmão? Os passos seguintes não alcançariam o Ministério Público ou a imprensa?

O Brasil só enterrou o regime ditatorial quando foi restaurada a igualdade entre os os três Poderes, que passaram a conviver em liberdade e harmonia. Não queremos o retorno ao passado recente. A reforma judiciária é premente e essencial para tornar a Justiça mais ágil e eficaz. Mas isso pode ser feito sob o controle de órgãos desenhados pelos próprios juízes.

No encontro com o presidente Lula, o ministro Maurício Corrêa reconheceu que a Justiça precisa de um tônico para combater o cansaço e a morosidade. O remédio, entretanto, não é o controle externo, seja ele político ou administrativo. A Justiça é lenta porque travada por códigos antiquados. O excesso de ritos e procedimentos favorece a chicana e o infrator. Se a lei é ruim, mude-se a lei. Mas isso não é trabalho para os juízes: cabe ao Congresso Nacional dar ao país as leis que vão destravar seu funcionamento. Ultrapassar essa fronteira é ingressar em território cujos limites se confundem com os dos regimes ditatoriais.’