O Sindicato dos Jornalistas do Pará ajuizou uma ação civil pública original. Seu propósito é “tutelar os interesses e direitos coletivos dos trabalhadores do Diário do Pará, em especial dos jornalistas que exercem a função de repórter fotográfico, no que tange às ordens emanadas da direção do jornal para que esses fotografem diariamente imagens de pessoas mortas, especialmente, aquelas cobertas de sangue vitimadas por homicídios ou acidentes, a fim de que tais fotos sejam expostas diariamente no caderno ‘Polícia’ do jornal Diário do Pará, visando à penetração do Diário nas camadas menos instruídas da população, principais consumidores deste tipo de material sensacionalista”.
A assessoria jurídica do sindicato alega que a conduta do jornal da família Barbalho “é extremamente lesiva aos jornalistas empregados, na medida em que os obriga a agirem de forma cruel e desrespeitosa com os familiares dos mortos, e de modo contrário ao Código de Ética dos Jornalistas, que, expressamente, prevê tal conduta, além de tornar o ambiente do trabalho psicologicamente degradante aos trabalhadores”.
Por se tratar de um interesse coletivo da categoria, a ação pede que o jornal “pare de determinar aos profissionais que filmem ou fotografem imagens macabras. A lesão que se procura afastar com o manejo da presente ação é geral e comum a todos os jornalistas repórteres fotográficos empregados no jornal”.
A ação foi bem concebida. Ela se baseou na legislação trabalhista e no código de ética dos jornalistas, ao invés de usar o código civil ou o código penal, que permitiriam mais protelações, como aconteceu em 2007. Nesse ano, algumas entidades de direitos humanos obtiveram medida judicial – contra o Diário e O Liberal e Amazônia, os dois últimos das Organizações Romulo Maiorana, para impedi-los de publicar fotos escandalosas de cadáveres. Mas os jornais continuam a desrespeitá-la, porque a ação continua pendente de recurso, sem decisão final.
Embora o Diário seja o que mais se aproveita de fotos de pessoas mortas para atrair leitores, O Liberal seguiu seus passos. Criou um caderno só de noticiais policiais e vem publicando mais fotos de “presuntos” (como os cadáveres são tratados pelos repórteres do setor), embora sem a frequência e o abuso do concorrente.
Não devia também ser incluído nessa ação?
Fogo e fumaça
Felizmente, o Diário do Pará e O Liberal deram uma cobertura decente ao incêndio de ontem [quinta, 25/6] do Pronto Socorro Municipal. Pelo menos quantitativamente, o jornal dos Maioranas deu mais destaque ao assunto: usou três páginas, contra duas do rival da família Barbalho. Mais uma vez, não protegeu o prefeito Zenaldo Coutinho, do PSDB, a quem dava tratamento privilegiado, como aos tucanos de maior influência. O alcaide não tem mais a proteção dada com toda ênfase ao seu correligionário, o governador Simão Jatene.
Quando essa parceria promíscua é desfeita, geralmente melhora o tratamento editorial da imprensa. Mas como O Liberal não costuma mudar por linha editorial, mas por interesses, seria bom saber quais deles (ou qual) move a mudança de atitude em relação a Zenaldo. Razões sonantes? Tilintar de motivos?
A pergunta procede, porque no próximo ano haverá eleição municipal e nada está garantido, exceto o desgaste da atual administração. Zenaldo diz que vai buscar a reeleição, por ser seu direito natural. Não será contestado internamente?
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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)