‘Eles só queriam dinheiro… foram supergentis… são ladrões de galinha… não adianta ficar falando nisso. É preciso que o Brasil melhore a polícia, a economia, para diminuir a pobreza e a violência.’ Foi isso, exatamente isso, que Eliane Mantega, mulher do ministro da Fazenda, declarou ao jornal Diário de S.Paulo – e O Globo reproduziu no domingo (25/2), com destaque.
Mais grave do que o crime em si – assalto a mão armada e seqüestro de três casais com seus filhos, inclusive os Mantega – é esta incrível análise feita por uma psicanalista, teoricamente bem informada, tão próxima do primeiro escalão.
Será um atenuante querer só dinheiro quando se comete um crime? O narcotráfico também não quer só dinheiro? Os bandidos que mataram o menino João Hélio não queriam só dinheiro quando roubaram o carro de sua mãe e o liquidaram barbaramente? Se o dono da chácara assaltada se recusasse a buscar dinheiro em São Paulo os bandidos continuariam ‘supergentis’?
A doutora Eliane Mantega não viu as armas, não ouviu ameaças? Ladrão de galinha rouba galinha, minha senhora, não seqüestra gente.
Abismo social
A senhora Mantega acha que todas essas histórias sobre violência são factóides, invenção da mídia para vender jornal. ‘Não gostamos desse escândalo na imprensa, é muito ruim para os nossos filhos e na verdade não aconteceu nada, ficamos todos bem.’
Por acaso estão bem os milhões de crianças que vivem aterrorizados pela violência em todo o país? Quem não pode ficar bem é o cidadão comum ao perceber a distância entre governantes e governados, entre a elite e o povão.
Num caso como este seria bom convocar Borat, o repórter do Casaquistão. Ele sabe muito bem como lidar com os politicamente corretos e moralmente insensíveis.