Os jornais sintetizaram no final de semana suas preocupações com o tema da segurança nacional que, ao lado da morte da menina Isabella Nardoni, foi a pauta mais recorrente da imprensa nos últimos dias.
O Estado de S.Paulo abordou as relações entre o Brasil e o Paraguai, que deverão passar por uma revisão a partir de exigências do presidente eleito daquele país, Fernando Lugo.
A Folha requentou uma reportagem que foi publicada há alguns meses, observando que as cidades que mais desmatam na Amazônia são também as que mais têm trabalho escravo e violência no campo.
O Globo resolveu cozinhar a recente manifestação do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno Pereira, sobre a vulnerabilidade das fronteiras amazônicas e a situação ‘caótica’ da política indigenista e aproveitou para atacar as organizações não-governamentais que atuam na região.
Dos três temas, o que promete permanecer mais tempo e ocupar mais páginas dos jornais é a questão amazônica. Não apenas por ser mais complexa, mas porque permite à imprensa definir rápida e genericamente o bem e o mal, as vítimas e os vilões.
Mau começo
O texto publicado pelo Globo no domingo (27/4) deixa claro que o jornal vai visar as ONGs – já apresentadas, na primeira reportagem, de forma depreciativa. É provável que a seqüência das investigações do jornal venha a apresentar distorções na relação entre algumas dessas entidades e órgãos públicos, mas chamar genericamente de ‘ongueiros’ os profissionais que atuam nessas organizações é uma forma grosseira de abordar o assunto.
O jornal carioca dá umas pinceladas na situação de abandono em que se encontram as populações indígenas, mas centra suas preocupações na atuação das ONGs, como se elas fossem as causadoras do problema.
Mesmo que sejam identificadas algumas organizações atuando fora dos propósitos anunciados, ou organizações-fantasmas criadas para desviar dinheiro público, não se pode afirmar, a priori, que as ONGs são o problema da Amazônia. Em muitas aldeias indígenas e povoações ribeirinhas, elas são o único recurso de saúde e educação disponíveis para os habitantes.
Da mesma forma que nas favelas das grandes cidades, ou nas regiões onde o desmatamento coincide com a violência no campo, o problema nasce da ausência do Estado, que durante décadas deixou vastas regiões do país à mercê de aventureiros.
Uma boa reportagem sobre ONGs, favelas ou desmatamento deveria começar por aí. Criminalizar as ONGs, genericamente, não é um bom começo.