As empresas de mídia nos EUA vêm passando por maus momentos. No ano passado, foram cortados mais de 2.000 empregos no setor; leitores e anunciantes migraram para a internet; os telejornais abertos foram assistidos por telespectadores mais velhos, enquanto os jovens preferiram assistir à TV a cabo. Além disso, incidentes com jornalistas diminuíram a confiança do público na grande mídia, acusada por blogueiros de ‘arrogante e incompetente’. Na bolsa de valores, as ações de algumas organizações apresentaram queda.
Diante deste panorama, é razoável se pensar que não faltariam motivos para desanimar os jovens a seguir a profissão de jornalista. Curiosamente, é o contrário que acontece nos EUA. A procura por vagas nas faculdades de jornalismo continua intensa e seus programas estão crescendo. Este mês, o número de formados será maior do que nos anos anteriores.
Em 2004, o número de alunos que começaram a cursar jornalismo em mais de 450 faculdades americanas aumentou 5,2% em relação a 2003 – sendo o 11º ano consecutivo de crescimento. Os dados foram levantados por uma equipe liderada por Lee B. Becker, professor da Faculdade de Jornalismo e Comunicação de Massa Grady, da Universidade da Geórgia, que vem pesquisando o mercado de trabalho e ingresso acadêmico por duas décadas. ‘Não há evidência ainda de que a crise da imprensa esteja afetando o ingresso dos jovens nos cursos de jornalismo’, afirma Becker, embora a pesquisa tenha revelado uma diminuição do crescimento de 2003 a 2004. ‘Os estudantes estão interessados em um sentido muito maior da mídia e do seu papel na sociedade’, diz ele.
Novas tecnologias
Os novos profissionais entrarão no mercado com conhecimento mais amplo para atuar nas mais diversas plataformas de mídia, ao contrário dos veteranos na carreira – que começaram a trabalhar usando máquinas de escrever. Não é apenas o jornalismo que sofre mudanças, mas também o seu ensino nas universidades – que passaram a incluir disciplinas relacionadas às novas tecnologias em seus currículos. A Escola de Jornalismo de Missouri – a mais antiga dos EUA – está construindo um novo instituto com uma doação de US$ 31 milhões da Fundação Donald W. Reynolds. Nele, jornalistas e cidadãos comuns poderão estudar as novas tecnologias de comunicação e as novas formas de jornalismo e publicidade.
Em Nova York, a Universidade de Jornalismo de Colúmbia inaugurou recentemente o laboratório de televisão multimídia Arledge, que custou milhões de dólares para ser construído. Também já está disponível na instituição o programa de mestrado, de um ano de duração, no qual estudantes de jornalismo podem estudar negócios ou artes. No ano que vem, será aberto um novo centro para jornalismo investigativo.
Os alunos de hoje cresceram imersos na internet e com a habilidade de se adaptar rapidamente às novas tecnologias. Eles sentem-se confortáveis com dispositivos que só agora os jornais estão descobrindo – como blogs, podcasts, videoclipes online. Richard J. Roth, reitor associado da Medill School of Journalism, da Universidade Northwestern, gosta de lembrar que Kevin Sites, que se tornou pioneiro como jornalista multimídia e correspondente internacional para o Yahoo!, é ex-aluno da escola. Na Medill, o número de alunos cresce há seis anos consecutivos.
Os estudantes de hoje se sentem, por vezes, mais à vontade com as novas tecnologias do que seus professores. ‘Tudo está mudando tão rápido que a questão não é aprender sobre um determinado software ou ferramenta. É mais sobre a atitude de trabalhar em equipe e produzir conteúdo para diferentes audiências’, explica Mike McKean, diretor da Faculdade de Jornalismo de Missouri. Ao mesmo tempo, a faculdade não deixa de enfatizar o ensino das mídias tradicionais. ‘É onde os empregos estão. Não queremos levá-los adiante demais na indústria da mídia’, afirma o reitor Brian S. Brooks, de Missouri.
Otimismo
‘Se você tiver as habilidades necessárias, há trabalho’, diz Diego Sorbara, estudante de 22 anos que em breve concluirá o curso na Escola de Jornalismo de Missouri. Sorbara já estagiou como revisor no Milwaukee Journal-Sentinel e como revisor e editor de leiaute do Rocky Mountain News. ‘Parte da natureza do jornalismo é se adaptar aos ambientes’, diz.
Michele Steele, estudante de 27 anos da Universidade de Colúmbia, concorda com Sorbara. Ela foi contratada como repórter e âncora para a seção de vídeo do sítio da revista Forbes. ‘Certamente a indústria está mudando. Mas as mudanças são positivas’, opina Michele. Informações de Katharine Q. Seelye [The New York Times, 15/5/06].